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O trabalho dos padres capuchinhos com os refugiados no Sudão
Como sobreviver a um sonho desfeito?
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Fogem de quê os que se lançam estrada fora, ou se enfiam em frágeis barcaças à procura de uma terra prometida? Muitos estão sepultados no Mediterrâneo, a caminho de Lampedusa, e sobre eles o Papa Francisco já sobressaltou consciências. Milhares dos que fogem vêm da Eritreia e estão confinados a campos de refugiados no Sudão. É lá que vamos encontrar os padres Capuchinhos.

 

Fogem de quê? Fogem da miséria, do medo, do terror, da arbitrariedade. Fogem de uma vida de escravidão. O Padre eritreu Abba Musse dirige uma organização de apoio a refugiados, a Agency Abesha, em Roma. Quando se refere ao seu país, não poupa as palavras. Usa-as para explicar o desespero dos seus compatriotas, mas também para despertar consciências, como se as suas palavras fossem o último grito de alarme. “Muitos denominam a ditadura na Eritreia ‘a Coreia do Norte da África’”. Não há pior comparação possível.
Tal como o Padre Musse, também diversas ONG’s, como a Amnistia Internacional, acusam Isaias Afewerki, o presidente da Eritreia, de violações sistemáticas dos direitos humanos e de mandar prender os principais opositores políticos.

Escravatura e fome

Fogem como? Ainda recentemente, o mundo assistiu, chocado, à tragédia de Lampedusa, em que morreram cerca de 300 homens, mulheres e crianças. O Papa Francisco, comovido, denunciou a “indiferença em relação àqueles que fogem da escravatura e da fome para encontrar a liberdade, e encontram a morte”.

Ninguém quer lembrar, mas também ninguém pode esquecer. Foi uma quinta-feira, dia 3 de Outubro. A embarcação que se afundou ao largo de Lampedusa arrastou para a morte imigrantes clandestinos oriundos da Somália e da Eritreia. Antes e depois desta data fatídica, “um dia de lágrimas”, disse o Papa Francisco, muitos outros já pereceram nas mesmas águas e todos tiveram a mesma ambição: chegar a algum lugar onde a vida fosse mais fácil. Apenas isso.

Cenário alarmante

Mas fogem de que miséria, de que medo, de que arbitrariedade?

A Eritreia é um dos países mais pobres do mundo. Mas também é um dos mais perigosos. Dizer o que se pensa é uma utopia, um risco. Dá direito a cadeia. A organização Repórteres sem Fronteiras diz que este país é o que tem menos liberdade de imprensa no mundo.
A opressão do Estado é como uma ameaça que pende sobre todos. Como na Eritreia ainda ecoa o medo e o sentimento de insegurança que resultou da trágica guerra com a Etiópia, o serviço militar, por exemplo, é obrigatório e pode durar tempo indefinido. Muitos fogem por causa disso.

Na Eritreia falta quase tudo menos o poder arbitrário que ameaça os cidadãos. A liberdade religiosa é também uma miragem.

Na semana passada, a relatora especial das Nações Unidas sobre a Eritreia apresentou à Assembleia Geral um documento sobre a situação dos direitos humanos no país. Sheila Keetharuth explicou que os civis sentem-se "presos numa situação longa e desesperante". Por isso, fogem. Sheila lançou um apelo à comunidade internacional para se concentrar nos esforços de protecção aos refugiados deste país, que vivem, disse, um "cenário alarmante".

 

Um drama quotidiano

São milhares os eritreus que estão em campos de refugiados nos países da região. Mesmo junto à fronteira, na cidade de Kassala, os padres capuchinhos decidiram que tinham de fazer alguma coisa por este povo mártir, por estas pessoas que fugindo da absoluta miséria foram parar a um campo de tendas onde estão agora reféns da bondade dos outros.

Estes padres criaram dois centros no Sudão: um em Kassala, junto à fronteira com a Eritreia, e outro na capital, Cartum. Dão apoio a cerca de 25 mil refugiados por ano, procurando reverter uma catástrofe de proporções inimagináveis que todos os dias lhes bate à porta.
São apenas cinco. Um deles, o sacerdote Ghebray Beedemariam, de 58 anos e que está a trabalhar neste projecto há dezanove, sublinha o drama a que assiste quotidianamente: “A situação dos refugiados eritreus no Sudão é deprimente. A maioria deles são jovens e sobrevivem com trabalhos ocasionais, ou com pequenos negócios que apenas dão para viver.”
Segundo a ONU, somente no ano passado, mais de 305 mil civis fugiram do país. Actualmente, entre 2 mil e 3 mil eritreus emigram todos os meses.

O mundo sobressalta-se quando escuta a notícia de uma embarcação no Mediterrâneo, normalmente junto à ilha italiana de Lampedusa. Para os padres capuchinhos, no Sudão, todos os dias são dias de lágrimas. O Padre Beedemariam pede-nos ajuda. Vamos dizer-lhe o quê?

 

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