19.05.2013
Lisboa |
Casa de Santa Isabel comemora 10 anos
Salvar vidas, propondo a felicidade
“O que nós queremos é que estas mães sejam felizes!”. É este o maior desejo da Casa de Santa Isabel, uma obra da Igreja que acolhe jovens grávidas e que cumpriu recentemente dez anos de vida.
É bem no centro de Lisboa, na esquina da Rua da Madalena com o Poço do Borratém, que fica situada a Casa de Santa Isabel. É lá que moram dez jovens mães. Algumas já acompanhadas dos seus filhos. Outras ainda aguardando o dia em que os bebés irão nascer. “A Casa de Santa Isabel acolhe grávidas em dificuldade, com a faixa etária a variar entre os 12 e os 34 anos. Acolhemos raparigas que nos chegam em contextos muito desfavoráveis, de violência doméstica, de violência sexual, desemprego, precariedade habitacional, ilegalidade”. Fernanda Ludovice é a diretora da Casa de Santa Isabel desde o primeiro dia e explica ao Jornal VOZ DA VERDADE a missão desta instituição. “O nosso projeto é suportar e ajudar estas mães durante a gravidez e no pós-parto. E quando digo suportar não me refiro apenas à parte financeira: é construir toda uma vida com elas! Connosco, estas jovens mães aprendem a amamentar, a mudar a fralda, a dar o banho, a cuidar dos seus bebés. Paralelamente, procuramos encaminhá-las na vida, procurando arranjar-lhes trabalho e casa”. Salvar vidas A Casa de Santa Isabel é uma valência do Ponto de Apoio à Vida (PAV), que foi fundado em 1998, após o primeiro referendo ao aborto. “A Teresa Seabra, irmã do cónego João Seabra, e o padre Duarte da Cunha entenderam que deviam fazer mais qualquer coisa e criaram o Ponto de Apoio à Vida, com o objetivo de proporcionar uma resposta para grávidas e para os seus bebés!”, frisa Fernanda Ludovice. Cinco anos depois, o Ponto de Apoio à Vida criou a Casa de Santa Isabel. “Na altura, uma assistente social do PAV começou a perceber que, além do gabinete de atendimento, havia muitas grávidas que tinham necessidade de um teto. Percebeu que não bastava ajudá-las somente através do acompanhamento”, recorda. “Numa reunião com o então presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Pedro Santana Lopes, é-nos cedido este edifício onde ainda hoje estamos”, aponta Fernanda. A funcionar desde 2003, a Casa de Santa Isabel acolheu, ao longo destes anos, 107 mães. Nesta década, muitas vidas foram salvas. “Um quarto destas mães, se não tivessem sido acolhidas, tinham abortado… São raparigas que nos chegaram no início da gravidez, com seis, sete, oito semanas de gestação, que estavam naquela fase de que se não tivessem ajuda iriam abortar”, garante Fernanda. Esta possibilidade de, literalmente, salvar vidas entusiasma a diretora da residência. “Estas mães que conseguimos que não abortem e que tenham os seus filhos são as que nos dão mais ‘gozo’! Porque damos connosco a pensar: ‘Bolas, se não as recebêssemos, estes bebés tinham morrido…’”. Quatro bebés a caminho Casada e mãe de sete filhos, Fernanda Ludovice aponta que a grande maioria das grávidas que passa pela Casa de Santa Isabel tem entre os 16 e os 22 anos. “Acolhemos muitas adolescentes, praticamente todas mães solteiras”, sublinha. As jovens mães chegam à Casa de Santa Isabel provenientes de diversas origens. “Algumas chegam até nós através dos tribunais, outras vêm pelas comissões, mas também pela Segurança Social, pela maternidade ou pela Santa Casa. Há ainda jovens mães que chegam até nós através da Missão Mãos Erguidas”, enumera a diretora, lamentando que sejam poucas as futuras mães que tomem a iniciativa de pedir ajuda. “São raras as mães que vêm ter connosco de livre iniciativa. Há alguns casos de raparigas que veem no nosso site os contactos e vêm ter connosco, mas são poucos os casos”, salienta. A residência do PAV, no Poço do Borratém, está preparada para acolher dez mães em permanência, quer estejam acompanhadas dos filhos ou ainda na fase da gravidez. “Temos sempre nove vagas para as mães e uma para os chamados casos de urgência, para receber alguma rapariga que tivesse pensado abortar”, refere Fernanda Ludovice. “Neste momento a lotação da casa encontra-se esgotada! Temos dez mães, com seis bebés e quatro gravidezes”, acrescenta. Escalas de trabalho A Casa de Santa Isabel dispõe de oito quartos. Por isso, quando está cheia, como é agora o caso, dois dos quartos têm de ser partilhados. “Quando acolhemos dez mães, procuramos juntar duas grávidas ou uma grávida com uma mãe com um bebé recém-nascido”, conta. Segundo a diretora da casa, a limpeza dos quartos é assegurada pelas jovens mães. Tal como as limpezas dos espaços comuns, das roupas e a feitura das refeições. “São elas que fazem tudo! Eu preparo as escalas e elas participam em tudo! Claro que querem ‘furar’ o esquema, claro que não querem fazer isto ou aquilo, mas nós estamos aqui para as ajudar a fazer as coisas!”, garante Fernanda, sublinhando que na casa promovem “sempre a vida comunitária”. Além da diretora, a Casa de Santa Isabel tem uma assistente social, que é a diretora técnica da instituição, uma psicóloga, que passa um dia por semana na residência e faz atendimentos regulares às mães e participa nos diversos projetos, uma técnica de inserção profissional, que ajuda a fazer o currículo e procura arranjar emprego para as mães, e cinco monitoras, que trabalham por turnos rotativos e que estão em permanência na casa. “Está sempre alguém na casa para acompanhar estas jovens mães! São 365 dias por ano, 24 horas por dia!”, assegura Fernanda Ludovice. Rotina diária O dia na Casa de Santa Isabel começa às 7h da manhã. “As mães levantam-se, fazem a sua higiene e a do bebé. Às 8h vêm tomar o pequeno-almoço com as restantes mães da casa e depois têm início as tarefas”. Segundo esta responsável, durante o dia, o destino de cada uma das raparigas é variado. “Há mães que estão a estudar e por isso vão para a escola, deixando os filhos na creche ou cá em casa connosco; há outras mães que tiveram os filhos há mais de quatro meses e já voltaram a trabalhar; e temos também casos de raparigas que não estão nem na escola nem a trabalhar, que geralmente são as que estão grávidas e dessa forma ninguém lhes dá emprego…”, explica. O recolher na casa é, “obrigatoriamente”, às 23h. Anúncio e catequese O Ponto de Apoio à Vida é uma associação pública de fiéis. Sendo uma obra da Igreja, Jesus Cristo tem um lugar central na casa. “Antes de cada refeição, fazemos uma oração! À noite, propomos que rezem o terço, em conjunto, e que vão à Missa ao Domingo! No Tríduo Pascal, por exemplo, fazemos questão que elas participem em todas as celebrações”. Fernanda sublinha também a importância da catequese na vida destas raparigas. “Sempre tivemos catequese na casa! Atualmente isso não é possível porque a pessoa que dava catequese teve de nos deixar, mas havemos, com certeza, de arranjar outra”, diz, esperançada. “Por outro lado, tentamos também batizar todos os nossos bebés!”, acrescenta. Vidas que marcam Nestes dez anos à frente da Casa de Santa Isabel, Fernanda Ludovice recorda a história de uma das raparigas que marcaram a instituição. “Tivemos uma mãe que veio para cá com 13 anos, grávida, e que ficou na casa durante sete anos! Ela não tinha uma família que a pudesse suportar e enviá-la para outra instituição era voltar atrás, especialmente por causa da adaptação. Os anos foram passando e ela foi ficando! Graças a Deus, hoje é uma mãe que está muito bem na vida, tem trabalho, tem uma casa e a filha fez a Primeira Comunhão a semana passada, numa paróquia de Lisboa”, conta, orgulhosa, a diretora da residência. “É isso que desejamos para todas estas raparigas”, aponta. Amizade desinteressada A Casa de Santa Isabel assinalou os dez anos no passado dia 25 de março. Um momento que foi de festa para a instituição. “Para celebrar esta data organizámos um encontro de mães. Foi extraordinário, ver a alegria das mães a reverem-se umas às outras!”, observa Fernanda. Uma década passou desde o primeiro dia em que a Casa de Santa Isabel abriu as portas. As histórias de vida são muitas. O número de vidas salvas continua a crescer. A diretora Fernanda Ludovice deseja somente continuar ao lado das mães. “Nós ficamos sempre muito ligadas a estas raparigas. E quase todas elas, quer tenham saído ‘a mal’ ou ‘a bem’, saíram daqui percebendo que nós as amamos e que há para com elas uma amizade completamente desinteressada! Estas jovens mães sabem que podem recorrer à Casa de Santa Isabel sempre que precisarem! Porque o que nós mais queremos é que elas sejam felizes!”. ________________Testemunho de uma mãe que esteve na Casa de Santa Isabel de 4 de abril de 2011 a 29 de janeiro de 2013 “Agradeço tudo o que fizeram por mim. A melhor coisa que me aconteceu foi dar à luz o meu filho. Ser Mãe mudou-me completamente, sou uma pessoa melhor graças a ele. Isso só foi possível graças à Casa de Santa Isabel.” C. in Facebook do ‘Ponto de Apoio à Vida’
texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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