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Castanheira do Ribatejo recebe Visita Pastoral
“A meta da vida cristã é a vida plena com Deus!”
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O Bispo Auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás desafiou a paróquia de Castanheira do Ribatejo a não ficar “de braços cruzados”. Ao longo da semana, durante a Visita Pastoral, D. Nuno visitou escolas e outras associações civis, e encontrou-se com a comunidade cristã a quem pediu ação. “Aquilo que Jesus nos diz é que na vida cristã nunca nada está feito”, observou.

 

Foi o sonho de uma mulher, Júlia Palha, que a paróquia de Castanheira do Ribatejo tem dado continuidade. O Centro Social Paroquial da Casa de São José da Castanheira do Ribatejo nasceu na segunda metade do século passado pela preocupação desta mulher em cuidar dos pobres. “Para ‘agarrar’ os meninos da Vala do Carregado, principalmente os mais pobres, Júlia Palha criou a Casa de São José. O objetivo era salvar a vida dos pobres, para eles não caírem nos vícios, e também evangelizar”, destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de Castanheira do Ribatejo, padre Jacob Puthiyaparampil. Júlia Palha assumia muitas funções na Igreja, entre as quais a de catequista. “Ela era quase ‘o pároco’ desta paróquia”, brinca o padre Jacob, como que mostrando a importância desta leiga para a comunidade de Castanheira.

Júlia Palha faleceu em 19 de dezembro de 1995, mas a sua obra perdura no tempo. “Atualmente, a Casa de São José tem um infantário, para 46 crianças, o pré-escolar e ATL, para cerca de 60 crianças, o lar de idosos, com capacidade para 20 utentes e que está sempre cheio, e presta ainda apoio domiciliário a 8 pessoas”, descreve o pároco. Por ocasião da Visita Pastoral à paróquia de São Bartolomeu de Castanheira do Ribatejo, que decorreu de 14 a 16 de fevereiro, D. Nuno Brás visitou as várias valências desta associação. Na manhã do primeiro dia da visita, o Bispo Auxiliar conheceu o infantário, situado no centro de Castanheira, bem em frente à igreja paroquial, contactando com cada uma das crianças. Seguiu-se a visita ao pré-escolar, situado na Vala do Carregado. O anel de Bispo e a cruz peitoral fizeram as delícias nos mais novos. Todos queriam ver (e alguns tocar) nestas insígnias episcopais. Após o almoço, a tarde foi passada entre os mais velhos, na visita ao lar na comunidade da Vala, com D. Nuno a lembrar a “importante missão dos idosos: rezar pela Igreja”. Aos responsáveis e funcionários da obra sonhada por Júlia Palha, o Bispo Auxiliar de Lisboa manifestou: “Vê-se que esta é uma obra levada com amor!”.

 

Fé vivida em todos os lugares

A Visita Pastoral a Castanheira do Ribatejo teve início numa escola do Agrupamento de Escolas D. António de Ataíde. Depois de visitar as instalações e ver os trabalhos realizados pelos alunos no âmbito da disciplina de EMRC (Educação Moral e Religiosa Católica), o Bispo Auxiliar do Patriarcado encontrou-se com estes estudantes. Eram sobretudo alunos do 6º, 7º e 8º anos e após as perguntas habituais dos adolescentes nestes encontros – como ‘O que é ser Bispo?’, ‘Gosta de ser Bispo?’, ‘Qual o trabalho de um Bispo’ ou também se ‘Conhece o Papa Francisco?’ ou se ‘Gostava de ser Papa?’ – D. Nuno Brás explicou o porquê da visita às escolas. “A visita às escolas é sempre um ponto importante da Visita Pastoral. Primeiro, porque as escolas são um ponto importante da vida de toda e qualquer comunidade humana e portanto toda e qualquer comunidade cristã também; depois, é importante o contacto com os alunos de EMRC para percebermos que a fé não é uma coisa simplesmente de quatro paredes de igreja – a fé é para ser vivida em todos os lugares, e portanto também na escola; finalmente, como meio de evangelização dos vossos colegas, encetando um diálogo entre fé e saber”.

Desafiados depois pela diretora da escola, que esteve presente durante a Visita Pastoral de D. Nuno à instituição de ensino, os alunos explicaram ao Bispo Auxiliar o porquê de frequentarem a disciplina de EMRC, que é de inscrição opcional. “Tomei esta opção porque sei que não estou cá [neste mundo] por acaso”, dizia um aluno. “Estou em EMRC desde o 1º Ano porque gosto de estudar e compreender as religiões”, referia outro. “Em EMRC, o ambiente é agradável e dá para conhecer pessoas novas”, esclarecia uma aluna. “Os que não frequentam esta disciplina estão a perder muito”, sentenciava outro aluno.

 

O desafio de construir

Presente em Castanheira do Ribatejo desde setembro de 2012, o padre Jacob Puthiyaparampil mostra-se preocupado com a falta de renovação de gerações nesta terra. “Antigamente, Castanheira era uma zona ‘rica’, muito ativa, mas hoje em dia os filhos deixaram esta terra e andam à procura de trabalho em Lisboa. Chegou também muita gente a Castanheira, para criar as suas empresas, mas com a crise foram-se embora, por isso a população é um pouco envelhecida”. A justificar esta afirmação, o pároco revela um dado estatístico que considera relevante: “As escolas de Castanheira têm apenas 800 crianças… para um total de 7500 habitantes”.

Juntamente com São João da Talha, Sacavém, Penha de França e Cachoeiras, Castanheira do Ribatejo é uma das cinco paróquias do Patriarcado de Lisboa que tem como pároco um sacerdote da Índia. Natural de Kerala, no extremo sudoeste indiano, o padre Jacob Puthiyaparampil pertence à Diocese de Palai e está em Lisboa desde 2006. Chegou a Castanheira há cerca de um ano e meio, vindo da paróquia de Monte Abraão, e as diferenças encontradas foram significativas. “Quando cheguei aqui, senti que esta paróquia era muito morta, quase não tinha atividade nenhuma, nem tinha grupos e movimentos. Na minha antiga paróquia, Monte Abraão, havia muitas atividades! Eu gostava de animar e fazer coisas com eles”, conta, concretizando as diferenças: “Em Castanheira do Ribatejo, de segunda a sexta-feira não havia qualquer atividade exceto a Missa; no sábado, catequese e duas Missas; e no Domingo, quatro Missas. Mais nada! Por isso, senti tudo muito parado”. Questionado sobre o que tinha conseguido organizar neste ano e meio para impulsionar a vida da paróquia, este padre indiano assume. “Não consegui mexer muito, mas algum trabalho foi feito. Quando cheguei, por exemplo, só havia duas senhoras que acolitavam, hoje em dia nós temos 13 acólitos, sendo que alguns deles são miúdos da catequese!”, destaca, lembrando a importância de “alguns pais e familiares cristãos que trazem as suas crianças à catequese e à Missa e que estão totalmente dedicados à Igreja”. Sobre o que precisa de ser feito para mudar este paradigma, o padre Jacob assume: “O padre deve ‘apanhar’ as ovelhas. Tudo o que é preciso para a paróquia crescer, está cá! Para animar, é preciso muito, muito, muito tempo”. Este sacerdote indiano destaca, por isso, a oportunidade da Visita Pastoral. “Esta paróquia precisa de mais animação! Com a visita do Bispo, a paróquia vai conseguir estreitar ligações com associações e movimentos locais. É uma abertura da Igreja para fora!”.

Com cerca de 40 crianças na catequese, esta paróquia da Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja tem catequese somente do 1º ao 5º volume. “A chamada catequese da adolescência é feita em grupo de jovens”, explica o pároco, sublinhando que esta diferença de método “faz com que os jovens participem mais na Missa e em atividades da Igreja”.

 

O perigo de ficar de braços cruzados

A Visita Pastoral à paróquia de Castanheira terminou no passado Domingo, 16 de fevereiro, numa celebração em que D. Nuno Brás confirmou na fé 46 jovens. Antes, na homilia, o Bispo Auxiliar de Lisboa lembrou que na vida comunitária que a Igreja propõe, há sempre alguma coisa a fazer. “Aquilo que Jesus nos diz é que na vida cristã nunca nada está feito, nunca nada é suficiente, nunca nada chega. Há sempre mais para fazer! Há sempre algo a emendar, há sempre alguém a ajudar, há sempre uma palavra a mais, uma palavra certa. Há sempre qualquer coisa a fazer”, observou, reforçando: “A vida cristã não é uma coisa do estilo ‘garrafa que se compra no supermercado’, em que compramo-la e é um objeto que levamos connosco. A vida cristã não é assim! A vida cristã é viver o dia-a-dia que tem uma meta: Deus! Essa meta é a vida plena com Deus!”.

Dirigindo-se a cada um dos 46 crismandos, D. Nuno Brás desafiou-os a fazerem caminho de Igreja. “Este é o caminho, que já começastes, mas é o caminho que está diante de vós, é o caminho que Jesus Cristo vos propõe e que vós ides aceitar. Espero que não só com palavras, mas com o caminhar da vossa vida. Verdadeiramente! É muito bom e muito fácil, num dia de festa, dizer que ‘Sim’, mas é no dia-a-dia que o Senhor nos convida a dar passos, é no dia-a-dia que o Senhor nos convida a sermos mais seus, é no dia-a-dia que o Senhor nos convida a ter coragem de pensar de uma forma diferente, coragem de tomar atitudes diferentes”.

O Bispo Auxiliar de Lisboa terminou a Visita Pastoral a Castanheira do Ribatejo deixando um alerta à missão. “A vossa comunidade é uma bonita comunidade, com gente boa. Mas temos o perigo de ficar de braços cruzados e dizer já chega. Não chega!”, alertou D. Nuno Brás.

 

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Os ‘herdeiros da fé’ nas Cachoeiras

A pequena paróquia de Nossa Senhora da Purificação de Cachoeiras está também confiada ao padre Jacob e recebeu a Visita Pastoral de D. Nuno Brás na manhã do passado Domingo, 16 de fevereiro, com o Bispo Auxiliar de Lisboa a recordar à comunidade cristã a herança da fé expressa na igreja paroquial. “Esta igreja, tão bonita e tão antiga, mostra que já há muito tempo a fé cristã está aqui presente, nas Cachoeiras. Nós somos herdeiros dessa fé, mas queremos vivê-la hoje! É a fé que nos vem de Jesus Cristo, que nós percebemos e sabemos que está vivo, ressuscitado!”, observou D. Nuno Brás, na Eucaristia matinal. Erigida no século XVI, a igreja paroquial de Cachoeiras é um templo de uma só nave que tem como elementos mais relevantes os azulejos do século XVII, as pinturas em madeira do século XVI, a talha dourada do retábulo-mor e o teto com pinturas setecentistas. “Muito obrigado pelo testemunho de uma vida cristã que permanece, assim, perseverantemente. É importante perseverar na fé, é importante não esquecer a fé de todos os dias”, salientou o Bispo Auxiliar de Lisboa, que no final da celebração manteve um pequeno encontro informal com a população.

Cachoeiras pertence ao concelho de Vila Franca de Xira, tem 9,84 quilómetros quadrados de área e somente 766 habitantes, segundo os Censos de 2011. “Esta é uma paróquia pequena, com poucos habitantes. É uma geração um pouco mais velha, porque os filhos e os netos estão fora. É também uma paróquia em que há apenas uma Missa dominical, não havendo mais atividades ou celebrações organizadas pela Igreja”, referiu ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco, padre Jacob Puthiyaparampil, salientando ainda a importância da presença do Pastor: “Não se sabe quando foi a última visita pastoral a Cachoeiras, mas gostávamos que acontecesse mais vezes”.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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