Artigos |
Manuel Barbosa, scj
Igreja de missões ou Igreja em missão?
<<
1/
>>
Imagem

Quase a finar setembro, estamos quase a iniciar outubro, pedagógica e liturgicamente levado como mês missionário. Nessa sequência, abro este espaço de partilha com a questão que encima estas notas: Igreja de missões ou Igreja em missão?

Penso ser uma questão radical, pertinente e atual. Radical, porque vai à raiz do ser Igreja na sua íntima identidade enquanto mistério, comunhão e missão. Pertinente, quase diria provocadora, pois ainda muita gente vê e fala de uma Igreja confinada apenas aos tradicionais espaços de missão, como se a Igreja existisse quando acontecem eventos missionários, partidas e regressos de missionários e voluntários. Atual, por nos fazer pensar no que de novidade nos trouxe o Concílio Vaticano II, no seu todo e não somente no decreto sobre a atividade missionária, para a compreensão da Igreja como missão.

Claro que se pode sintonizar com uma Igreja de missões. Fala-se muito, e bem, de missão ad gentes, que é para todos, leigos, religiosos, padres (incluindo os diocesanos), bispos e Papa. As reflexões vão navegando por outras expressões, como missão inter-gentes ou trans-gentes, a denotar uma compreensão mais inter-relacionada da missão e a incluir também a velha Europa nesses dinamismos.

As missões são importantes para a Igreja mas, no cerne da sua íntima natureza, ela é e está em missão, só pode ser missionária. Estar em missão é a razão de ser da identidade da Igreja gerada em Jesus Cristo, das suas opções pastorais, da sua fecunda presença no mundo.

A palavra missão foi tendo vários sentidos ao longo da história, ainda hoje contém diversificadas significações. Urge retomar a essência do seu significado original como ação de enviar. O enviado é um missionário, a comunidade é enviada, é missionária, participa da missão que Cristo lhe confia para prolongar nos tempos e nos espaços. A Igreja em missão é pela missão, na missão e para a missão. Todas as estruturas vitais da Igreja devem prosseguir esse objetivo fundamental.

Na mensagem para o Dia Mundial das Missões a 20 de outubro, o Papa Francisco situa-nos neste andamento de missão e no contexto do ainda Ano da Fé, cinquenta anos depois do Concílio Vaticano II.

Transcrevo apenas três excertos. 1. «O anúncio do Evangelho faz parte do ser discípulos de Cristo e é um compromisso constante que anima toda a vida da Igreja». 2. «A missionariedade não é somente uma dimensão programática na vida cristã, mas também uma dimensão paradigmática que diz respeito a todos os aspetos da vida cristã». 3. «É urgente fazer resplandecer no nosso tempo a vida boa do Evangelho com o anúncio e o testemunho, e isso a partir de dentro da Igreja. É importante jamais esquecer um princípio fundamental para todo o evangelizador: não se pode anunciar Cristo sem a Igreja. Evangelizar nunca foi um ato isolado, individual, privado, mas sempre eclesial».

Tudo coisas sabidas, mas nem sempre assumidas em tom renovador. Aqui e ali surgem tentações superficiais de restaurar apenas algumas atitudes e ações de missão, mas sem beber da profunda renovação conciliar, que nos convidam a abrir caminhos novos de uma Igreja em permanente missão, porque essência da sua identidade, a sugerir novas perspetivas e concretizações de vida cristã, como autêntico testemunho, pessoal e comunitário, da missão de Cristo. Aqui e ali surgem entendimentos de processos novos, mesmo chamados de nova evangelização, quantas vezes atinados a novos métodos, expressões e linguagens, mas sem beber da genuína fonte que é a alma e o ardor da evangelização e da missão.

Isso é da essência da Igreja, que somos em Jesus Cristo pela fé, convocada a ser permanente e radicalmente Igreja em missão, seja em situações percebidas como eclesialmente estruturadas, seja em situações consideradas como fronteiras, margens e periferias. Sempre Igreja em missão.