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A uma janela de Roma
“Ninguém se salva sozinho”
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O Papa lembrou que a dimensão comunitária é parte integrante da vida cristã. Na semana em que discursou ao corpo diplomático, Francisco anunciou a lista dos novos cardeais e batizou 32 crianças.

 

1. O Papa Francisco sublinhou que a dimensão comunitária da vida cristã não é mera ‘moldura’ ou ornamento, mas sim parte integrante. “O batismo faz de nós membros do Corpo de Cristo e do Povo de Deus. Como de geração em geração se transmite a vida, também de geração em geração, através da fonte batismal, se transmite a graça e, com esta graça, o Povo cristão caminha no tempo como um rio que irriga a terra e espalha pelo mundo a Bênção de Deus. A fé cristã nasce e vive na Igreja. Somos comunidade de crentes e, na comunidade, experimentamos a beleza de partilhar a experiência de um amor que precede a nós todos, mas, ao mesmo tempo, pede para sermos, uns para os outros, ‘canais’ da graça, apesar das nossas limitações e pecados. Ninguém se salva sozinho. A dimensão comunitária não é uma espécie de moldura, mas parte integrante da vida cristã, do testemunho e da evangelização”, assegurou o Papa, durante a audiência geral de quarta-feira, onde prosseguiu a catequese, iniciada na semana anterior, sobre o batismo. Aos peregrinos de língua portuguesa, o Papa sublinhou que “todos os batizados estão chamados a ser discípulos missionários, vivendo e transmitindo a comunhão com Deus”. “Em todas as circunstâncias, procurai oferecer um testemunho alegre da vossa fé”, pediu.

 

2. O Papa elencou, no tradicional discurso ao corpo diplomático, aquilo que a Igreja considera serem as principais ameaças à paz no mundo atual. Recordando o ano que terminou, Francisco disse que a “inveja, egoísmo, rivalidade e a sede de poder e dinheiro” são os principais responsáveis pela morte e destruição que marcaram o ano de 2013. Insistiu, contudo, que a violência não triunfará: “Parece, às vezes, que tais realidades estejam destinadas a dominar; mas, o Natal infunde em nós, cristãos, a certeza de que a palavra última e definitiva pertence ao Príncipe da Paz, que muda ‘as espadas em arados e as lanças em foices’ e transforma o egoísmo em dom de si mesmo e a vingança em perdão”.

Francisco discursava esta segunda-feira, dia 13, perante o corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé. Recordou as muitas vítimas daquilo a que chama a cultura do descartável, falando em particular das crianças. “Não podem deixar-nos indiferentes os rostos de quantos padecem fome, sobretudo das crianças, se pensarmos quanta comida é desperdiçada cada dia em tantas partes do mundo, mergulhadas naquela que já várias vezes defini como a ‘cultura do descartável’. Infelizmente, objeto não são apenas os alimentos ou os bens supérfluos, mas muitas vezes os próprios seres humanos, que acabam ‘descartados’ como se fossem ‘coisas desnecessárias’. Causa horror só o pensar que haja crianças que não poderão jamais ver a luz, vítimas do aborto, ou aquelas que são usadas como soldados, violadas ou mortas nos conflitos armados, ou então feitas objeto de mercado naquela tremenda forma de escravidão moderna que é o tráfico dos seres humanos, que é um crime contra a humanidade”, lamentou.

Aos representantes dos cerca de 179 Estados soberanos com os quais a Santa Sé mantém relações diplomáticas, o Papa assegurou a disponibilidade da Secretaria de Estado de continuar a trabalhar no sentido de favorecer aqueles laços de fraternidade que são reflexo do amor de Deus e fundamento da concórdia e da paz.

 

3. A nomeação dos novos cardeais revela uma clara vitória do Sul sobre o Norte e, assim, começa a definir-se uma nova geografia do colégio cardinalício. O maior grupo de nomeados – cinco deles (Buenos Aires, Santiago do Chile, Rio de Janeiro, Manágua e Haiti) – são da América Latina, sendo a primeira vez que o Haiti tem um cardeal na sua história.

Os 16 novos cardeais eleitores são provenientes de 12 países, quatro deles pertencem à Cúria e ocupam cargos cardinalícios, como, por exemplo, o secretário de Estado, Pietro Parolin e o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Müller. Mas o destaque vai para a escolha dos outros 12 cardeais provenientes de dioceses, com apenas dois europeus nomeados – o arcebispo de Peruggia, na Itália (que há décadas não tinha cardeal), e o arcebispo de Westminster, na Inglaterra.

Estas nomeações terão desiludido muitos europeus, sobretudo porque ficaram de fora dioceses tradicionalmente cardinalícias, como por exemplo Turim, Bruxelas e Veneza, cujo Patriarca, aliás, há vários consistórios que espera o título de cardeal.

Estas nomeações, a partir de hoje, também abrem outra questão: é que nem tudo que era costume, continuará a sê-lo no pontificado de Francisco – como aliás o próprio Papa escreveu na sua última exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’. E a continuar assim, haverá certamente uma redução de cardeais na Cúria romana e, consequentemente, uma maior descentralização do colégio cardinalício face à Europa.

A lista dos primeiros cardeais nomeados por Francisco também revela uma preferência por bispos pastores, em vez de bispos intelectuais/teólogos, como é o caso da preferência pelo Haiti e pela nomeação de um segundo cardeal das Filipinas proveniente de Mindanao, ilhas provadas pelo sofrimento.

O facto de o atual Patriarca de Lisboa não ir para já a cardeal pode explicar-se pelo facto do antigo Patriarca ainda ser cardeal eleitor, mas o exemplo da não nomeação do Patriarca de Veneza também pode revelar o novo estilo do Papa Bergoglio, muito mais virado para os outros continentes com maior número de cristãos, do que para a velha Europa sem vocações.

 

4. Também no Domingo, Festa do Batismo do Senhor, o Papa recordou que o batismo “foi um mandato explícito de Jesus”, que “enviou os seus discípulos a batizar por todo o mundo”. Francisco batizou, nesse dia, 32 crianças na Capela Sistina, no Vaticano, e garantiu aos pais que a fé é a melhor “herança” que podem dar aos seus filhos. “Vós sois aqueles que transmitem a fé, tendes o dever de transmitir a fé a estas crianças: é a mais bela herança que lhes deixareis, a fé! Apenas isto. Hoje levai para casa este pensamento, que nós temos de ser os que transmitem a fé”, pediu, numa homilia breve e improvisada.

As 32 crianças, 14 meninos e 18 meninos, eram na sua maioria filhos de funcionários do Vaticano, com Francisco a brincar com o barulho dos bebés, afirmando que “o coro mais belo é este, das crianças”.

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