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Daniel Comboni é santo desde há dez anos
“Trazer África para o coração da Igreja”
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Em 5 de outubro de 2003, o Papa João Paulo II canonizou Daniel Comboni, padre missionário, fundador da Família Comboniana. Uma família missionária que está presente em Lisboa e que na sua missão tem procurado valorizar o povo africano pelas suas próprias capacidades.

 

O padre Daniel Comboni “foi um homem de visão. Alguém que teve uma visão muito grande”, destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE o provincial dos Missionários Combonianos em Portugal, padre Alberto Silva, referindo-se ao fundador do Instituto que serve e das Irmãs Missionárias Combonianas.

Nascido em Limone Sul Garda, Itália, em 15 de março de 1831, Daniel Comboni sente, desde criança, o desejo de ser missionário. Aos 18 anos, enquanto aluno do colégio do padre Nicolau Mazza, que acolhia as crianças pobres para que pudessem continuar os seus estudos, ouviu o testemunho de um sacerdote missionário em África que falava de regiões onde os povos morriam de fome, doenças e por causa do comércio de escravos. Sentindo-se interpelado, Daniel Comboni decide consagrar a sua vida à evangelização do continente africano. Em setembro de 1857, com 26 anos de idade, já padre, parte para a África com mais cinco companheiros. De 1862 a 1864, Comboni vive dois anos decisivos. Percorre a Itália e vários países da Europa com a finalidade de envolver os cristãos europeus na tarefa de evangelização da África. Estabelece contactos, recolhe fundos, procura colaboradores, acolhe ideias para elaborar um plano. Esse plano (‘Plano para a Evangelização da África Central’) que, segundo o padre Alberto Silva, “foi escrito em 48 horas”, procurava fazer com que  os missionários fossem para a África não para se instalar nela mas para criar as condições que levassem os próprios africanos a ser promotores da evangelização da África. “A ideia dele era evangelizar a África com a África. Salvar a África com a África”, acentua, sublinhando ainda que o padre Daniel Comboni “foi um missionário de terreno”. “Não alguém que funda um instituto para a África sem nunca lá ter ido. Ele viveu a partir dali e lia a própria realidade a partir de África, onde viveu e morreu”, salienta.

Em 1867, para cumprir este plano que propunha, o padre Daniel Comboni funda o Instituto para as Missões Africanas, e em 1872 as Pias Mães da Nigricia, hoje designados por Missionários Combonianos do Coração de Jesus e Irmãs Missionárias Combonianas, respetivamente.

 

Uma obra que não morrerá

No ano de 1877, o padre Daniel Comboni foi nomeado Bispo da África Central e, segundo os seus biógrafos, no momento da tomada de posse terá afirmado: «No meio de vós, nunca deixarei de ser vosso. O dia e a noite, o sol e a chuva encontrar-me-ão sempre pronto para as vossas necessidades: o rico e o pobre, o são e o enfermo, o jovem e o velho, o patrão e o servo terão sempre acesso ao meu coração. Faço causa comum convosco e o mais feliz dos meus dias será aquele em que puder dar a vida por vós». Daniel Comboni veio a falecer a 10 de outubro de 1881, em Cartum, vítima do cansaço e das febres da época, deixando uma mensagem aos seus sucessores: “Coragem no presente, mas sobretudo no futuro. Eu morro, mas a minha obra não morrerá!”.

Segundo declarações do provincial deste instituto missionário em Portugal ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Daniel Comboni “era uma figura muito rica humanamente e espiritualmente” e “sempre foi um homem muito aberto”. Na sua missão procurava entusiasmar outros para a necessidade de olhar para aquele continente. “Vinha com frequência à Europa para animar. Vinha da África dar testemunho, falar da missão, animar a Igreja. Porque naquele tempo a África estava completamente escondida e ele queria pôr a pérola negra na coroa da Igreja”, frisa o padre Alberto Silva, provincial desde há seis anos, referindo que o padre Daniel Comboni “atraiu a atenção de pessoas na Europa e na própria Igreja". “Ele vivia para a África. Era um homem de uma visão e de uma paixão muito forte”, acentua.

 

Inspiração carismática

Na base do carisma fundacional deixado pelo padre Daniel Comboni está a espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus que, segundo o responsável da Província Portuguesa dos Combonianos, “é típica deste tempo”. “Nós temos essa espiritualidade muito forte”, observa. E conta: “O padre Daniel Comboni andava à procura de formas para conseguir fazer penetrar o Evangelho nestes países. Mas a nossa presença naquele tempo era muito difícil. Teve, então, a inspiração na altura em que se preparava para o Tríduo de Santa Margarida Maria Alacoque. Encontrou o Coração de Jesus como aquela fonte donde dimana a força e a vida para a regeneração da África. Foi inspiração carismática”, sublinha.

Segundo o provincial dos Combonianos, para o padre Daniel Comboni, canonizado pelo Papa João Paulo II em 5 de outubro de 2003, “o aspeto do laicado era muito importante”, e a primeira ideia de fundação não previa um instituto religioso. “Inicialmente não era sua intenção fundar um instituto. A visão dele era alertar para a consciência de toda a Igreja de que era preciso anunciar o Evangelho e trazer África para o coração da Igreja”. Para isso, refere, “tentou várias formas e o sentido de colaboração que está nos Combonianos está também nas origens”. Deste modo, o padre Daniel Comboni fundou os missionários combonianos e as irmãs missionárias, mas “os leigos também estavam presentes”. “Tinha pensado numa família missionária que vivia em cenáculos, comunidades, de onde irradiaram raios para o centro de África. Construiu obras de educação em África para serem eles os protagonistas do próprio desenvolvimento”, explica o padre Alberto Silva.

 

Amor sem medida

Diante do testemunho deste santo que foi, também, o primeiro Bispo da África Central, os combonianos sentem-se, hoje, interpelados. “Ele inquieta-nos com essa paixão e atenção à realidade e a entrega total que teve, como alguém que se dá completamente, dá a sua vida aos africanos em excessivo amor sem medida”.

Dez anos passados da canonização, depois de reconhecido o milagre operado por sua intercessão em favor de uma mãe muçulmana do Sudão, Lubna Abdel Aziz, a figura de São Daniel Comboni “obriga a olhar para as origens, para as raízes e cuidar delas”, recorda o padre Alberto Silva. Por outro lado, considera que há a partilha de “uma grande riqueza”. “Já não é algo nosso, mas a missão é para a Igreja universal. Quem vive deste manancial acaba por enriquecer o próprio carisma e todo o laicado, toda a Igreja pode viver a missão comboniana. Deixou de ser nosso mas enriquece a própria família”, reconhece. Sobre o milagre que levou à canonização, o padre Alberto justifica: “O milagre que levou à canonização foi a cura de uma muçulmana, e isso é típico de um missionário. A sua ação vai para além das fronteiras da Igreja. Deus está onde o povo está”.

 

Missão em Portugal

Na família comboniana há, em todo o mundo, cerca de 4000 membros, entre padres, irmãos e irmãs. O que, para o provincial em Portugal, “é pouco”. Em Portugal estão presentes nas dioceses de Braga, Porto, Aveiro, Viseu, Santarém e Lisboa, onde têm comunidades paroquiais entregues em Camarate e Apelação. Esta nova experiência de paróquia, que se repete também em Calvão, na Diocese de Aveiro, “tem a ver com o caminho que a própria Província tem vindo a fazer”, explica o padre provincial ao Jornal VOZ DA VERDADE. “As seis comunidades em todo o país procuravam fazer animação missionária e formar; preparar missionários para a África. Eram casas que funcionavam para fecundar e dar força ao trabalho missionário. Hoje continua essa urgência, mas enquanto aqui estamos é necessário responder às necessidades locais”, salienta o sacerdote religioso. Por outro lado, aponta: “Neste momento estamos com poucas vocações, os seminários estão desertos e também aí o laicado adquire um valor importante”.

Por detrás destas comunidades paroquiais, onde agora os combonianos também marcam presença, está uma perspetiva de “presença multiministerial”. “A comunidade [canónica] é de três, um dos quais é irmão”, destaca. Quanto ao lado feminino, a existência das irmãs combonianas vem manifestar “que a mulher situada e contextualizada pode ajudar” na Igreja. Em Fetais, que é um lugar da paróquia de Camarate, as religiosas missionárias “têm uma presença muito interessante”, comenta, apresentando o exemplo do projeto ’Despertar’ que é de “atenção às crianças de rua, onde são apoiadas cerca de 30 crianças”. “São respostas simples que vamos dando com rosto humano e simplicidade”, garante.

Também neste projeto estão presentes os voluntários que colaboram com a família comboniana. “Do outro lado da rua também há ocasião para ser missionário”, adverte o padre Alberto Silva sublinhando que “não é preciso ir para fora para ser missionário”. “Ser missionário é um modo de estar! Já não é simplesmente uma geografia”, frisa. 

 

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Compartir a dimensão missionária

A aposta nos mais jovens é um desafio que também foi possível pela chegada de novos membros. “Em Lisboa, com a vinda de dois novos membros portugueses, quis dar-se um novo ímpeto à pastoral juvenil e vocacional”, salienta o padre Alberto, referindo o JIM (Jovens In Missio) como dinâmica, de cariz também paroquial, onde têm apostado. “Tem como visão não tirar os jovens da paróquia mas fazer com que os grupos possam ter esse fermento e cariz missionário. Tem um programa de pastoral que se vai fazendo dentro da própria vida paroquial e assim comparte-se a dimensão missionária”, refere.

Os missionários combonianos vão, ainda, procurando fazer a animação missionária, “investindo na formação de leigos” com cursos de formação e espiritualidade missionária, e têm ainda grupos de oração missionaria.

 

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Media para a Missão

Em Portugal, os Missionários Combonianos tem três meios de comunicação com os quais procuram divulgar as suas atividades e dar voz a África. A revista missionaria ‘Além Mar’, a revista juvenil ‘Audácia’ e a folha ‘Família Comboniana’  fazem parte de uma das “grandes vertentes da ação missionária” dos combonianos. “O campo dos media foi sempre utilizado desde o tempo do fundador”, refere o padre provincial referindo os objetivos das publicações. “Formação e informação. Informação do que se passa noutras igrejas e proximidade de culturas, procurando ser e fazer opinião. Que África tenha voz! Dar voz a eles mesmos, fazê-los protagonistas”, esclarece.

texto por Nuno Rosário Fernandes, com DPB; fotos por DPB e Combonianos
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