Na paróquia da Ajuda, em Lisboa, a partir de um grupo de jovens nasceu uma associação de luta contra a pobreza e exclusão social. A Associação Ser Ajuda deriva de um grupo que já no seu percurso juvenil punha em prática a fé pela caridade.
Hugo Reis tem 24 anos, é enfermeiro no Instituto Português de Oncologia (IPO) e o seu sorriso testemunha a felicidade de quem procurar viver, no concreto do dia-a-dia, a prática da fé pela caridade. Quando tinha 15 anos integrou um pequeno grupo de jovens na paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, em Lisboa, que desde logo enveredou pela ação sociocaritativa. Hoje, é secretário da direção da Associação Ser Ajuda, uma associação sem fins lucrativos, de luta contra a pobreza e exclusão social, que deriva do caminho de fé realizado em grupo ao longo de sete anos. O grupo Ser Ajuda “já existe há muitos anos aqui na nossa paróquia como grupo”, explica Hugo Reis, salientando que "começou por ser formado como grupo de jovens paroquial, um projeto que acabou por ficar em ‘standby’ até que um conjunto de jovens pelos 15 anos de idade voltou a pegar no grupo como projeto sociocaritativo, adotando o mesmo nome. Nós refundámos o ‘Ser Ajuda’ como projeto sociocaritativo, em 2005”, reforça Hugo Reis, apontando o Congresso Internacional para a Nova Evangelização (ICNE), realizado em Lisboa, como o momento inicial desse caminho. “Esses jovens de 2005 são praticamente os mesmos de agora, em 2013. O grupo mantem-se quase inalterado”, refere Hugo Reis.
A Associação Ser Ajuda
Fundada em 9 de janeiro de 2012, a Associação Ser Ajuda nasce de um caminho de fé destes poucos jovens, de forma inesperada. “Sempre fomos um grupo pequeno, mas nunca fez parte dos projetos que este grupo se tornasse uma associação”, frisa Hugo Reis, também relações públicas da mesma associação. “Começámos com atividades, como orações, terços, teatros cristãos, até que tivemos a oportunidade de desenvolver projetos de carácter caritativo com outras associações. Fizemos rondas de apoio aos sem-abrigo, tivemos várias parcerias com diversas instituições que nos permitiram crescer e perceber como funciona uma associação”, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE o jovem enfermeiro.
Nesta experiência realizada com outras instituições, o grupo de jovens Ser Ajuda percebeu que podia ser ajuda na sua própria paróquia. “Percebemos que havia gente na paróquia que estava disposta a ajudar outras associações. Então, porque não ajudar outras pessoas da paróquia?”, questiona Hugo Reis.
Segundo este jovem, na paróquia de Nossa Senhora da Ajuda existe “um bom corpo de vicentinos mas faltava uma estrutura que olhasse para a família, não só em bens alimentares mas vendo em termos globais. Se calhar não precisa só de um alimento, precisa de uma higiene, de uma roupa, de uma cama... e a Associação Ser Ajuda, desta forma, aproveitou o antigo Centro Social do Cordeiro para funcionar como uma loja social”. Neste centro de distribuição de bens, que esta associação criou no bairro do Casalinho da Ajuda, o apoio dado a cerca de 30 famílias é diversificado e mediante as necessidades de cada família. “As pessoas são ajudadas com vários tipos de bens e de acordo com os seus rendimentos”, observa Hugo Reis.
A descoberta de uma missão para a vida
A missão que, desde cedo, este grupo de jovens começou a desenvolver na paróquia da Ajuda foi também um contributo para o desenvolvimento pessoal e discernimento da vocação e missão profissional que cada um, hoje, desenvolve. “Isto acabou por moldar o grupo, porque nós começámos com 15 anos, no 9º e 10º ano de escolaridade e o ‘Ser Ajuda’ acabou por moldar um pouco o nosso projeto de vida pessoal. Neste momento temos no grupo assistentes sociais, psicólogos e enfermeiros. Mesmo os que enveredaram por outras áreas também dão um grande contributo”, refere Hugo Reis apontando que há grandes mudanças que aconteceram na sua vida, sobretudo na forma de pensar e ver o mundo. “Eu quando tinha 15 anos queria ser engenheiro, queria ganhar dinheiro, queria ter um curso muito reconhecido. É aquilo que nos é incutido neste momento pela sociedade. Mas acabei por ser enfermeiro, o que é bastante diferente daquilo que inicialmente pensava. Percebi, com este projeto do ‘Ser Ajuda’, que não seria numa secretária, à frente de um computador, que seria feliz na minha atividade profissional”, testemunha.
Mesmo no que diz respeito ao seu desempenho profissional, no IPO, a sua experiência de fé está sempre presente e procura pô-la em prática todos os dias. “Há uma coisa que é necessária em Oncologia: a perseverança, a resiliência e a capacidade de, mesmo nas situações mais difíceis, ver a esperança. Não desanimar e não transmitir esse desânimo à outra pessoa. E este projeto e o ser cristão ajudou-me a perceber que Aquilo em que eu acredito, ajuda-me a lidar com o outro. Eu não consigo diferenciar o enfermeiro, do cristão. Não consigo distanciar-me de mim próprio, não o devo fazer e não é isso que me é pedido. O importante é tentar encontrar um ponto de encontro”, sublinha Hugo Reis.
Ser Ajuda em quê?
A Associação Ser Ajuda, com um ano de fundação, apoia mensalmente famílias carenciadas que procuram auxílio na própria paróquia da Ajuda. “As pessoas vêm ter diretamente à igreja para pedir apoio. A Igreja é, ainda, vista como um recurso da nossa sociedade a quem as pessoas vêm pedir ajuda”. Feito o primeiro contacto na paróquia, estas famílias são contactadas pela associação e é marcada uma entrevista, realizada por membros do próprio grupo. “A entrevista é realizada por um membro da associação que é psicólogo e está no grupo desde há nove anos”, destaca o secretário da direção. Nessa entrevista “é feita uma avaliação global da família, depois é realizado um cálculo de acordo com os rendimentos, em bens, e essa pessoa vai ter connosco para recolher esses bens, a uma hora específica, para manter o anonimato”. “Não se cruzam com outras famílias, e essa família é apoiada de acordo com aquilo que necessita”, garante Hugo Reis. Os bens doados podem ser escolhidos entre roupa, bens de higiene, bens alimentares ou outras necessidades “que as pessoas pedem”, aponta. “Há pouco tempo tivemos uma mãe que precisava de um carrinho para bebé. Nesses casos em que não conseguimos que esse bem seja doado, nós tentamos adquiri-lo”, explica.
Mais ajudas
Entre as atividades desta associação, há projetos que são desenvolvidos e que procuram integrar e envolver a própria comunidade e outras instituições de forma mais direta. A Feira de Solidariedade e Saúde, que este ano se vai realizar pela segunda vez, procura dar a conhecer outras associações e consciencializar para a temática. “A primeira que realizámos foi em 2007, ainda como grupo, e foi feita em conjunto com cinco associações: a Cáritas, a Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas, a Ajuda de Mãe, a Ajuda de Berço e a Associação Concha de Afectos. Estiveram cá para dar a conhecer as associações, fazer um trabalho de consciencialização e angariar fundos... Este ano decidimos fazer a segunda edição desta feira, e no dia 23 de novembro vamos ter aqui uma ação de doação de sangue. Será uma iniciativa de comemoração de final do Ano da Fé”, refere Hugo Reis.
Para esta iniciativa, para qual foi escolhido o tema ‘Deus foi o dador universal. Quem é que nós somos?’, a Associação Ser Ajuda conta também com um protocolo com o Instituto Português de Transplantação. “Se Ele nos dá o seu Sangue, como é que nós damos o sangue ao próximo?”, interpela o jovem enfermeiro.
Desconfianças
No concretizar desta missão de prática da caridade, que o grupo de jovens católicos da Ajuda iniciou muito antes de se instituir como associação, surgem, por vezes, dificuldades que nem sempre tem a ver com a falta de recursos ou financiamentos. Para além da “resistência por ser um grupo ligado à Igreja”, a desconfiança pelas idades dos envolvidos neste projeto tornava-se um desafio. “É um desafio para nós fazer perceber que a idade não é sinónimo de despreocupação social. As pessoas muitas vezes ouvem falar do projeto, há inclusive clínicas e hospitais que referenciam a associação, e tudo corre bem até ao dia em que marcam uma reunião e percebem que as pessoas que estão à frente da associação estão na idade compreendida entre os 20 e os 30 anos. Há desconfiança”, lamenta Hugo Reis, explicando que a ideia que hoje se tem do jovem não é a melhor. “Há a ideia do jovem que pede, do jovem egoísta...”, porém, admite que a reação hoje “já não é bem assim”.
O apoio da comunidade local
Na paróquia da Ajuda o apoio a esta associação não deixa de acontecer e é a própria comunidade quem garante a “quase totalidade de todos os bens que são distribuídos”. “São doados às famílias quase cem artigos por mês, o que é muito para ser angariado por pessoas que trabalham e não ganham por estar neste projeto”, salienta Hugo Reis, explicando que os bens doados são pedidos de forma específica. "Nós pedimos roupa de tamanho ‘M’ ou ‘S’, para criança, para que as pessoas percebam o que estamos a pedir. Não precisamos de roupa de crianças se não tivermos crianças apoiadas pela associação. Não se trata de aproveitar o momento para pôr roupa de lado, mas de dar roupa porque outros precisam dessa roupa”.
Famílias necessitadas ajudam outras famílias
Outra iniciativa desta associação procura fazer criar uma “onda de solidariedade que não há noutras associações”. “As famílias apoiam outras famílias”, explica o jovem Hugo. “Se uma família carenciada tem direito a dez bens, um desses bens ou outros que não necessita vai doar a outra família. Quando não conseguem doar bens podem doar até 1 euro, como uma doação, para nós conseguirmos adquirir bens para outras famílias. As famílias sem se conhecerem apoiam-se umas às outras”, esclarece.
Porta aberta à caridade
Hugo Reis considera que a Associação Ser Ajuda, que mantem a sua ligação à paróquia e tem a própria sede na igreja da Ajuda, funciona como “os grupos paroquiais do século XXI”. “Os leigos têm de assumir funções e neste momento há confiança em relação à associação. A associação é uma porta à comunidade para a caridade. O nosso grupo é prova viva de que através da fé se pode pôr em prática a caridade”, comenta Hugo Reis. A Associação Ser Ajuda, que foi fundada oficialmente quando alguns destes membros, após terminarem as suas licenciaturas ainda estavam desempregados, tem nove membros sócios e cerca de trinta colaboradores, desde o 4º volume da catequese até aos 80 anos. O desejo e o sonho para futuro é apenas um: “Conseguir dar resposta aos pedidos que nos chegam”.
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