Nesta Exortação Apostólica que o Papa Francisco apresenta não há, como o próprio afirma, “uma pretensão de abraçar toda a realidade de maneira supostamente neutra e asséptica” porque, assinala, o que pretende é oferecer algo mais “na linha dum discernimento evangélico” ou seja, como “o olhar do discípulo missionário que ‘se nutre da luz e da força do Espírito Santo’”, refere citando o Papa João Paulo II, a partir da Exortação Apostólica pós-sinodal ‘Pastores dabo vobis’. No seguimento desta advertência, Francisco observa que “não é função do Papa oferecer uma análise detalhada e completa da realidade contemporânea”, porém, citando o Papa Paulo VI, sublinha que, procura “animar todas as comunidades” “‘a uma capacidade sempre vigilante de estudar os sinais dos tempos’”. “Trata-se de uma responsabilidade grave, pois algumas realidade hodiernas, se não encontrarem boas soluções, podem desencadear processos de desumanização tais que será difícil depois retroceder”, alerta. Assim, o Papa Francisco explica que nesta Exortação pretende debruçar-se, apenas, “sobre alguns aspectos da realidade que podem deter ou enfraquecer os dinamismos de renovação missionária da Igreja”.
Desafios
Neste sentido, o Papa argentino, recordando que a humanidade vive “uma viragem histórica” que se pode constatar “nos progressos que se verificam em vários campos”, apresenta alguns “sucessos” que contribuem para o bem-estar das pessoas, seja no âmbito da saúde, educação e comunicação. Porém, alerta para algumas situações que refere não poderem ser esquecidas, como o aumento das doenças, o medo, o desespero, a falta de respeito, a violência, a desigualdade social. Pelo que, denuncia, “é preciso lutar para viver, e muitas vezes com pouca dignidade”.
Um dos apelos que Francisco deixa neste âmbito prende-se com as consequências do que chama a ‘economia da exclusão’. “Hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade social’. Esta economia mata”, alerta o Papa Francisco justificando que “não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na bolsa”. “Isto é exclusão”, observa. Alertando, ainda, para o facto de que “hoje tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco” deixando grandes massas da população excluídas e marginalizadas, Francisco denuncia também que “o ser humano é considerado em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora”. É aquilo a que denomina por ‘cultura do descartável’, onde “os excluídos não são ‘explorados’ mas resíduos, ‘sobras’”.
Avançando, um pouco mais, na análise que apresenta, o Sumo Pontífice Francisco salienta, ainda, que nesta sociedade em que vivemos, “desenvolveu-se uma globalização da indiferença” e quase sem nos darmos conta, lamenta, “tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios”. “Já não choramos á vista do drama dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse responsabilidade de outrem”, observa. “É como uma anestesia da cultura do bem-estar que nos afeta”, refere o Papa Francisco.
A idolatria do dinheiro
Refletindo sobre a relação que se estabelece com o dinheiro, salientando que “aceitamos pacificamente o seu domínio sobre nós e sobre as nossas sociedades”, o Papa Francisco lembra que a crise financeira que se vive atualmente tem uma origem que é antropológica. “Há uma crise antropológica profunda: a negação da primazia do ser humano”, comenta apontando como novo ídolo que a sociedade adora “a ditadura de uma economia sem rosto” e o “fetichismo do dinheiro”. Há, por isso, um desequilíbrio que se manifesta também na ambição do poder e do ter que “não conhece limites”. E, segundo o Papa Francisco, “por detrás desta atitude, escondem-se a rejeição da ética e a recusa de Deus”. A ética, refere Jorge Bergoglio, “leva a Deus que espera uma resposta comprometida que está fora das categorias do mercado” e permite criar “um equilíbrio e uma ordem social mais humana”. Nesse sentido, citando São João Crisóstomo deixa um apelo aos governantes: “’Não fazer os pobres participar dos seus próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida. Não são nossos, mas deles, os bens que aferrolhamos’”.
Diante da atual situação de crise financeira, vivida um pouco em todo o mundo, o Papa Francisco apresenta, então, como solução, a ética e afirma que uma reforma financeira que tivesse em conta este valor “exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos”. A esses mesmos intervenientes no poder exorta: “o dinheiro deve servir, e não governar!”. “Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um regresso da economia e das finanças a uma ética propícia ao ser humano”.
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