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P. Duarte da Cunha
Secularização e Ecumenismo
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Um dos aspectos mais complicados do cristianismo europeu é a existência de tantas divisões entre cristãos. Se, por um lado, a fé cristã marcou positivamente – e marca ainda tanto, graças a Deus – a cultura e a visão do mundo, tal como influenciou a moral e os ideais de vida, por outro lado dói ver que os cristãos não conseguem viver unidos. É, no entanto, verdade que vivemos actualmente um tempo muito interessante e que há sinais de esperança no que diz respeito ao ecumenismo. Não penso que os cristãos estarão todos unidos numa só Igreja brevemente, porém vemos que têm sido dados muitos passos. São visíveis sobretudo os progressos no campo das relações humanas, mas também há avanços no diálogo doutrinal. Continua a ser muito complicado o tema do primado de Pedro e das relações entre o Primado e várias Igrejas. Tal como é muito difícil chegarmos a um acordo com algumas igrejas que abandonaram completamente princípios morais considerados por outros cristãos como essenciais essenciais, como o aborto, a eutanásia, as relações sexuais fora do matrimónio, etc.

Os Papas, desde Paulo VI, têm mostrado um grande desejo de que haja passos concretos no ecumenismo em vista de uma unidade visível da Igreja e têm dado sinais claros de disponibilidade para rever o modo como o primado é exercido. A questão é a de saber como Jesus quer que Pedro continue a ser o sinal e o garante da unidade da Igreja. O Papa para nós não tem uma função apenas simbólica, tem uma missão que o leva a agir para garantir a unidade da fé através do discernimento e da sua acção pastoral na fidelidade à Tradição apostólica.

Uma nota do ecumenismo actual é o facto de ser cada vez mais um processo local que parte das pessoas que se conhecem e pertencem a diversas confissões e que se colocam em diálogo para que seja possível perceber o bem de cada uma e, ao mesmo tempo, discernir os passos a dar numa conversão pessoal em vista da unidade da Igreja. Seria um falso ecumenismo reduzir o diálogo aos especialistas de teologia, como seria um falso passo pensar que basta a amizade e que a doutrina pode ser relativizada. O ecumenismo tem sempre que ver com um processo de conversão total!

Há, hoje em dia, uma grande pluralidade de experiências que se reconhecem como cristãs. As diferenças doutrinais, porém, são imensas e devem ser tratadas com seriedade. Se já com o surgir do protestantismo era grande a multiplicação das Igrejas, desde o século XIX ainda se tornou maior. Além das chamadas Igrejas tradicionais (Católica, Ortodoxas, Reformadas, Luteranas, Anglicana, Metodista, Vetero-Católicas, entre outras) há que contar com muitas comunidades chamadas evangélicas nascidas no século XIX e XX e ainda com as Igrejas Pentecostais que se caracterizam por acreditar na acção directa do espírito Santo e que se reúnem em comunidades ou grupos para rezar. Quer os Evangélicos quer os pentecostais não formam uma Igreja mas são uma enorme quantidade de comunidades locais que têm algo de comum e que se associam entre elas.

No dia 27 de Fevereiro encontraram-se os secretários gerais do CCEE (Conselho das Conferencias Episcopais da Europa) representando a Igreja Católica, da KEK (Conferência Europeia das Igrejas) representando as Igrejas tradicionais não católicas (Ortodoxos, Luteranos, Reformados, Anglicanos, etc.), da AEE (Aliança Europeia Evangélica) e da AEP (Amizade Europeia de Pentecostais). Cada um contou a sua experiência de fé e apresentou a organização para quem trabalha. A reunião correu muito bem. Não havia nenhum objectivo prático que obrigasse a chegar a algum acordo. Pretendíamos apenas mostrar a disponibilidade para o diálogo, ao mesmo tempo que cada um testemunhou levar a sério a pertença à comunidade ou à Igreja que representa.

Uma coisa nos pareceu evidente, a secularização do continente europeu é um desafio para todos que obriga a levar ainda mais a sério a necessidade de conversarmos e sobretudo de suplicar a Deus a unidade da Igreja. Quem acredita no amor de Deus não fica indiferente ao próximo que vive como se Deus não existisse e percebe que a unidade da Igreja faria da fé algo muito mais atraente.

Um diálogo válido neste campo não leva à relativização da fé ou da doutrina – como se fosse igual ser ou não ser católico – mas pode ajudar a descobrir os apelos de Deus. Seria falso o ecumenismo que esquecesse Jesus e só falasse de Direitos do Homem, ou que não levasse a sério a fé e a Tradição. Quando há amizade entre as pessoas e podemos conversar tranquilamente, e abre-se o caminho para reconhecer o desejo de descobrir os apelos de Deus e testemunhar a fé de modo atraente.