Jornal Voz da Verdade

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03.02.2013

Miss�o |

Alice Vieira

�A vida � uma sucess�o de come�os�

Alice Vieira nasceu a 20 de Mar�o de 1943. Tendo passado a inf�ncia e adolesc�ncia saltando entre tios-av�s, madrinhas, primas, tudo gente mais velha, em casas de corredores enormes, podia mexer em todos os livros que havia. Assim, em contato com os livros desde tenra idade, aprendeu a ler e escrever sozinha.

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Foi nos livros que encontrou os amigos que n�o tinha e, muito cedo, neles aprendeu que s� com trabalho se consegue o que se quer. As tias, que ajudaram a cri�-la, n�o a deixaram ir � escola, mas quando chegou aos 10 anos teimou, teimou, e l� permitiram que fosse para o liceu. Em 1953 entrou para o liceu Filipa de Lencastre, e l� passou os melhores 7 anos da sua vida. Hoje, a sua antiga sala de aula tem o seu nome, que � uma das coisas de que se orgulha muito.

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Os primeiros passos como jornalista e a ida para Paris

Apesar de n�o ter o aval das tias, Alice quis desde sempre ser jornalista. Tinha 14 anos quando comecou a enviar textos para um suplemento juvenil que havia no “Di�rio de Lisboa”. Alguns eram publicados, outros recusados, mas sempre com uma explica��o de quem dirigia o suplemento, o jornalista M�rio Castrim. Um dia, um poema seu foi publicado no pr�prio corpo do jornal, integrado numa grande reportagem sobre Lisboa. “Nem queria acreditar”, conta-nos. E, por isso, acabaram por cham�-la para trabalhar no jornal, em 1961.

Entrou para o jornalismo na mesma altura em que entrou para a Faculdade de Letras. N�o porque quisesse ser professora (nunca o foi) mas para acalmar as tias. “Nessa altura nem se sonhava que um dia iria haver cursos de jornalismo! Aprend�amos ali no duro, e com os mais velhos, jornalistas e tip�grafos. Com a entrada na Faculdade, comecou a trabalhar no CASU (Centro de A��o Social Universit�rio) como aconteceu com muitos outros colegas. “Lembro-me do choque de ver as crian�as na mis�ria dos bairros de lata, e a descoberta de uma realidade bem diferente do que a que tinha � minha volta,”conta-nos.

Em 1965, depois de terminar a licenciatura, zangou-se consigo pr�pria, com o pa�s e com a fam�lia e foi ter com a tia Maria Lamas, tamb�m jornalista, a Paris. “Acho que essa foi a minha verdadeira universidade, por tudo o que aprendi e pelas pessoas que conheci”.

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No regresso a Portugal encontra o seu grande amor

Em 1968 regressou a Portugal, para uma vida diferente, ao lado do homem com quem viveu quase 40 anos e que foi, como diz, a pessoa que mais peso teve na sua vida : o jornalista M�rio Castrim, que Alice conhecia desde a sua adolesc�ncia. Ela tinha 25 anos, ele estava � beira dos 50. “Foi paix�o at� ao dia em que ele morreu, h� 10 anos.”

“O M�rio - conta-nos - conseguia essa coisa extraordin�ria, e que poucos eram capazes de entender, de ser comunista e cat�lico.” A primeira prenda que deu a Alice foi uma B�blia. “Sempre que precisares, abre-a ‘ao calhas’, e encontrar�s sempre o que precisas” - disse-lhe um dia. � um precioso ensinamento que segue at� hoje.

Em 1969 nasceu a sua filha Catarina; em 1970 o seu filho And�. Entretanto, tinha come�ado uma nova vida profissional. A juntar ao jornalismo, come�ou nesta altura a escrever livros para crian�as, tendo ganho inclusivamente, em 1979, o “Pr�mio do Ano Internacional da Crian�a”, com o romance juvenil “Rosa, Minha Irm� Rosa”.

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�A Aud�cia dos Mission�rios Combonianos e os projetos solid�rios

Por essa altura o M�rio trabalhava na revista “Aud�cia”, dos Mission�rios Combonianos, foi atrav�s dele que os conheceu. Depois da morte do M�rio, em 2002, ocupou o seu lugar na revista. A Casa da Cal�ada tem sido desde ent�o o seu porto de abrigo, “� uma li��o de vida e de f� seguir os percursos de muitos dos mission�rios combonianos, no Tchad, no Darfur, na Nam�bia, nas Filipinas. Nunca esquecerei a viagem que fizemos todos a Roma (com passagem por Assis, um lugar que me tocou muito fundo), em Outubro de 2003, para as cerim�nias da canoniza��o de Daniel Comboni.”

H� cerca de 5 anos aceitou o desafio de escrever textos para os manuais de Educa��o Moral e Religiosa de todo o primeiro ciclo. Apesar de ter coincidido com um per�odo em que esteve doente, Alice considera o trabalho como uma maneira de lutar contra as doen�as. O trabalho e a presen�a dos amigos: “tenho o meu grupo “puro e duro” que me acompanha sempre, e a presen�a inspiradora do Padre Tolentino Mendon�a, grande poeta e meu amigo de h� muitos anos, que sabe sempre as palavras de que preciso, e que me deu a conhecer as Monjas Dominicanas do Convento do Lumiar (“aquela espantosa Irm� Maria Domingos!”). Foi h� sete anos que conheceu a FEC – Funda��o F� e Coopera��o, atrav�s da primeira edi��o dos “Presentes Solid�rios”, a que aderiu imediatamente. Em 2010 aceitou o convite para ser uma das madrinhas do projeto.

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Um marco para o resto da vida

Um acontecimento que h�-de acompanhar Alice para o resto da vida foi o convite para integrar o grupo de 10 pessoas que foram cumprimentar o Papa Bento XVI, no seu encontro com intelectuais no CCB, em Maio de 2010. “S� me lembro de atender o telefone e ouvir a voz de D. Carlos Azevedo e fazer-me o convite e eu a repetir “mas porqu� eu?, mas porqu� eu?”.

Atualmente, e para o bem de quem aprecia ler, continua a escrever, tendo publicado no passado Natal o livro “Hist�rias da B�blia” contadas �s crian�as, a que se ir� seguir um segundo livro, continua a ir �s escolas, a trabalhar na “Aud�cia” e noutros projetos solid�rios que v�o aparecendo, e a tentar ter um pouco mais de tempo para os seus 4 netos.

texto por Vanessa Furtado, FEC � Funda��o F� e Coopera��o