A Sagrada Família trabalhava: segundo a Sagrada Escritura, José era carpinteiro (Mt 13, 55); Maria, segundo a cultura da época, ocupava-se dos trabalhos da casa e da educação de Jesus; Jesus deverá ter aprendido de seu pai a profissão de carpinteiro na oficina de Nazaré. Atentar neste facto pode ajudar-nos a perceber que o trabalho é realidade integrante da vida familiar e que se reveste de grande importância e dignidade, pois doa-nos a capacidade de nos mantermos, a nós e à nossa família, e permite-nos participar na ação criadora de Deus.
Porém, conciliar o trabalho e a família pode ser um desafio exigente!
Por um lado, hoje exige-se que passemos muito tempo no local de trabalho, o que deixa pouco tempo para os trabalhos domésticos, o descanso e o convívio em família, que geralmente fica para último lugar. Além disso, quer pelo facto de a idade de reforma ser cada vez mais tardia quer pela crescente necessidade de migração/emigração em busca de melhores condições de trabalho, são cada vez mais os casais que não podem contar com o apoio da família para a educação dos filhos ou a manutenção da casa. Importa assumir uma atitude vigilante para que o trabalho, que em si mesmo é um bem, não domine a totalidade da nossa vida, constituindo-se obstáculo para a fidelidade à vocação familiar.
Por outro lado, infelizmente, hoje são inúmeras as famílias que sentem diretamente o problema da falta de trabalho. E quando o desemprego afeta um elemento da família, toda a família sofre. A falta de trabalho abala o homem, fere a sua dignidade e atinge-o na sua autoestima. Além disso, exige que a família se reorganize para fazer face às despesas com menos dinheiro, despertando novas dificuldades como o sobre-endividamento ou a escassez de bens essenciais. Neste caso, há que estar atento para a falta de trabalho e de dinheiro não corrompa as relações da família, originando conflitos difíceis de sanar.
Seja por excesso ou por falta, as dificuldades ultrapassam-se unidos, em família Precisamos, portanto, de famílias fortes e solidárias. Nós cristãos somos convidados à comunhão com os irmãos, pelo que somos também responsáveis pelo auxílio às famílias que estão à nossa volta, o que implica uma atitude da vigilância. Que Deus nos ajude a suportar-nos uns aos outros (cf. Ef4, 1-3), sendo mais solidários e atentos às necessidades do próximo, seja família, amigos ou vizinhos. Na verdade, está ao nosso alcance ajudar outras famílias a encontrar o equilíbrio necessário – uma pequena ajuda para as despesas, tomar conta de um filho de vez em quando, dar boleia quando é preciso, ajudar a cuidar do jardim, etc. - são pequenos exemplos do bem que podemos fazer uns pelos outros.
Famílias, trabalhemos pelo bem da Família.
texto pelo Sector da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa
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Testemunho
Nos dias que vivemos, ao refletirmos sobre as realidades Família e Trabalho, pensamos que é algo trivial porque, fazendo do Trabalho o ponto de partida e numa análise rápida e superficial, chegamos à conclusão de que este é indispensável para o sustento da Família e fechamos o assunto.
No entanto, não se trata de um exercício fácil e óbvio, quando queremos ir mais fundo e descobrir os verdadeiros desafios que estas duas dimensões trazem à nossa vida: a sua interpenetração, a prevalência da Família sobre o Trabalho e… o “peso” que o próprio Deus lança com a Sua luz, são variáveis decisivas para as conclusões que surjam.
A minha experiência de vida de dezassete anos de casamento, outros tantos de carreira profissional e de cinco filhos que foram surgindo ao longo de quinze anos, foram determinantes para olhar a relação entre Família e Trabalho de uma forma tão diferente… E tal não significa que as conclusões estejam tiradas, bem pelo contrário, a maturidade que este caminho traz, faz-me perceber que dificilmente o contexto ideal com que por vezes sonho se realizará algum dia, que a realidade que vou vivendo me é proporcionada por Deus e que é nessa mesma realidade que Ele me concede a graça de ir trilhando o meu percurso de Salvação.
A primeira tendência que temos, como em tantas outras coisas na vida, é “engavetar” a Família e o Trabalho: quando estou em Família esquecemos o Trabalho e, na situação inversa com uma carga temporal muito maior, deixamos o resto, tranquilizando a nossa consciência com a justificação da subsistência, de querer dar o melhor aos nossos filhos, etc. quando o que realmente temos no nosso coração é ambição: uma carreira que nos dê poder, protagonismo, autossuficiência e que permita demonstrar, no plano material, que estamos acima dos outros e que conseguimos triunfar.
Rapidamente percebemos que uma separação destas não nos traz felicidade, bem pelo contrário, traz angústia, ansiedade e uma necessidade cada vez maior de que estes nossos princípios sejam entendidos ou, no mínimo, aceites pelos outros, em particular pela nossa Família que é a primeira a sentir as dificuldades da ausência e da falta de disponibilidade que o dinheiro não consegue compensar.
A minha realidade de vida diz-me que aquilo que procuro é um desafio diário. Com a presença de Deus na minha vida, sei ao que Ele me chama e só isso me ajuda a olhar a realidade de uma outra forma.
Sei que sou chamado ao Trabalho porque faz parte da minha realização pessoal que se reflete nos que estão à minha volta, em particular na Família. Sei que, na profissão que exerço, não é possível “engavetar” porque é-me exigida uma disponibilidade em determinados momentos que não posso negar. Mas tenho consciência de que é muito ténue a linha que separa o que é realmente urgente, daquilo que temos mais tempo para fazer.
Esta tomada de consciência, que é iluminada por Deus e pela minha Família através da subtileza dos sinais a que tenho que estar atento a todo o momento, é aquilo de que preciso para o meu equilíbrio simplesmente porque, quando isso acontece, vivo no meu coração um sentimento grande de conforto e paz: Deus e a minha Família estão comigo, no mesmo barco, a remar no mesmo sentido!
E nos momentos mais difíceis, quando caio na tentação de sonhar com algo que não existe e que me esmaga com esse peso da impossibilidade de concretização, sou levantado pela Cruz de Jesus Cristo, para quem a vida não foi certamente fácil, e pelo olhar da minha Mulher e dos meus Filhos que me dizem: «Segue, que nós estamos contigo!»
Pedro Moutinho
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Catequese Doméstica: “O trabalho dignifica”
Dizem os psicólogos que todos nós precisamos de “toques positivos”. Transmite-se um “toque positivo”, quando se dá uma palavra de estímulo, de compreensão e ajuda numa situação difícil, ou quando elogiamos o esforço e o resultado alcançado pelo outro.
Nas relações laborais, esta palavra de estímulo, ou de elogio, é tão importante quanto a necessidade de compreender e aceitar que passamos a vida a sonhar com o Céu, mas o encontro com Jesus faz-se no nosso encontro com os outros: devo ser eu próprio a mostrá-Lo aos outros através de palavras e ações.
De facto, é nos nossos pequenos gestos de atenção, no nosso sorriso e nas palavras amáveis que dirigimos aos outros, ou na atitude de quem se sente implicado na vida e no sucesso profissional dos nossos colegas que Jesus se mostra.
Os países mais avançados são aqueles que proporcionam maior qualidade de vida, mas onde se regista também uma menor conflitualidade social e menor evasão fiscal. Acontece, porém, que os grandes avanços socioeconómicos e empresariais têm geralmente, na sua génese, a capacidade de saber gerar uma boa colaboração dos vários intervenientes, envolvendo e comprometendo cada um, num projeto que será de todos.
Num testemunho de amor ao próximo, a nossa atitude no local de trabalho será reveladora de elevado sentido de responsabilidade perante os riscos das decisões; será manifestação de competência para poder servir; será o zelo em dar frutos e prosperar, porque cada um de nós nasceu para trabalhar e assim alcançará o sentido de uma realização pessoal.
Agora, é a minha vez de fazer aparecer Jesus, porque Ele ressuscitou e está vivo. Agora, é a minha vez de nascer de novo, em cada dia que começa e que nos traz novos desafios. Agora, é a minha vez de valorizar a dignidade da pessoa humana, mostrando ao mundo que o amor de Deus me transforma na confiança reveladora de que, por maiores que sejam as dificuldades profissionais a transpor, eu não estou só.
“Vinda a Mim todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei (…) pois o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve.” (Mt 11, 28-30)
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Aconteceu
No passado dia 5 de Outubro saímos à rua para a anual caminhada pela Família e pela Vida. Motivados pela iniciativa europeia "Um de Nós", pessoas de todas as idades reuniram-se em Lisboa entre o Marquês de Pombal e o Rossio, dando o testemunho entusiasmado de quem defende o respeito pelo Ser Humano em qualquer fase do seu desenvolvimento. Dia 6 foi o dia nacional dedicado à recolha de assinaturas para esta petição a apresentar à União Europeia, a qual ainda poderá assinar em www.oneofus.eu/pt-pt ou www.umdenos.org.
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