Missão |
Miguel Amado
Ide e ensinai a todos aquilo que vos ensinei
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Miguel Amado foi Embaixador/Chefe de Delegação da União Europeia, tendo trabalhado em diversos países em desenvolvimento. Da sua formação católica deve aos pais a ação pedagógica, mas sobretudo o exemplo, no qual se inspira para educar os filhos e os netos. Pertenceu à JEC e à JUC, onde animou vários grupos de reflexão. Hoje, é membro ativo da Paróquia de Colares, onde dirige vários grupos de jovens.

 

Ide e ensinai

Miguel Amado licenciou-se em Engenharia Agronómica em 1971, pelo Instituto Superior de Agronomia. Casou-se no ano seguinte com Maria da Assunção Cabral e, da sua união, nasceram o Miguel, a Maria do Pilar e o João Bernardo. Durante 18 anos trabalhou na Administração Pública, no Ministério da Educação, na reforma de Veiga Simão, no Ministério do Comércio, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e no Ministério da Agricultura, tendo em 1986 completado a pós-graduação em Engenharia Agronómica Tropical. Em 1989 entra para a Comissão Europeia, para os Serviços de Relações Exteriores. Começa aqui o seu trabalho com os países pobres, numa entrega incondicional, por vezes arriscando a vida, mas na certeza que cada dia deve fazer cumprir o que Cristo disse antes da Ascenção: “ide e ensinai a todos aquilo que vos ensinei”.

 

Humanizar a ajuda

Miguel Amado trabalhou em quatro Delegações da União Europeia (UE) como embaixador e no primeiro país, Madagáscar, como conselheiro. Aqui permaneceu quatro anos. A família acompanhou-o e, juntos, tiveram que se adaptar a um país novo e completamente diferente, tanto do ponto de vista cultural, como económico e social. Porém, o filho mais velho optou por não ficar e passou a viver com os avós. Miguel serviu ainda o Burundi (quatro anos), a Guiné-Bissau (dois anos e meio), a República Dominicana, cobrindo também Cuba (quatro anos) e o Congo Brazaville (dois anos). Na educação dos filhos, Miguel Amado e a mulher tiveram a preocupação constante de lhes mostrar a realidade dos países onde viveram. “O contacto com a miséria e com os problemas típicos de um país pobre fizeram muito bem aos nossos filhos na sua formação religiosa e humana e julgo que, ainda hoje, esse facto ajudou a adquirirem a consciência da necessidade de contribuírem para um mundo melhor”, reconhece. Durante as suas estadias nestes países procurou sempre estabelecer contactos privilegiados com a Igreja Católica, sobretudo com as paróquias a que pertencia e com o Episcopado. “Havia a necessidade de dar um rosto humano à ajuda financeira e à assistência técnica aos países visados”, recorda. Nos diversos países trabalhou com seminaristas e com as comunidades cristãs para “reforçar a necessidade de sermos todos membros ativos na evangelização e na propagação da mensagem de Cristo.”

Miguel Amado recorda ainda um episódio vivido em Moçambique, logo após o 25 de abril de 1974. Nessa altura, tinha sido incumbido pelo Movimento das Forças Armadas para começar a negociar a paz com a FRELIMO. Depois de muitas aventuras, conseguiu abordar o Comandante da região. “Entrei na sua carrinha e notei que havia um crucifixo no espelho. Espontaneamente o Comandante fez os seguintes comentários que me deixaram estupefacto: ‘este foi o Homem que morreu pela humanidade e pediu que o amássemos com todo o nosso coração e que também amássemos o próximo como a nós mesmos.’ Saído de quem saiu, de um Comandante da FRELIMO e uma das maiores máquinas de guerra que combatia a presença dos portugueses em África, é, de facto, para refletir”.

 

Ao serviço do Evangelho

A vida de Miguel Amado tem sido muito rica em experiência humana, permitindo-lhe observar a riqueza e a miséria humana. “Riqueza naquilo que o ser humano tem para dar de generosidade, bondade, simplicidade, exemplo e amor. Miséria na doença, na exclusão social, na injustiça, no esquecimento, na exploração”, afirma. Recorda a experiência muito construtiva com ONG e voluntários. “A maior parte deles são verdadeiros Apóstolos do desenvolvimento, trabalhando muitas vezes com poucas condições logísticas, dificuldades de comunicação e salários baixos.” No Burundi e na Guiné-Bissau viveu cinco golpes de estado. Nos momentos mais difíceis, em que a sua residência se encontrava sob fogo cruzado e a sua vida corria perigo, entregava-se nas mãos de Deus, lendo o Novo Testamento, rezando o Terço e, nesses momentos, interiorizava o testemunho de João Paulo II “como peregrino infatigável e audaz, um verdadeiro combatente e missionário pela causa de Cristo.”

Miguel Amado trabalhou ainda na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, de 2004 a 2008, como Chefe de Unidade de Assuntos Temáticos, Democracia e Direitos do Homem. Em 2006/2007 foi enviado especial do Presidente Barroso (e depois da Comissão Europeia) para Timor-Leste em cinco missões, com o objetivo de dialogar com as autoridades locais, com vista a ajudar a restabelecer a paz, o respeito pela constituição, reforçar a cooperação com a UE e preparar a abertura de uma Delegação da UE no país.

Em janeiro de 2010, juntamente com a mulher, veio definitivamente para Portugal para, finalmente, gozar a reforma. Pouco tempo depois, foi diagnosticado à sua mulher um temor maligno no cérebro. “O seu calvário durou 15 meses até se encontrar com o Altíssimo a 19 de maio de 2011. Foi uma experiência de vida edificante, que nos aproximou ainda mais de Deus e da realidade da vida e da morte”.

 

Fiel à mensagem de Cristo

Miguel Amado sempre foi fiel aos seus princípios e aos valores em que acredita, que brotam da mensagem do Evangelho. “Vi muita miséria, pobreza, doença e falta de perspetivas de vida. A ação de missões católicas que conheci são um exemplo da mensagem do Evangelho e um encorajamento para fazermos mais e melhor.” Durante a sua estadia nos países de missão denunciou as injustiças, trabalhou pela verdade e pela transparência. Foi duro com as autoridades locais. Devido a esta fidelidade e retidão foi considerado persona non grata no Congo; o Governo da República Dominicana também pediu a sua expulsão, pedido que não foi aceite pelo Presidente da República; em Cuba não lhe foi dada acreditação como Embaixador, devido aos seus discursos sobre a democracia e os direitos da pessoa humana. “Um Bispo do Congo dizia, gracejando, que eu era um provocador. Fui, mas sempre a pensar e em nome dos que sofrem a injustiça da governação e a exclusão social. A mensagem do Evangelho é clara: amar o próximo como a nós mesmos. Perante isto, “só deveríamos ter uma reação: mãos à obra! É tempo de agir, reconhecendo antes de tudo que somos pecadores e que dispomos dos Sacramentos que Cristo instituiu para ganhar as forças necessárias de cada dia”.

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