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Pe. Alexandre Palma
A mensagem do Papa Francisco
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Com apenas três meses de pontificado do Papa Francisco seria precipitado forçar aquelas sínteses que só o tempo permitirá construir. Não menos precipitado seria negar que algo já pode ser dito acerca do Papa que «veio do fim do mundo». Por um lado, julgo prudente resistir a fazer do trimestre a escala dos nossos «balanços e contas» eclesiais. Esta é uma medida incapaz de dar notícia da complexidade de que se reveste a vida da Igreja. Com efeito, réguas pequenas não podem medir objetos grandes. Reconheço, por outro lado, que essa prudência não invalida que se possa traçar, desde já, um esboço da mensagem do Papa Francisco. O Papa tem falado e tem falado muito. Conscientes da precariedade de uma tal síntese, se podemos então devemos arriscar esse esboço da mensagem do Papa.

Desde o primeiro momento, desde aquele seu assomar-se à varanda na Basílica de S. Pedro, percebemos que com Francisco falam não apenas as palavras, mas também os gestos. Nada haverá nisto de muito especial, pois assim é com toda a comunicação humana. Todavia, a amplitude das suas acções e, sobretudo, a sua intencionalidade simbólica fazem-nos perceber que a mensagem do Papa Francisco é dita não apenas com palavras, mas também com gestos; não apenas com os lábios, mas também com as mãos. De palavra e gestos se compõe, pois, a sua mensagem.

Pela sua palavra percebemos, desde logo, como para Francisco a Igreja é o grande tema do seu ensino. Há uma certa insistência na qualidade da vida eclesial e do seu testemunho. O Papa vem propondo uma espécie de eclesiologia da autenticidade, isto é, um pensamento sobre da Igreja assente na fidelidade ao modo evangélico de vida. Não será, pois, estranho que uma das palavras mais usadas pelo Papa seja «mundanidade», para denunciar um certo aligeiramento da vida cristã. Talvez por isso, um primeiro traço do ensino do Papa Francisco seja o seu carácter marcadamente pastoral, todo dedicado a buscar e propor modos de vida coerentes com a radicalidade do Evangelho. Um segundo traço deste seu ensino é uma visão da Igreja profundamente sinodal. Isto já poderia ser entrevisto logo quando ele se apresentou ao mundo como «bispo de Roma». Mas esta nota acerca da Igreja foi explicitamente referida na recente solenidade de S. Pedro e S. Paulo. Aí o Papa disse-o de forma clara: «devemos percorrer o caminho da sinodalidade», devemos fazer e descobrir o caminho juntos. A visão eclesial de Francisco assenta ainda num outro elemento: uma Igreja pobre. Desde cedo e repetidamente ele tem falado de uma «Igreja pobre e para os pobres». Talvez se corra o risco de ver na Igreja pobre de Francisco algo meramente social e politicamente correto. Creio que é pouco e mesmo infiel ao pensar e sentir do Papa. Aqui a pobreza é uma «categoria teologal», ou seja, um modo muito concreto dos discípulos se identificarem com Jesus, aquele que se «fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza» (cf. 2Cor 8, 9).

Com gestos nos tem também falado o Papa Francisco. Ele tem ensaiado um outro estilo não apenas de ser Papa, mas um outro estilo de se ser pastor. Um estilo, em primeiro lugar, profético. Um estilo que concilia o vigor na denúncia com a afabilidade do contacto. Um modo de estar retilíneo no tocar as feridas intra e extra-eclesiais que não abdica de ser também doce, solto, empático. É, em segundo lugar, um modo de estar que conscientemente explora a força simbólica dos seus gestos. A desejada proximidade dos fiéis, o lava-pés num reformatório romano, os beijos distribuídos aos mais frágeis, são apenas alguns exemplos isolados de um magistério que quer e sabe usar o gesto como mensagem. É, por fim, um estilo atento sobretudo às periferias (outro termo típico de Francisco). Atento a muitas periferias: as da sociedade, mas também as da Igreja. Recorrentemente o Papa fala da necessidade de a Igreja «sair de si». Nele vemos precisamente o esforço de levar esta dinâmica ao próprio ministério de Pedro. Tanto pela palavra como pelo gesto, o Papa parece querer uma Igreja que não se centre nem se feche sobre si própria, mas que tenha em Cristo o seu fundamento e nas periferias da fé e da sociedade a razão da sua actuação.

Segundo os teóricos, toda a comunicação supõe a interação entre emissor, receptor e mensagem. Sendo isto verdade, até ao Papa esta norma se aplicará. Quer isto, portanto, dizer que só há verdadeiramente mensagem do Papa Francisco quando ele é escutado e seguido.