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Centro Comunitário da Parede assinala 25 anos
“É fundamental o centro comunitário ser um centro de evangelização”
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Inaugurado a 10 de dezembro de 1988, o Centro Comunitário da Parede, Cascais, nasceu de um projeto que previa apenas ser um apoio à igreja paroquial. Hoje, com 25 anos de serviço, é uma estrutura de ação social.

 

O padre Morgadinho, que está presente na Parede desde 1980, primeiro como colaborador e mais recentemente como coadjutor e depois pároco, acompanhou todo o processo de fundação do Centro Comunitário da Parede que no passado dia 10 de dezembro celebrou 25 anos. Um projeto que inicialmente tinha por objectivo "fazer do edifício um apoio à igreja paroquial, sobretudo em salas para a catequese e um salão maior", conta ao Jornal VOZ DA VERDADE este sacerdote. No entanto, tendo-se verificado “que não havia possibilidade de se construir essa parte, de acordo com o que estava planeado, no que diz respeito ao financiamento”, o projeto acabou por ser aprovado com o apoio da Segurança Social, depois de algumas alterações que lhe deram um cariz mais social. "Foi introduzido no projeto uma cozinha e um refeitório e o projeto foi aprovado", revela o padre Morgadinho.

Mas se apenas em 1987 começaram os trabalhos para este centro comunitário, desde 1983 que a paróquia já dispunha de uma assistente social que começou desde logo a trabalhar nas valências dos idosos. “As Conferências de São Vicente de Paulo, no Murtal e na Parede, já faziam encontros com os idosos nas dependências da paróquia e começou-se logo a trabalhar orientando um centro de convívio e um centro de dia e um ATL para crianças”, refere.

Depois da aprovação do projeto, com "a facilidade no financiamento, as obras avançaram com uma certa velocidade", contando, também, com as “contribuições da Câmara Municipal de Cascais e da própria paróquia", testemunha o atual pároco. Por outro lado, também os paroquianos foram dando o seu apoio à obra e foi criado um corpo de voluntários. "Havia aqui uma determinada experiência de trabalho de voluntariado porque tínhamos três hospitais na zona”, salienta o padre Morgadinho.

 

A missão atual

Atualmente a intervenção do Centro Comunitário da Parede situa-se nas áreas de Apoio aos Idosos, Ação Social e Rendimento Social de Inserção. "A valência das crianças já existiu mas acabou por desaparecer", observa referindo que "a Parede e a zona envolvente está bem servida neste tipo de serviço". Situação que justifica referindo a existência de creches e jardins de infância ligados a comunidades ou institutos religiosos. "Verificou-se que não havia necessidade especial nem interesse em manter esse serviço. Daí que o Centro Comunitário da Parede se tenha dedicado, sobretudo, ao apoio à Terceira Idade", explica.

Para responder a esta valência dos idosos existe um Centro de Dia "limitado pelas instalações" esperando o padre Morgadinho, no entanto, poder vir a ser construído um novo. "Temos uma promessa da Câmara de Cascais de instalar aqui um Centro de Dia construído de raiz", revela o pároco da Parede, referindo, ainda, que isso "implica um convénio especial com a autarquia, uma vez que a paróquia tem de afectar com direito de superfície quando o mesmo for construído". “Neste momento estamos num impasse mas assim que se avançar com o processo ficaremos com instalações adequadas para um Centro de Dia para responder melhor à procura atual”.

Segundo o padre Octávio Morgadinho, as pessoas que procuram este serviço aparecem apresentando “um estado maior de imobilidade, com menos autonomia” e, por isso, refere que gostaria de “dar uma qualidade de apoio nessas situações”.

 

Serviço também ao fim-de-semana

Atualmente o Centro de Dia do Centro Comunitário da Parede dá resposta a um número que “varia entre os 60 e os 80 idosos”. No entanto, refere o pároco, "a convenção com a Segurança Social abrange 60 idosos".

O serviço de Apoio Domiciliário é outra das valências do Centro Comunitário da Parede que "tem aumentado com o serviço de refeições, o serviço de higiene e de apoio de limpeza da casa". "Um serviço que é garantido nos sete dias da semana, e no qual trabalham, diariamente, três ou quatro funcionárias, nomeadamente ao fim-de-semana", sublinha o pároco.

Quanto ao serviço de Ação Social desenvolve-se através dos diversos apoios dados a famílias carenciadas, como o Banco Alimentar, a Cantina Social, o apoio em medicação e o pagamento de contas. Neste âmbito são acompanhadas 96 famílias, com um total de 240 pessoas, 34 das quais são crianças.

Num convénio, também, com a Segurança Social, o Centro Comunitário da Parede dispõe de uma Equipa do Rendimento Social de Inserção que “atua nas áreas da procura ativa de emprego, desenvolvimento pessoal e de competências e apoio psicológico”, refere o padre Morgadinho. "Esta equipa atinge 96 famílias, o que perfaz um total de 203 beneficiários", aponta.

 

Comunidade assimétrica

O Centro Comunitário da Parede dá resposta, há 25 anos, a uma comunidade que se caracteriza por "grandes assimetrias". Porém, explica o pároco, “estas assimetrias estão um pouco suavizadas porque antes tínhamos dois bairros degradados que, entretanto, desapareceram", salientou referindo-se à Quinta da Taínha e ao Bairro das Marianas. “Isso, atualmente, desapareceu mas o que carateriza esta zona é o ter uma parte da população de classe média, com algum poder económico, e o ter uma população também idosa. Por outro lado, há uma certa procura que se realiza à volta da Igreja, o que manifesta um contraste”, comenta, sublinhando a dificuldade em caracterizar as situações de pobreza existente na área da paróquia. "Hoje tenho dificuldade em caracterizar um pobre, porque há aqui pessoas que sempre as conheci nessa situação de dependência e continuam a aparecer. Porém, neste momento, aparecem pessoas com carências variadas, inclusive situações da denominada 'pobreza envergonhada' a quem a paróquia também dá resposta para "mitigar essas situações".

 

O apoio dos voluntários

O acompanhamento de pessoas, no serviço de companhia, e a sinalização de pessoas que estão sós, é também uma aposta deste Centro Comunitário e é um serviço prestado, neste caso pela colaboração de voluntários. Neste sentido, frisa o padre Octávio Morgadinho, "a atuação do Centro nas suas várias valências torna-se possível pela colaboração de voluntários". São na totalidade 112 voluntários e dividem-se pelas diversas tarefas que passam pela visita domiciliária a pessoas sós, a distribuição de almoços, o Banco Alimentar, o arranjo e o tratamento e distribuição de roupa de criança.

 

Serviços cada vez mais caros

Defendendo que a paróquia "deve deixar de ser, sobretudo, uma entidade prestadora de serviços para ser e viver o apoio e a comunhão fraterna", o padre Morgadinho releva que "os serviços prestados ficam cada vez mais caros" e destaca que a ajuda que a Igreja deve prestar tem de ser feita “na sua totalidade”. Trata-se de uma ajuda que deve envolver a todos “no conhecimento da sua própria dignidade e essas pessoas não serem apenas consumidores de serviço.  Que elas próprias possam colaborar umas com as outras", apela, destacando e valorizando “o sector comunitário”, considerando-o “fundamental”. “É preciso mobilizar as comunidades para uma maior entreajuda, um maior investimento no encontro das pessoas”, acentua demonstrando que “aí o fundamental é o centro comunitário ser um centro de evangelização”. “Não se trata de um centro de catequese mas de um centro de comunhão, onde as pessoas se amem e procurem encontrar-se como pessoas”.

 

Dificuldades e desafios

Salientando que os párocos “correm o risco de ter uma instituição que concentra as atividades pastorais apenas aí”, o padre Morgadinho destaca ainda “a dificuldade” que por vezes se encontra para “sustentar estas estruturas”.

Para além disso, em declarações ao Jornal VOZ DA VERDADE, o pároco da Parede manifesta a sua “preocupação fundamental” de que a caridade que se pratica nestas obras “seja cristã”. E aponta que “o grande plano” para este Centro Comunitário “é o da continuidade”, procurando “formar as pessoas” que têm ao serviço do centro. Trata-se de “ajudar as pessoas ao exercício efetivo de uma atividade de solidariedade à descoberta da fé e de interiorização da fé”, observa. Por isso, ao celebrar, agora, os 25 anos do Centro Comunitário da Parede, uma data que considera “simbólica”, fica o desafio de “um futuro numa perspetiva de renovação contínua”.

 

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Perfil

Nascido em 1934, o padre Octávio Gil Morgadinho é natural de Silvares, no Concelho do Fundão, Diocese da Guarda, e foi ordenado sacerdote em 1962.  

Foi coadjutor em Trancoso, durante três anos, e durante outros quatro anos coadjutor na Guarda. Em 1970 e até 1972 esteve na Guiné como capelão militar. Regressou a Portugal em 1972 e nessa altura iniciou a licenciatura em Filosofia, em Lisboa, residindo na Parede com uma sua irmã, que era enfermeira no Hospital de Santana. Nessa altura colaborou com na paróquia do Estoril e terminada a licenciatura em Filosofia, em 1980, volta à Parede onde inicia colaboração com o padre José Baptista. Ao mesmo tempo era professor de Filosofia na Escola Secundária de São João do Estoril.

Com o envelhecimento do padre José Baptista, o padre Morgadinho foi ficando mais comprometido com o serviço paroquial, sendo nomeado coadjutor e, depois do falecimento do padre José Baptista em outubro de 2010, pároco.

texto e fotos por Nuno Rosário Fernandes
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