Domingo |
À procura da Palavra
“Hoje mesmo…”

DOMINGO III COMUM Ano C

“Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura

que acabais de ouvir.”

Lc 1, 21

 

Se contabilizássemos o tempo e as energias gastas com as preocupações do passado e com as ansiedades do futuro, certamente veríamos o enorme desperdício de vida que consumimos. O importante do passado é o que nos permite agradecer, crescer em sabedoria e ter os pés assentes no dia de hoje. As mágoas, os ressentimentos, as culpas, os remorsos (que muitas vezes as religiões gostam de acentuar, não valorizando convenientemente a sua missão de libertar e salvar!), as coisas passadas que servem de desculpa para não avançar e não perdoar, matam muita vida em nós. E os medos do futuro, o “sofrer por antecipação”, o pensar sempre que “não vai dar certo”, o querer que “todas as condições estejam reunidas”, são os maiores obstáculos à esperança.

 

 Como eu gosto da passagem do evangelho deste domingo! Porque Jesus é Deus “hoje”. Em cada momento a dar a totalidade do amor, a curar e a  libertar, a antecipar toda a festa, a “não guaradar para amanhã o amor que pode ser dado hoje.” Como nos interpela a viver uma fé que não é projecção consoladora no futuro (afinal acreditamos na ressurreição, não é?) mas transformação feliz do presente? É na terra que o viu crescer e, talvez por isso, dificilmente acreditará nele, que Jesus se afirma como Messias. Mas para quem vive tanto do passado e tão pouco aberto ao futuro, principalmente se este vem mais cheio de Deus do que das nossas seguranças, o hoje tem pouca importância. So que, para Deus, hoje é o “tempo favorável, o dia da salvação”!  

O Papa João XXII (que é “Beato” porque foi sempre feliz, e de “beato” não tinha nada!) escreveu um texto delicioso que não resisto a oferecer-vos hoje. É longo mas podemos guardá-lo na carteira e saboreá-lo aos poucos:  “Hoje, apenas hoje, procurarei viver pensando apenas no dia de hoje, sem querer resolver de uma só vez todos os problemas da minha vida. / Hoje, apenas hoje, terei o máximo cuidado na minha convivência: afável nas minhas maneiras, a ninguém criticarei, nem pretenderei melhorar, nem corrigir ninguém à força se não a mim mesmo. / Hoje, apenas hoje, serei feliz na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro mundo mas também já neste. / Hoje, apenas hoje, adaptar-me-ei às circunstâncias sem pretender que sejam todas as circunstâncias a adaptarem-se aos meus desejos. / Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura. Assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, assim a boa leitura é necessária para a vida do espírito. /  Hoje, apenas hoje, farei ao menos uma coisa que me custa fazer; e se me sentir ofendido nos meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba. / Hoje, apenas hoje, farei uma boa acção, e não o direi a ninguém. / Hoje, apenas hoje, executarei um programa pormenorizado. Talvez não o cumpra perfeitamente, mas ao menos escrevê-lo-ei. E fugirei de dois males: a pressa e a indecisão. / Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente - embora as circunstâncias mostrem o contrário - que Deus se ocupa de mim como se não existisse mais ninguém no mundo. / Hoje, apenas hoje, não terei qualquer medo. De modo especial não terei medo de apreciar o que é belo e de crer na bondade.” É admirável, não é?

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