Especiais |
D. François-Xavier Maroy Rusengo, Arcebispo de Bukavu, Diocese do leste da República Democrática do Congo, visita Portugal
Praticar a justiça para construir a paz
<<
1/
>>
Imagem
No momento de dificuldades generalizadas e para alguns raiando o insuportável, a nossa consciência interpela-nos sobre o que podemos e devemos fazer. É a realidade de perto que nos preocupa; mas também a de longe não pode deixar-nos indiferentes. Como é que podemos fazer algo para que o mundo seja diferente e o seja para melhor?

 

Princípios e ação

As palavras não bastam. Até somos capazes de ter o nosso estojo multifunções para enquadrar quase tudo o que se passa. Mas isso não resolve nada do que é importante para quem está carenciado de tanta coisa, a começar pelo essencial. A Igreja tem doutrina como nenhuma outra instituição, tanto em quantidade como em qualidade; não só como fruto do estudo profundo, mas ainda por uma experiência milenar a consolidá-la. Algo se impõe para além das palavras. Alguns gestos simples do Papa Francisco, deixam-nos, no mínimo, a interrogar sobre o nosso papel no mundo. No terceiro dia da sua missão de irmão mais velho, na audiência aos jornalistas, disse que “queria ter uma igreja pobre para os pobres”; uma igreja, interpreto eu, não de miseráveis, mas onde todos e especialmente os sem vez nem voz tenham lugar; uma igreja mais fraterna e menos de poder seja de que tipo for; uma igreja próxima e consequentemente com um discurso diferente do debate político entre os bons e os maus, entre os vendedores de sonhos e os que defendem as pessoas de sempre, mas deixando os mais necessitados sem lugar e transformados em servos de outros que jogam com as suas vidas; por vezes em coisas tão banais como ter de passar um dia na fila de um serviço para no fim receber apenas mais um papel para apresentar no outro dia, vivendo uma fatalidade que vence a racionalidade. Com tanto crente a trabalhar na política e na administração é caso para perguntar onde está a força do fermento no meio da massa. O que é que o Espírito terá a dizer à Igreja que somos?

 

Local e global

Mas se nos interrogamos sobre o nosso contexto mais doméstico, o mesmo temos de fazer no que diz respeito ao nosso enquadramento no mundo global. Começa a encíclica “Caridade na Verdade” de Bento XVI dizendo que “A caridade na verdade… é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da humanidade inteira. O amor – “caritas” – é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz” (n.1).

Tivemos a sorte de nos últimos dias ter a visita de D. François-Xavier Maroy Rusengo, Arcebispo de Bukavu, diocese do leste da República Democrática do Congo, na região dos Grandes Lagos, palco de guerras fratricidas provocadas por milícias que vivem da extorsão das riquezas naturais de que a terra é rica. Mas essa riqueza não deixa ouvir os gritos dos já milhões de mortes provocadas por quem só vê o lucro diante dos olhos e se aproveita da fragilidade do aparelho estatal, da corrupção e da impunidade daqueles  para quem a pessoa humana vale menos do que um punhado de terra; o ouro, o estanho, o coltan e o tungsténio são cobiçados pelos países vizinhos e constituem moeda de troca paga pelas empresas dos países desenvolvidos para terem as matérias-primas necessárias para toda a panóplia de artigos eletrónicos, que nós tanto utilizamos, mas que deixam atrás de si suor, sangue e morte.

 

Sereis minhas testemunhas

Perguntando a D. Rusengo o que é que ele esperava de nós que vivemos nos países do Norte, respondeu que não é preciso recusar a utilização desses recursos para produzir os objetos que são úteis e que ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas; preciso sim é que todos tirem proveito dessa riqueza e não somente as grandes empresas à custa das pessoas exploradas e despojadas de direitos. Ninguém escapa aos efeitos da desumanidade reinante: nem os bispos. Os antecessores de D. Rusengo foram mortos; ele tem a consciência do que significa aceitar a missão de lhes suceder; em cada dia, uma simples visita ao seu rebanho já constitui um risco. Mas estando com as pessoas, está também com Cristo, em quem “a caridade na verdade torna-se o Rosto da sua Pessoa” (CV nº 1).

texto por Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES