Quatro anos depois, os prédios por reconstruir não permitem que se esqueça a tragédia de Janeiro de 2010. Quatro anos depois, milhares de pessoas continuam alojadas em tendas e a precisar de ajuda para sobreviverem. Mas nem tudo é trágico: quatro anos depois, há cada vez mais candidatos ao sacerdócio.
“Um forte terramoto de magnitude 7 abalou o Haiti nesta terça-feira (12), provocando muita destruição, principalmente na capital, Port-au-Prince, e deixando um número ainda não determinado de vítimas.” Foi assim, em apenas três linhas desprovidas de qualquer sentimento, que o mundo recebeu a notícia do devastador terramoto que deixou atrás de si um impensável rasto de destruição e de morte. Faltavam poucos minutos para as 5 da tarde do dia 12 de Janeiro de 2010. A terra sacudiu com uma violência tal que muitos se recordam de ter dito, então, “que se estava a assistir ao fim do mundo”. Os que sobreviveram jamais se esquecerão do medo e da impotência que sentiram nos instantes terríveis do forte abalo sísmico e do pânico que se gerou depois, quando a terra voltou a ser sacudida por violentas réplicas. Num instante, num imenso estrondo, caiu o Palácio Nacional, a catedral, o hospital de Pétionville, as casas, bairros inteiros… As ruas ficaram juncadas de lixo, de escombros, e aos poucos começou-se a perceber que se estava perante uma tragédia inimaginável.
300 mil mortos
Os números ainda hoje chocam. Cerca de 300 mil mortos, 105 mil casas completamente destruídas, mais de 200 mil seriamente danificadas. Quase dois milhões e meio de haitianos ficaram, de um momento para o outro, sem tecto, entre ruínas. Ainda hoje, quatro anos depois, os efeitos do sismo fazem-se sentir. Mais de 170 mil pessoas continuam a viver em acampamentos provisórios no Haiti. Para milhares, as tendas de campanha passaram a ser as suas casas e parece, até, que ninguém escuta os seus lamentos.
A reconstrução tem sido muito lenta. Apesar da enorme ajuda internacional, ainda há muito por fazer no Haiti, principalmente porque quase tudo o que havia ficou destroçado. Escolas, hospitais, edifícios públicos. Quase nada resistiu ao abalo sísmico.
Epidemia de cólera
Ao todo, ainda existem 271 campos de refugiados, mas, mesmo nas zonas onde a reconstrução foi mais célere, subsistem variadíssimos problemas. Há interrupções constantes no abastecimento de água e de luz, os casos de cólera – cerca de 50 mil novas infecções em cada ano - apesar do muito que já foi feito, continuam a ser considerados como muito graves, e persistem também inúmeros relatos de violência que ensombram o quotidiano deste país ainda enlutado. Neste momento, calcula-se que cerca de 600 mil pessoas se encontrem a viver em condições de insegurança alimentar.
Pode dizer-se que, no Haiti, está quase tudo por fazer. A esmagadora maioria da população sobrevive em condições inaceitáveis de pobreza e o regresso a alguma normalidade, em muitas zonas do país, parece ser ainda uma miragem.
Novos seminaristas
A Igreja Católica tem estado na linha da frente deste enorme esforço de reconstrução nacional. Mas também ela enfrenta tremendas dificuldades. O Seminário Maior do Haiti ruiu, tal como a maior parte dos edifícios da capital. No fatídico dia 12 de Janeiro de 2010, 30 dos 260 seminaristas perderam a vida, assim como o bispo da diocese e numerosos sacerdotes e religiosas. Desde então, o seminário foi transferido para um campo de tendas e assim continua até que ocorra a definitiva reconstrução do edifício.
Da Igreja do Haiti chegam-nos sucessivos pedidos de ajuda.
O país é muito pobre e falta quase tudo. Tal como os seminaristas que ainda vivem em tendas, praticamente as 80 paróquias da Arquidiocese de Port-au-Prince continuam com marcas bem visíveis do terramoto de 2010. Quase todas as 320 capelas ficaram destruídas, bem como orfanatos, escolas, creches, centros paroquiais. Milhares de pessoas, todos os dias, procuram viver uma impossível normalidade num país ainda destroçado pelo abalo sísmico. Mas todos os dias, mesmo em tendas improvisadas, os fiéis reúnem-se em oração agradecendo o dom da vida. Curiosamente, todos os anos tem crescido no Haiti o número de candidatos ao sacerdócio. E não será, seguramente, por causa das condições actuais do seminário…
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