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A uma janela de Roma
Papa publica Exortação Apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual
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Foi publicada a Exortação Apostólica ‘Evangelii Gaudium’. Na semana em que falou da morte, o Papa Francisco pediu aos cristãos para colocarem Jesus no centro das suas vidas e recebeu em audiência o presidente russo.

 

1. São cinco os capítulos da primeira Exortação Apostólica do Papa Francisco, ‘Evangelii Gaudium’ (‘A alegria do Evangelho’), que foi publicada terça-feira, dia 26 de novembro, e que tem alguns subtítulos bem sugestivos: “Não a uma economia de exclusão”; “Não à idolatria do dinheiro”; “Não a um dinheiro que governa em vez de servir”; “Não à desigualdade social que gera violência”. É que, perante os sérios desafios do mundo atual, Francisco assume uma voz de denúncia. O Papa diz que a economia de exclusão mata; que é intolerável ser hoje mais importante uma descida na bolsa do que a morte de um idoso com frio, deitar comida no lixo quando há gente com fome, ou excluir pessoas, como se fossem descartáveis... Com a crise financeira, criámos novos ídolos, o dinheiro e o bem-estar anestesiam-nos, vivemos na ditadura de uma economia sem rosto, que nega a primazia do homem e o reduz a necessidades consumistas. Vivemos sob a tirania dos mercados e da especulação financeira, à qual se junta a corrupção e evasões fiscais à escala mundial. O Papa incentiva os peritos financeiros e os governantes a não excluírem Deus, nem esquecerem os pobres, porque “o dinheiro deve servir e não governar!”.

A dimensão social da evangelização deve influenciar a vida na praça pública. Francisco apela ao combate das causas estruturais da pobreza e à promoção de um desenvolvimento integral dos pobres a partir de uma nova mentalidade que dê prioridade à vida de todos em vez da posse dos bens por parte de alguns. E o clamor dos pobres não é apenas por comida, mas também por educação, saúde, trabalho e salário justo.

A alegria é inerente aos cristãos, mas Francisco queixa-se que há muitos evangelizadores azedos e com cara de funeral... Ora, como a transmissão da fé não é compatível com esquemas enfadonhos, o Papa lança, neste documento, uma série de pistas para a nova evangelização, a começar por ele próprio. Diz que “não se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva sobre todas as questões relacionadas com a Igreja e o mundo” e que é preciso descentralizar a favor dos episcopados locais. Francisco propõe uma conversão pastoral e missionária; a simples administração não basta, há que tornar as estruturas mais comunicativas e abertas, em contacto com as pessoas.

Paróquias, instituições, bispos, o próprio Papa e o Vaticano não escapam à necessidade de conversão. Francisco diz-se “aberto a sugestões” para que o seu magistério seja mais fiel a Cristo e às necessidades atuais da evangelização. Afirma que o anúncio da Igreja deve centrar-se no essencial, no que é mais belo e necessário, porque hoje corre o risco de a mensagem aparecer mutilada ou reduzida a um conjunto de regras morais fora do contexto.

São muitas as tentações dos agentes pastorais: mesquinhez, má-língua, falta de ousadia, pessimismo, aparência, vaidade, mundanismo espiritual... E como há muitas reclamações contra más homilias, Francisco também dedica várias páginas ao assunto, ensinando mesmo como deve ser feita uma boa pregação. Porque o pregador que não se deixe tocar por Cristo torna-se um falso profeta ou um charlatão vazio.

 

2. O Papa criticou, na audiência-geral de quarta-feira, a visão dos que não têm fé e encaram a morte como o fim de tudo. “Esta conceção da morte é típica do pensamento ateu, que interpreta a existência como um encontrar-se casualmente no mundo e um caminhar para o nada”. Mas existe também um “ateísmo prático”, diz o Papa: “Que é um viver só para os próprios interesses e para as coisas terrenas. Se nos deixarmos apanhar por esta visão errada da morte, não temos outra escolha a não ser ocultar a morte, negá-la ou banalizá-la, para que não nos assuste”.

 

3. Na missa de encerramento do Ano da Fé, no passado Domingo, 24 de novembro, o Papa convidou os fiéis a entregarem a Jesus a sua história. “Jesus é o centro da criação; e, portanto, a atitude que se requer do crente – se o quer ser de verdade – é reconhecer e aceitar na vida esta centralidade de Jesus Cristo, nos pensamentos, nas palavras e nas obras. Quando se perde este centro, substituindo-o por outra coisa qualquer, disso só derivam danos para o meio ambiente que nos rodeia e para o próprio homem”, afirmou.

Esta celebração, acompanhada por milhares de pessoas na Praça de São Pedro, contou com momentos especiais. O Papa Francisco pegou numa caixa com as relíquias de São Pedro durante a recitação do Credo. Também simbolicamente no encerramento deste Ano da Fé, Francisco distribui 36 exemplares da nova Exortação Apostólica ‘A alegria do Evangelho’, a vários representantes de cinco continentes.

No sábado, perante milhares de catecúmenos, oriundos de todo o mundo, o Papa sublinhou que “o mistério do amor de Deus permite viver com serenidade e esperança”.

 

4. O Papa Francisco recebeu em audiência o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin. A questão da Síria esteve no centro das atenções da conversa, com ambos a expressar, por via de intérpretes, a sua preocupação pelo país. Putin agradeceu ao Papa a carta que lhe escreveu em setembro, quando o G20 se encontrou em Moscovo, em que pedia aos líderes para colocarem de lado a procura “fútil de uma solução militar para o problema”. Na altura a carta deu força à Rússia, que estava a tentar evitar uma intervenção internacional liderada pelos Estados Unidos, o que acabou por conseguir.

No encontro de terça-feira, Vladimir Putin fez chegar ao Papa saudações da parte do Patriarca Cirilo, de Moscovo, mas segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, não foram discutidos assuntos ecuménicos.

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