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Síria: o sofrimento terrível dos refugiados cristãos
A vida num abismo
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O olhar diz tudo. São olhares carregados de medo, cheios de memórias de sangue, de violência, de morte. São olhares também vazios, de quem está perdido, sem saber para onde ir, o que fazer da sua vida. Os refugiados da guerra síria têm isso em comum. Estão como que perdidos na vida.

 

Os refugiados da guerra civil que está a destroçar a Síria estão num abismo. Deixaram para trás o seu país, as suas casas, as suas vidas. Fugiram para sobreviver. Todos estão enlutados. Não há ninguém na Síria que não tenha já chorado a morte de pais, filhos, maridos, mulheres, amigos, vizinhos. Os refugiados estão num abismo. A destruição é tanta que já não há possibilidade de regresso. O futuro será sempre um recomeço. Esta semana, na Suíça, sob a égide das Nações Unidas, à roda de uma mesa, estiveram sentados os responsáveis pelos combates. O regime de Bashar al-Assad e opositores. À mesa estiveram também representantes dos Estados Unidos, da Rússia, China…
Para os refugiados sírios que se acotovelam em campos provisórios de acolhimento, em países da região, a Suíça é um lugar longe de mais. O que lá se disse não teve a força suficiente para fazer calar as armas. E a destruição é tanta que o horror começa a banalizar-se.

 

De mãos vazias

Líbano. Cidade de Zahle. Com os seus 200 mil habitantes, Zhale é, hoje, a maior cidade cristã do Médio Oriente. Fronteira com a Síria vivem aqui alguns milhares de cristãos em fuga da guerra civil. Talvez uns 10 mil. A maior parte fugiu da cidade de Homs. O medo que estas famílias têm do que lhes possa vir a acontecer é tanto que evitam registar-se até junto dos centros de apoio das Nações Unidas. Se o fizerem, podem ser identificados como Cristãos e sofrer represálias. Por causa disso, muitos não estão sequer nos campos de acolhimento. Estão em casas particulares, em quartos alugados, quase sempre em condições muito frágeis, quase indignas. A Igreja local tem procurado ajudá-los, descobrindo onde estão escondidos, procurando apoiá-los, para não serem despejados por não terem mais recursos financeiros, procurando encontrar-lhes algum trabalho, secando-lhes as lágrimas.
O Arcebispo John Darwish, responsável pela Arquidiocese de Furzol, Zahle e Bekaa, no Líbano, não tem mãos a medir. Numa carta enviada à Fundação AIS, pede-nos ajuda. “Muitas destas famílias cristãs precisam de apoio até para as coisas mais básicas do dia-a-dia”, diz. “Comida, escola para os filhos, cuidados médicos. Nós procuramos ajudar estas pobres famílias cristãs pagando as suas rendas ou tentando encontrar-lhes trabalho. Muitos estão em situação muito difícil, a nível emocional e material. Eles deixaram tudo para trás e chegaram até aqui rigorosamente sem nada”.

 

Traumatizados pela guerra

Rigorosamente sem nada. Carregados apenas com os seus medos, os pesadelos de quem foi forçado a fugir de uma cidade destruída à bomba, com tiros de metralhadora. “Estes cristãos estão traumatizados”, acrescenta ainda o Arcebispo Darwish. “Muitos nem tiveram tempo para chorar os seus mortos”.
Esta semana, na Suíça, à roda de uma mesa, encenou-se uma ronda diplomática entre as várias partes do conflito. Nesta semana, também foi divulgado um novo relatório, baseado em milhares de fotografias, em que se demonstra que o regime de Bashar al-Assad tem vindo a cometer “assassínios a uma escala industrial”. Acusações semelhantes de crimes de guerra são denunciadas também contra os vários movimentos da oposição. Pelo meio, ninguém parece querer escutar o choro dos que fogem da guerra. Ninguém parece escutar o martírio dos Cristãos Sírios.

 

Apelos à paz
O Patriarca Gregorios III, líder da comunidade católica, acaba de lançar um veemente apelo para que a conferência de paz, Genebra II, possa ter êxito. O seu fracasso representará certamente a morte e a fuga de mais uns milhares de sírios e o provável aumento da violência dos combates.
A Igreja tem lançado constantes apelos à paz, à oração. O Papa Francisco tem denunciado mesmo o horror da guerra. Na sua mensagem ao mundo, no dia de Natal, disse: “continuemos a rezar ao Senhor para que poupe ao amado povo sírio mais sofrimentos e para que as partes no conflito ponham fim à violência e garantam o acesso à ajuda humanitária”.
Em Portugal, a Fundação AIS associou-se a uma corrente de oração, a nível mundial, pela paz na Síria e lançou uma campanha de ajuda de emergência às famílias que, aos milhares, fogem deste holocausto que parece não ter fim.
As palavras do Patriarca Gregorios III espelham bem a angústia dos Cristãos sírios: “Imploramos a Deus que escute as nossas orações, responda aos nossos gritos de socorro e ao sofrimento das vítimas, e que nos conceda o dom da paz”.

Como ficar indiferente a este apelo?

 

www.fundacao-ais.pt | 217 544 000

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