A paróquia do Maxial, em Torres Vedras, reuniu no passado Domingo, dia 3 de novembro, cinco dos sete sacerdotes que foram párocos naquele lugar desde 1951. Um facto, provavelmente, “inédito” na diocese, que foi acompanhado pelo Jornal VOZ DA VERDADE.
Debaixo de uma tarde ensolarada, a paróquia do Maxial engalanou-se para receber não apenas o Patriarca de Lisboa, que viria a presidir à celebração da Eucaristia, mas também (quase) todos os antigos párocos daquela paróquia desde o ano 1951 até à atualidade. “Foi para toda a comunidade algo muito importante, motivador e congregador dos cristãos, não apenas do Maxial mas da freguesia em geral”, referiu ao jornal VOZ DA VERDADE o atual pároco, padre José Miguel Ramos, de 32 anos. Segundo este sacerdote, “muitas famílias, de certo modo afastadas da prática regular da fé, sentiram-se convocadas e interpeladas” a participar nesta celebração. “Muitos vieram recordar o que foi a sua caminhada cristã no passado”, observa, apontando ter tido “muitos bons ecos sobre este encontro dos antigos párocos”.
Caso inédito?
A celebração do passado Domingo reuniu os antigos párocos do Maxial, um facto que tem uma especificidade que o torna “talvez inédito”, frisa o padre José Miguel Ramos. Explicando que “este deve ser caso único na diocese”, o padre José Miguel refere que esta paróquia, “desde 1951, ininterruptamente, teve a passagem de sete sacerdotes, e estão todos vivos. Isto é um período de tempo de 62 anos, e por isso é algo de inédito e de dar graças a Deus”, acentua, sublinhando o valor de “poder admirar a diversidade e a riqueza da Igreja nos seus pastores”.
Atual pároco foi seminarista no Maxial
Pároco do Maxial desde 2008, o padre José Miguel Ramos refere ao jornal VOZ DA VERDADE que já conhecia a comunidade porque tinha "estado a trabalhar nesta paróquia como seminarista", durante a sua formação pastoral. "Já conhecia muito da história e das pessoas da paróquia", daí que a integração tivesse sido "muito fácil", garante.
Quando chegou a este lugar, o padre José Miguel encontrou colaboração por parte dos leigos. "Pessoas disponíveis para continuarmos o caminho", salienta, observando que pôde colher dessas pessoas “a experiência, a amizade, proximidade e disponibilidade" para prosseguir o trabalho iniciado anteriormente. No entanto, apesar de ter realizado uma parte da sua formação pastoral nesta paróquia, enquanto frequentava o Seminário dos Olivais, vir a ser pároco deste lugar nunca foi um seu objectivo. "Quando estive aqui como seminarista, nunca pensei que viria a ser pároco desta comunidade", frisa o padre José Miguel Ramos.
Paróquia rural
A paróquia do Maxial localiza-se no concelho de Torres Vedras e caracteriza-se por ser "predominantemente rural". Com a recente agregação de freguesias que se verificou em todo o país, o Maxial acoplou a si a freguesia de Monte Redondo, "uma freguesia vizinha, que tinha cerca de 900 habitantes". Feitas as contas, as duas freguesias somam agora "perto de cinco mil habitantes", o que torna um lugar de grande dispersão. “Enquanto paróquia, o Maxial tem diversos lugares de culto, e a dispersão geográfica acaba por condicionar a atividade pastoral”, aponta o atual pároco.
Pequenos lugares com autonomia
Segundo o padre José Miguel, a paróquia do Maxial "não tem grande expressão" no que diz respeito à presença de movimentos eclesiais na comunidade, concentrando-se, por isso, a atividade pastoral da paróquia "na vivência da Eucaristia, na presença junto dos doentes e dos mais idosos e junto da adolescência”. “Temos aqui uma escola de 2º e 3º Ciclo onde procuramos estar presentes", salienta este sacerdote, que assumiu a paróquia de Maxial há cinco anos.
Agregados à paróquia do Maxial estão quatro lugares de culto que funcionam "de forma autónoma”. "Cada centro tem os seus grupos de catequese, tem o seu coro e por vezes parece que vivem como se fossem mini-paróquias, o que acaba por ser, para os sacerdotes que assistem, um grande desafio acompanhar estas comunidades", observa.
Assim, nos lugares de Aldeia Grande, Ermegeira, Lobagueira, Vila Seca e Maxial frequentam a catequese, na totalidade, cerca de 120 crianças, “até ao 6º volume”, refere o pároco, explicando que depois do sexto ano de catequese “não há grande seguimento”. “A possibilidade passa pela integração num grupo de jovens numa comunidade vizinha”, aponta.
Desafio pastoral
Para este sacerdote, o grande desafio assumido nesta comunidade passa por “ajudar as pessoas a descobrir Cristo Vivo”, ou seja, ajudar a “passar de uma fé que é simplesmente herança cultural, religiosidade popular, traduzida em muitas devoções, a uma fé mais comprometida no dia a dia e vivida na família”.
Numa tentativa de abertura a outras dimensões da fé, a paróquia do Maxial, juntamente com as outras três paróquias que este sacerdote acompanha pastoralmente [Ramalhal, Monte Redondo e Matacães], está a promover "uma atividade que procura ser uma abertura ao pensamento, à cultura e à arte”. Segundo explica o pároco ao Jornal VOZ DA VERDADE, esta iniciativa consiste na realização de “um encontro aberto, para uma aproximação à fé através da arte. É uma forma de desafiar as pessoas a um outro olhar sobre a arte, a vida e a fé", acrescenta.
Para este sacerdote, acompanhar as paróquias de Maxial, Ramalhal, Monte Redondo e Matacães, “não é tarefa fácil. “Tem muitos lugares associados a cada uma destas paróquias”, justifica, salientando, no entanto, que este ano tem a ajuda "exemplar de dois sacerdotes" mais velhos: o padre José Manuel e o padre Calheiros. “É um grande desafio! Mas dou graças a Deus por ele e gosto muito de o viver", assume o padre José Miguel.
Rezar pelos seminários e vocações
Olhando para a sua própria experiência de pastor, este jovem pároco considera ser “urgente a sensibilização da diocese para a oração pelos seminários e pelas vocações". “As pessoas muitas vezes tendem a imaginar que os sacerdotes aparecem do nada, sem uma história, sem uma interpelação ou caminhada com Cristo. Por isso é importante ajudar as pessoas a olhar mais para os seminários. É fundamental dizer aos jovens que quando o Senhor chama, o resultado é a maravilha de descobrir que Cristo conta com eles para serem pastores do seu Povo e da sua Igreja”. Na história recente desta paróquia está, ainda, na memória a vocação do padre Francisco José, falecido em 2007, aos 45 anos. “Foi uma vocação sacerdotal que marcou muito a paróquia do Maxial. O seu testemunho, o seu amor a Jesus Cristo e a sua dedicação marcam ainda a vida desta paróquia”, conclui.
Abrir as portas a Cristo
“Aconteceu aqui no Maxial o que aconteceu há dois mil anos atrás com Jesus, quando disse a Zaqueu ‘quero entrar em tua casa’”. A afirmação é do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, perante as centenas de pessoas que encheram a pequena igreja de Santa Susana do Maxial, na celebração do passado Domingo. Salientando a presença naquela celebração de cinco dos sete antigos párocos do Maxial desde 1951, D. Manuel Clemente frisou que “se estes sacerdotes estão aqui, os mais novos e os mais velhos, é porque quando Jesus lhes disse quero entrar na tua casa, eles abriram a porta do seu coração. E não foi só uma vez, porque isto tem de ser todos os dias”, acentuou. "Se Cristo sacerdote esteve aqui no Maxial na figura de cada um destes padres, foi porque cada um deles, como Zaqueu, lhe abriu a porta do seu coração”, reforçou o Patriarca.
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Párocos do Maxial desde 1951 até ao presente
Padre Manuel Joaquim P. Branco
1951-1959
Padre Fernando Guerra
1959-1964
Padre Félix Correia Tavares
1964-1983
Padre António Joaquim Lopes
1983-1991
Padre Jaime Pereira da Silva
1991-1997
Padre António Manuel P. F. Ramires
1997-2008
Padre José Miguel L. Ramos
Desde 2008
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Um pouco de história
“Diz a lenda, a tradição, e também a história, de que o Maxial teve administração muçulmana e que D. Afonso Henriques, o doou em 1148 a Cavaleiros cristãos- Cruzados, em recompensa de serviços prestados à causa do rei, na conquista de Lisboa aos mouros em 1147.
Estes cavaleiros, teriam edificado uma igreja cristã no local da mesquita então existente, dedicando-a a Santa Susana. A Capela-mor desta igreja corresponde a atual capela, ainda hoje existente no cemitério do Maxial.
Assim nasceu a comunidade cristã e igreja paroquial do Maxial, que nos seus primeiros tempos, constituiu um Priorado da Apresentação dos Padres Beneficiados da Colegiada de S Miguel de Torres Vedras - porém, em 1493 era então Prior da Igreja de Santa Susana do Maxial o padre Gabriel Fernandes, segundo documento existente na Sé de Lisboa.
Depois de Gabriel Fernandes há um interregno, de mais de 100 anos, porque só em 1617 aparece o priorado do padre Alves da Mota que dura até 1634. Novo interregno de 19 anos vai de 1634 a 1653, data em que toma posse o padre Domingos Cardoso Monteiro. De 1653 a 1914, ou seja durante 261 anos não houve mais interregnos, isto é a paróquia teve sempre pároco. O último interregno surge de 1914 a 1951, data em que o Padre Manuel Joaquim Pedro Branco tomou posse de pároco da Paróquia, após uma 'penalização’ de 37 anos. As causas parecem estar relacionadas com a mudança do regime no país, ou seja, o fim da Monarquia e a implantação da República. Neste período, de 1906 a 1914, era pároco o Padre Manuel Sabino Marques, que teve dificuldades políticas, tenhamos em conta que ele era Pároco e Presidente da Junta da Paróquia, antecessora da Junta de Freguesia. Durante este interregno de 37 anos, os serviços mais importantes da Paróquia foram assegurados graças à boa vontade dos Párocos das freguesias vizinhas de Ramalhal, Lamas e Vilar”.