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Isilda Pegado
A UNIÃO EUROPEIA - Uma Identidade?
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Este pequeno Continente que vai dos montes Urais ao Cabo da Roca, é hoje espelho de uma geografia política que muito mudou ao longo dos séculos. Começa por se definir a partir do Império Romano, com a formação de alguns Estados, vêm depois as invasões de outras culturas, as redefinições de fronteiras, as guerras, o bloco soviético, a queda do muro de Berlim, conflitos armados no Cáucaso, e ainda algumas autonomias.

De toda esta dinâmica resultou uma heterogeneidade de línguas, de costumes, de morfologia humana (altos e louros os nórdicos, morenos e baixa estatura os latinos), de hábitos alimentares e gastronomia, de organizações sociais, etc., etc. Só com um grande esforço intelectual (duvidoso) se poderia dizer que há uma unidade Europeia. Ou então, não será a Europa mais do que uma península do grande Continente Asiático?

Porém, o certo é que a Europa se afirmou ao longo dos séculos com identidade própria, inconfundível com África ou com a Ásia. E, foi mesmo capaz de exportar este seu modelo civilizacional para todos os outros Continentes.

Como diz George Weigel, se um extraterrestre entrasse nos Urais e caminhasse por cidades, vilas e aldeias até ao Cabo da Roca, encontraria muita diversidade de gentes, usos e costumes, mas em todos os lugares encontrava a Cruz de Cristo, quanto mais não fora, nos cemitérios.

Esta é a grande unidade da Europa. A sua matriz identitária. A qual, já não se expressa numa obediência ao Papa, ou numa prática religiosa marcada, ou sequer por um estilo de vida conforme à moral cristã. Mas é antes firmada numa antropologia que radica profundamente na Dignidade do Homem, como valor superior da Sociedade.

Uma Dignidade que resulta do Ser e não do Agir ou do Fazer (o embrião humano, o idoso ou o jovem têm igual dignidade). Uma dignidade que afronta qualquer poder político porque está primeiro e acima daquele.

Uma Dignidade que constrói corpos sociais intermédios (família, sindicatos, ONG’s, Universidades, Partidos Políticos, Igrejas) capazes de ditar os destinos de um e cada povo.

Uma Dignidade que não abdica das suas raízes e tradições e por isso cerra fileiras em torno da autonomia de cada Nação.

Uma Dignidade que estruturada na Liberdade reconhece às outras culturas (com algumas históricas e vergonhosas excepções) lugar e valor próprios.

Esta cultura emergente formou, proclamou e firmou os Direitos Humanos e os Direitos Sociais e Políticos. Caminhou para o progresso de mão dada com a ciência e as tecnologias.

A União Europeia, herdeira institucional de toda esta história tem gerido mal, esta questão do seu “ADN”. Por isso, ciclicamente se coloca a questão.

Em Bruxelas muitas são as ONG’s que fazem um trabalho de lobbying em matérias que se prendem com as chamadas questões fracturantes – a Bioética, a Família, a Liberdade de Educação, a Subsidiariedade e a Liberdade Religiosa.

Pese embora, a União Europeia não tenha legitimidade para legislar directamente sobre aquelas matérias. Mas, qual “Capital de Império”, Bruxelas tem, nos últimos 20 anos, ousado ditar “recomendações”, “resoluções”, “programas quadro” que tangem com a definição da Dignidade do Homem e ferem a sua identidade (ADN). Definir o que é o Homem é talvez a tentação maior do Poder. E, onde está o Poder, este conflito e vertigem são evidentes.

A Europa está em crise. A identidade da Europa está abalada por muitas intervenções que nesta área se têm feito em Bruxelas. Nenhuma civilização é estática. Mas quando se abala a sua identidade o edifício pode ruir.

Na sua Exortação Apostólica “Evangelii Guadium” o Papa (entre outros muitos e bons aspectos) alerta para os perigos do individualismo “onde deixa de haver espaço para os outros”. É um outro homem que se pretende inventar. A Europa da manipulação genética, do direito ao aborto, da família anulada, da educação sexual estatal, do racionalismo laicista, nega a igual Dignidade de todos os homens. É uma Europa que se afasta da sua identidade. Pôr a nu e discutir estas questões, pode ser um sinal de Esperança.