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Papa Francisco
De Roma para Lampedusa, Rio e Lisboa
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Nestes dias muita gente cruzou os mares rumando ao Rio de Janeiro. Também o Papa marcou presença na Jornada Mundial da Juventude. Mas, antes desta, ele efetuou a primeira viagem apostólica à ilha de Lampedusa, não por causa dos seus atributos turísticos, mas para “despertar consciências” e para combater a “globalização da indiferença”.

 

Menos palavras e dar as mãos
A sobriedade dos atos que envolvem esta visita condiz com o respeito devido aos mortos, sobretudo aqueles que ninguém chora; aqueles que, em busca de melhores condições de vida ou simplesmente para a salvarem, se expuseram ao perigo em barcos superlotados sem terem atingido a terra dos sonhos. Por isso ele tomou um barco que, desde 2005, já socorreu 30 mil pessoas vítimas de naufrágio. Nas suas palavras “os mortos no mar são como um espinho no coração” Assim quis sensibilizar os habitantes da ilha, o país e o mundo para a necessidade de acolher essas pessoas e garantir os seus direitos. Quis contatar os que foram resgatados do mar, falar ao povo, mas também, como homem público, deixar uma nota de reprovação pela falta de responsabilidade fraterna; este gesto traz os pobres e frágeis para o meio das preocupações de quem procura imitar Jesus, que valoriza toda a pessoa humana e de uma forma espantosamente nova valoriza o mais pobre e o mais frágil. A fidelidade ao Mestre, mais do que pelas palavras, manifesta-se pelas atitudes. Há que unir as vozes que clamam por justiça, como o fizeram, em representação das Nações Unidas, em vésperas do dia Mundial do Refugiado de 2001, António Guterres e a Embaixadora da Boa Vontade Angelina Jolie, apelando aos responsáveis europeus para “uma adequada forma de solidariedade para ultrapassar o desafio colocado pelos que chegam à ilha”. Também o Papa Bento XVI, na altura em visita à República de S. Marino, convidou as autoridades a “garantirem o acolhimento e dignas condições de vida aos refugiados”.


À sombra da estátua de Cristo Redentor
No Rio, entre as multidões de jovens, o Papa poderá vislumbrar um poderoso potencial de energia transformadora para um mundo mais de acordo com os critérios do Reino: um espaço onde cada um tem o seu lugar, onde a dignidade é igual e intocável para todos, onde os bens da natureza têm um destino universal e não são pertença dos que ostentam as garras mais fortes. O entusiasmo por Jesus e os esforços realizados para estarem presentes só encontram o sentido pleno quando orientados para o que é preciso realizar a partir das jornadas. Do alto do Corcovado contempla-se o espetáculo empolgante da natureza. Mas se a estátua do Redentor fica muda diante dessas belezas, também muda permanece perante os estragos provocados pelas injustiças, pela ganância, pelo egoísmo gerador de violência. Ele só fala através daqueles que com Ele se desejam identificar. O panorama seria mais belo se, mesmo sem estátua, não existissem aqueles redutos de exclusão e violência que são as favelas empoleiradas nas encostas, em contraste com os edifícios e os preparos para os turistas que desfrutam as belas praias do Rio. Talvez os participantes se apercebam desse Jesus desprezado, trocado por um par de sandálias, na pessoa dos que lutam como David contra o Golias das multinacionais, dos latifundiários, dos pistoleiros contratados para matar os pobres que anseiam pelo seu espaço vital. A participação do Papa seguramente vai fazer lembrar aos participantes – em cujas mãos está a responsabilidade pelo mundo de amanhã - que nem todo o que diz “Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas somente aquele que faz a vontade do Pai”.


A nossa ilha e os nossos náufragos
E que os jovens que foram do nosso país possam regressar com vontade de “fazer discípulos”, comprometendo-se com esta “ilha” em que se vai transformando o nosso país, onde os dramas que antes pertenciam a outros, agora são nossos: há os privados da água (foi-lhes cortada por falta de dinheiro para pagar); há os privados do pão de cada dia (reduzido ao mínimo, pelas mesmas razões); os privados dos cuidados de saúde  (cada vez mais entregues ao negócio privado e às lógicas do mercado); há o empobrecimento do país com a fuga dos cérebros (com a “falta de visão estratégica e de respeito pelos cidadãos e contribuintes portugueses”, como há dias lembrava o Bastonário da Ordem dos Enfermeiros). A parábola do bom samaritano continua a lembrar-nos que todos estamos no caminho de Jericó e que olhar para o lado e não querer ver é pura hipocrisia.

texto por P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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