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Óbidos recebe Visita Pastoral
“Ideal cristão realiza-se em comunidade”
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Óbidos é uma comunidade interparoquial, formada por sete paróquias, que quer “crescer na confiança” das pessoas. Por ocasião da Visita Pastoral, o pároco, padre Paulo Gerardo, salienta que a Igreja ainda não consegue fazer um aproveitamento a nível paroquial do movimento turístico da terra.

 

Rute e António são um casal que vive em Lisboa mas faz vida paroquial em Óbidos. Têm dois filhos, aguardam a chegada do terceiro, e afirmam querer “ser exemplo para eles”. Sobre a sua vivência de fé cristã, sublinham sentir-se “parte integrante” da comunidade quando estão “disponíveis para a comunidade”. Afonso é pai há muito pouco tempo e afirma ter recebido “uma graça” depois de seis anos de espera. Da sua vivência familiar com Deus, testemunha que vive a experiência de que “Deus dará e providenciará”. Quanto à fé que hoje vive em família, salienta que foi recebida em casa dos pais. “A experiência vivida em casa dos pais tornou-se credível para nós”, observa Afonso, diante de uma plateia de famílias que esteve reunida, em Óbidos, com o Cardeal-Patriarca de Lisboa, por ocasião da Visita Pastoral que está a decorrer na Vigararia Caldas-Peniche.

“Estes são alguns testemunhos de quem vive a fé recebida pelos pais e agora a transmite aos filhos. A fé é uma vivência transmitida pelo exemplo, e a família tem de ter a consciência do que é importante transmitir aos filhos”, destacou um outro casal, que no passado Domingo, dia 27 de janeiro, também esteve na Casa da Música de Óbidos para uma partilha de experiências e encontro com D. José Policarpo.

 

Missão da família na Igreja

Neste encontro interparoquial de Óbidos, o Cardeal-Patriarca recordou que “o mistério da família e a missão da família na Igreja continuam a ser essenciais”. Salientando que o pecado do Homem no início da Criação foi o mesmo que ainda hoje persiste, o Patriarca de Lisboa observou que “o Homem tem o desejo de ser autónomo e quer conduzir a sua vida da forma que considera ser a melhor”. “Esse foi e continua a ser o pecado da humanidade”, sublinhou. A este propósito, D. José Policarpo assinalou que no estudo realizado pela Universidade Católica sobre a religião em Portugal “manifestou-se um dado que apontava a recusa da pertença”, sobretudo nos jovens com idades abaixo dos 25 anos. “Recusam-se a serem pertença da Igreja, de uma família, de uma paróquia. Porque eles são livres e autónomos”, explicava. No entanto, o sentido da autonomia “levou a humanidade a não escutar a voz do Senhor”, concretizou.

 

Os dois um só

Atualmente a família depara-se com dificuldades que emergem da própria sociedade e do mundo de hoje, por isso D. José Policarpo releva que “a família é realidade cristã que só pode ser vivida como Deus quer, como caminho de plenitude com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo”. “Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e porque foram criados à imagem de Deus, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e serão os dois um só”, recordou.

Segundo o Cardeal-Patriarca de Lisboa, esta união acontece “no amor”, mas também na consciência de que há diferenças entre os dois. “É uma ilusão muito grande desconhecer a diferença que existe entre homem e mulher. E muitas vezes os casais não estão preparados para a diferença”, comentou.

 

A unidade do casal é obra de Deus

Na opinião de D. José Policarpo, a vivência em casal tem determinadas características fundamentais que têm origem no próprio ato de Criação de Deus. Por um lado, o “perceber que a unidade a construir é obra do casal e de Deus”. Lembrando que “esta unidade é algo de muito difícil para os nossos jovens, hoje”, o Cardeal-Patriarca salienta que estes “só serão capazes de construir esta unidade, se forem capazes de fazer da sua vida toda, um dom ao outro e aos outros”. “O grande desafio da vida cristã é fazer da nossa vida um dom”, afirmou. “Estamos muito viciados em procurar o nosso bem pessoal, o nosso interesse, a nossa felicidade, o nosso projeto. E se não temos cautela, pomos o outro ao serviço desse projeto”, alertou. Neste sentido, D. José Policarpo deixa uma proposta: “A vitória sobre a auto-procura da felicidade, do próprio prazer, muda tudo”, garantiu.

 

Família cristã é lufada de esperança

Por outro lado, sublinhando que “o casal é a base da estabilidade humana”, o Patriarca de Lisboa frisou que “outra potencialidade da criação do homem e da mulher é o ‘crescei e multiplicai-vos’. O futuro da humanidade ficou ligado a esta instituição”, o que, segundo D. José Policarpo, passa pela “capacidade do homem e da mulher, no amor, serem um só e serem puros”. “A melhor situação para o equilíbrio psíquico do homem é ser gerado num ato de amor, em que os dois são um só, porque são amor”, comentou.

Segundo D. José Policarpo, “a família é o ponto de partida da harmonia da comunidade humana” e por isso quando há desarmonia há situações de violência na sociedade. “A desarmonia gera violência”, referiu.

Neste encontro com as famílias da comunidade interparoquial de Óbidos, o Cardeal-Patriarca apelou, ainda, à recuperação do sentido esponsal no matrimónio. “É preciso recuperar radicalmente o sentido da esponsalidade. E esse sentido encontra a sua prioridade na ternura e não na sexualidade”, garantiu, observando que “a família cristã, hoje, é uma lufada de esperança”.

 

Sete paróquias

Este encontro de famílias aconteceu no decorrer da Visita Pastoral à Vigararia de Caldas da Rainha - Peniche, que por estes dias passou pelas diversas comunidades paroquiais de Óbidos. Na vila de Óbidos há duas paróquias, São Pedro e Santa Maria, correspondendo a quatro freguesias civis. Mas no concelho existem, ainda, outras cinco paróquias (A-dos-Negros, Amoreira, Olho Marinho, Sobral da Lagoa e Vau), perfazendo um total de sete, que formam a comunidade interparoquial de Óbidos. “São paróquias dispersas com muitos lugares”, refere o pároco, padre Paulo Gerardo, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Explicando que “a vila tem pouca gente e a vida eclesial ressente-se disso”, o pároco observa, também, que “Óbidos é uma vila turística, onde há muitos eventos, e nessa altura as Eucaristias ressentem-se”. Segundo o padre Paulo Gerardo, nestas ocasiões de maior movimento turístico “não há um aproveitamento a nível paroquial”, e explica que “por vezes não é muito fácil fazê-lo”. “Óbidos não é uma vila muito grande. É um lugar por onde as pessoas passam, e que se vê num único dia. As pessoas vêm em muitas excursões, e mesmo as que vêm aos eventos passam pela Rua Direita, que é a principal, e não vão a mais lado nenhum”, lamenta o sacerdote frisando que “Óbidos ainda tem muito de rural”.

 

Catequese e caridade

Na comunidade interparoquial colaboram, para além do pároco, o vigário paroquial, padre Ivo Santos, e dois diáconos permanentes (Raul Pereira Penha e Maximino Alves Martins), além de um conjunto de leigos com representantes em cada uma das paróquias.

De acordo com a dinâmica pastoral adotada para estas sete paróquias “existe, em cada uma, uma equipa de animação paroquial, e destas equipas cada uma tem dois representantes numa equipa de coordenação interparoquial. O que dá uma certa unidade às diferenças que existem nas várias comunidades”, garante o pároco. Há ainda equipas de zonas, “com implantação mais no território e um grupo de pessoas que vai de casa em casa, a quem chamamos os mensageiros que convocam para as atividades paroquiais. Sobretudo aquelas que procuramos fazer com alguma regularidade e que pretendem tocar os que não vêm à Igreja”, observa o padre Paulo Gerardo.

Funcionando nesta dinâmica de comunidade interparoquial, os diversos grupos que existem englobam pessoas de todos lugares. “Tudo o que existe tem gente de todas as terras”, refere o padre Paulo, explicando que “os escuteiros, o grupo de jovens, os Guias de São Lourenço, tudo funciona ao nível interparoquial. “Mesmo os grandes eventos da vida paroquial vão-se realizando, sucessivamente, pelas diversas paróquias”, acrescenta.

No conjunto das sete paróquias existem “cerca de 250 crianças na catequese”, que são acompanhadas por “150 catequistas”. Na área da pastoral social o padre Paulo Gerardo explica que “nas paróquias não existem centros sociais”, no entanto as comunidades vão tendo resposta nesta dimensão através dos Guias de São Lourenço. “É um grupo de voluntários, alargado, com cerca de 30 pessoas, com implantação nas diversas paróquias. Eles identificam as situações de carência em cada família, e depois um grupo restrito com algum pessoal técnico procura perceber melhor as situações e ver que tipo de ajuda é necessária”.

 

Evangelização

Atualmente, o desafio destas paróquias “é o da nova evangelização”. Segundo o padre Paulo, “há muitos batizados sem iniciação cristã séria” e mesmo a catequese considera que “não realiza o seu objectivo, que é o de iniciar uma relação com Cristo e vida na comunidade”. “Na prática, se quisermos ser honestos, isto não está a acontecer. Faz muita falta a formação cristã de adultos, mas faz falta também que a paróquia seja o fermento na massa. Que ajude a massa a ser mais na caridade”. Outra das apostas já enfrentadas por estas comunidades vai ao encontro da dificuldade na relação. “A relação entre as pessoas está muito deteriorada, assim como a confiança entre as pessoas. E por isso, também a confiança em Deus está muito baixa”, constata o pároco, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Questionado sobre soluções para essas dificuldades afirma: “Para isso não há um antídoto. Embora se possa dar contributos que ajudem a melhorar”. Reconhecendo que “se a comunidade cristã fosse capaz de criar núcleos duros que fossem um modelo, isso ajudaria”, o padre observa ainda que “a massa amorfa precisa de ver o ideal cristão realizado no mundo, numa comunidade. Não basta indivíduos mas é preciso uma comunidade”.

Neste sentido o programa pastoral da paróquia tem por objectivo “ajudar as pessoas a crescer em confiança, uns nos outros”. “Cada ano damos um passo a partir daquilo que já temos. O ano passado apostou-se na relação com as pessoas e daí a realização de festas. Este ano a aposta está no crescer na confiança, sabendo que isto é um passo pequenino”, reconhece. “Por vezes pensa-se que basta instruir para que as pessoas fiquem evangelizadas, mas isso não chega".

texto por Nuno Rosário Fernandes; fotos por Diogo Paiva Brandão e NRF
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