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Ordenações diaconais em Lisboa
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Bartolomeu Mota, Diogo Correia, Paolo Ciampoli, Paulo Pires e Tomaz Fernandez vão ser ordenados diáconos, este Domingo, 2 de Dezembro, no Mosteiro dos Jerónimos. Provenientes dos Seminários dos Olivais e Redemptoris Mater do Caminho Neocatecumenal, os futuros padres testemunham a procura de um sentido para a vida. 

 

Diogo Correia tem 42 anos. Vem da paróquia de Alenquer e é oriundo de uma família católica, de onde diz ter recebido "muitos testemunhos de fé verdadeira e profunda”. A inserção na vida paroquial marcou a sua vida cristã até ao momento em que entrou na Universidade de Coimbra. Antes, conheceu em Lisboa uma realidade juvenil diferente daquela que vivia em Alenquer. "Na altura ainda não havia muitos movimentos e então comecei a acompanhar a Acção Católica dos Meios Independentes Juvenis (ACIJ) e foi aí que tive a primeira experiência de encontro com outros jovens católicos", destaca Diogo Correia ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Em Coimbra esteve ligado ao Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega, dos Jesuítas. Mais tarde, a convite do seu irmão, começou a frequentar os encontros do movimento eclesial Comunhão e Libertação, onde se integrou até à sua entrada no Seminário dos Olivais.

Embora a sua decisão vocacional tenha acontecido muitos anos mais tarde, Diogo considera que lendo a história da sua vida encontra "momentos muito concretos" onde percebe que foi sendo chamado por Deus. Formado em História da Arte, especializou-se na área do Património Histórico e reconhece "ter tido a graça de trabalhar sempre na área em que tinha estudado". Entre 1995 e 2002 trabalhou no Mosteiro dos Jerónimos, e após ter concluído o mestrado em Gestão de Património esteve na Câmara Municipal de Óbidos, entre 2002 e 2007, ano em que veio a entrar no Seminário dos Olivais para iniciar a sua formação sacerdotal. "Trabalhei mesmo até à véspera de entrar no seminário", recorda. "Nosso Senhor foi-me oferecendo sempre boas oportunidades de emprego que me entusiasmavam e realizavam. Mas à medida que ia caminhando fui percebendo que faltava algo e que o meu coração continuava inquieto. Percebi que o Senhor me chamava a uma entrega mais radical", testemunha Diogo Correia.

Hoje, aos 42 anos, Diogo considera que sempre foi um “católico militante” e talvez por isso, no meio onde estava, “desde os almoços até às reuniões de trabalho, frequentemente o tema Jesus Cristo aparecia nas conversas”. “Dava algum testemunho da minha fé”, sublinha Diogo referindo que, por isso, “na generalidade a sua decisão não surpreendeu ninguém”.

 

O retiro decisivo

Bartolomeu Mota vem da paróquia de Caxias e tem 30 anos.  É o mais novo de oito irmãos. Os seus pais, provenientes de um ambiente católico, desde muito cedo lhe transmitiram a fé através da oração fazendo-o conhecer Jesus Cristo "como uma pessoa a quem podia recorrer", conta ao Jornal VOZ DA VERDADE. Tem duas irmãs monjas, num mosteiro em França e em Portugal. Porque a sua família era grande e "não muito abastada" viu "muitas vezes a providência divina a actuar", e a forma como os seus pais "se confiavam a Jesus Cristo". "Isso ficou-me gravado", aponta. Apesar das raízes cristãs, Bartolomeu viveu um período da sua vida afastado da Igreja. Em 1999, quando tinha 17 anos, entrou numa Comunidade Neocatecumenal. "Eu não entendia aquilo. Não entendia a linguagem... não me tocava!", refere.

Em 2003, aos 22 anos, enquanto estudava Economia na Universidade Nova em Lisboa, manifestava "o anseio de ser autónomo". "Tinha um orgulho muito grande e uma arrogância interior que me levava a dizer 'eu faço e decido o que quero!'. No entanto, Bartolomeu via "que isso não dava resultado" e sentia-se "confuso e perdido". Por imposição da mãe, participa num retiro do Caminho Neocatecumenal. "Aí foi feita a proposta do Pré-Seminário [do Caminho Neocatecumenal] aos jovens, e eu com uma atitude de voluntarismo, fui!", conta Bartolomeu.

Nessa experiência de pré-seminário, iniciada em Janeiro de 2004, reencontra-se com Jesus Cristo e "espontaneamente voltou a surgir a oração interior, e o desejo de estar em intimidade com Jesus Cristo". Em Setembro do mesmo ano, fazem-lhe a proposta de entrar no seminário, e depois de um encontro internacional em Roma, Bartolomeu é enviado para o seu próprio país.

 

Das Ciências à Teologia

Paulo Pires tem 26 anos.  Nasceu em Lisboa e provém da paróquia de São Brás, no Concelho da Amadora. Fez sempre os seus estudos na escola em Benfica e reconhece que "não era um aluno brilhante, sobretudo em matemática”. Mas, porque “gostava muito de ciências naturais e biologia” acabou por ser confrontado com as disciplinas que envolviam a matemática. Por volta dos 14 anos diz ter decidido "o seu percurso de escola", que o iria levar a escolher a área das ciências. "Correu tudo bem! Tudo o que eu tinha decidido foi até ao fim", garante Paulo Pires ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Na Paróquia frequentou os dez anos de catequese. Foi crismado e integrou-se num grupo de jovens, o que considera ter sido "muito significativo para a descoberta vocacional". Embora nunca se tenha afastado da Igreja, Paulo está consciente de que a sua ligação "à Igreja e a Jesus foi variando muito". "Foi o passar por uma experiência de conversão que me trouxe até aqui e me tem sustentado”, refere. Num retiro conheceu um sacerdote que, com o passar dos anos, veio a ser "o responsável" pela descoberta da sua vocação. "Foi importante porque o padre Luís Barros, tendo acabado de ser ordenado, foi exercer funções para a paróquia de Belas e São Brás, que naquela altura estavam  juntas, e acompanhou o grupo de jovens onde eu estava. Foi muito bom, porque tinha ali à minha frente um padre a quem ‘bombardeei’ com muitas questões. Aquelas questões que os jovens têm", refere Paulo Pires.

O esclarecimento foi ajudando Paulo a perceber o que é ser Igreja. “As respostas que estava a obter faziam sentido, tinham lógica. O ser Igreja, a presença de Jesus Cristo na vida das pessoas e do mundo tem uma lógica. E para mim, que tinha uma mentalidade formatada cientificamente, foi o começo”, aponta.

Foi descobrindo a espiritualidade pela oração e pela frequência mais assídua da missa e, percebendo depois, "por pequenos sinais, apesar de não muito directos", que Deus o chamava "a uma entrega radical”, Paulo testemunha esta experiência como sendo “semelhante ao enamoramento". "Eu já não percebia a minha vida longe do Senhor e desta possibilidade de poder dar a vida como sacerdote", acentua.

Em 2004 inicia a licenciatura em Ciências. Mas desses dois anos que frequentou sublinha que “o último foi muito difícil". "Sentia que Nosso Senhor me chamava a uma realidade e eu estava noutra. Foi uma luta muito dificil", observa. No Verão de 2005 conheceu o Seminário de S. José de Caparide que o colocou em contacto com uma nova realidade. "Vi que os seminaristas que lá estavam eram pessoas especiais, mas não eram pessoais anormais", refere. Um ano depois, entra no seminário. Um tempo que considera ter sido muito importante "para crescer na humildade".

 

O susto de Roma

Paolo Ciampoli é natural de Ortona, em Itália. Tem 32 anos e chega à ordenação diaconal depois de um percurso de vida que o trouxe até Portugal. Diz ter feito "um percurso normal até ao crisma", quando tinha 14 anos. Depois disso "não encontrava na Igreja as respostas que procurava" e acabou por se ir afastando. Hoje, percebe que Deus permitiu que "procurasse a vida no mundo". A “má relação com um irmão” levava a que "fugisse dos sofrimentos que sentia em família". "Tentava fugir disso com os amigos", refere. “Mas no fundo, sentia que havia um buraco cá dentro que eu não conseguia preencher com essa vida”.

O ano de 2000, ano do Jubileu, é o seu primeiro ano de universidade em Roma, para onde vai com o objectivo de estudar Engenharia do Ambiente.  Ali sentiu-se "perdido numa cidade muito grande". "Senti dificuldade nos estudos e na própria vida na cidade de Roma", revela. No final desse ano lectivo desistiu do curso, regressou a casa, e nessa altura foi convidado a frequentar as catequeses do Caminho Neocatecumenal. "Foi para mim uma revelação! Eu tinha uma ideia da Igreja como moralismo, como lei, vendo a missa como uma seca.  Mas ali percebi que a Igreja não é isso! A Igreja é poder viver a fé com uma comunidade de irmãos”, explica referindo que ali a vida começou a mudar. “Se antes, para ser bem aceite no grupo eu tinha de fazer o que os outros faziam; se em casa tinha de pôr uma máscara para fingir perante os meus pais que eu era bem comportado; pela primeira vez senti uma libertação quando me anunciaram que Deus me amava, assim como eu era. Experimentei aí, pela primeira vez, o perdão dos pecados. Foi a minha verdadeira confissão”, testemunha.

‘Gratidão’ é uma “palavra chave” para Paolo Ciampoli, porque reconhece “ter encontrado na Igreja a felicidade que procurava”. Lutou contra Deus porque “sentia o desejo de constituir família” mas, destaca, “Deus foi mais forte”.

Em 2005, num encontro internacional em Roma, tendo manifestado a sua disponibilidade para "ir para qualquer parte do mundo", Paolo foi enviado para Portugal.  Hoje, reconhece que o projecto que poderia ter para a sua vida "era uma coisa muito mesquinha que se limitava aos muros", da sua terra. Mas Deus levou-o "ao deserto", para que “pudesse descobrir o que havia no [seu] coração”.

 

À procura de sentido

Tomaz Fernandez tem 31 anos. Nasceu nos Estados Unidos, onde viveu os seus dois primeiros anos e veio depois para Portugal, onde esteve até aos quinze. Partiu para a Suiça, "com toda a família", onde esteve mais três anos, regressando, depois, para iniciar o curso de engenharia civil. 

Proveniente de uma família católica, afirma ter aprendido muito "não só pelos conteúdos mas no modo de viver". Dos pais aprendeu também a oração. "Aprendi a rezar desde pequenino e essas foram sementes que Deus pôs na minha vida", refere ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Na adolescência, quando partiu para a Suiça, "tinha uma fé muito infantil", e entrou "num mundo muito mundano". "Fiz muitos amigos, num ambiente internacional mas ao nível da fé foi um período mau". Depois de dois anos "com uma adolescência selvagem" sente um vazio. "O nosso coração está feito para Deus, para se encontrar com Ele e estar em comunhão com Ele. E quando tentamos preencher com aquilo que não é Deus, de maneira desordenada, acaba por dar para o torto", observa Tomaz testemunhando ter sentido "uma grande insatisfação”.

Por essa altura, ainda na Suiça, recebe um convite para se preparar para o Sacramento do Crisma. Ao ser crismado começa "a mudar a pouco e pouco vendo que havia coisas na vida que não agradavam a Deus". Regressa a Lisboa para iniciar o curso de Engenharia Civil, um período que considera ter sido de "conversão forte". "Estava na fase de mudança de vida mas sentia ao mesmo tempo um vazio", diz Tomaz. Na memória guarda a experiência de uma confissão. “Senti um alivio muito grande e percebi que era um novo começo”. A partir desse momento Tomaz começa a rezar "todos os dias um bocadinho". "Às vezes fechava-me no quarto a ler a Bíblia ou outro livro espiritual. Comecei a ir à missa durante a semana, a rezar o Terço e assim fui andando nesse tempo de universidade".

O despertar da vocação acontece ainda na universidade ao ‘ouvir’ uma voz que lhe diz que, “possivelmente” Deus podia pedir-lhe para ser padre. “Ser padre era a última coisa que eu queria ser”, garante.

Interpelado, Tomaz chegou a pensar em ser missionário em África. Mas a sua atracção pela figura de São Francisco de Assis tocava-o e levou a questionar-se sobre a vida religiosa. Depois de uma experiência de trabalho nos Estados Unidos da Ámérica e de ter iniciado, entretanto, uma formação teológica, decide ir para Roma. Um ano depois, sem estar ainda em seminário, pede à Diocese de Lisboa que o acolha como seminarista. Num ‘regime especial’, entra no Seminário Internacional ‘Sedes Sapientiae’, da Opus Dei. Cinco anos depois, terminada a formação teológica, regressa a Lisboa, onde durante este ano 2012/2013, no Seminário dos Olivais, faz a sua formação pastoral.

texto por Nuno Rosário Fernandes
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