“A morte é ocasião para celebrar a vida que o Senhor nos garante”, afirmou o Deão Emérito do Cabido da Sé Patriarcal, cónego Manuel Alves Lourenço, que presidiu à Eucaristia logo ao início da tarde de quinta-feira, dia 13 de março, momentos depois da chegada da urna de D. José Policarpo, que iria estar em câmara ardente.
Na primeira celebração que juntou centenas de pessoas na Sé Patriarcal para rezar pelo Patriarca Emérito, falecido na véspera, aos 78 anos, o cónego Lourenço frisou que a morte “é algo de doloroso porque é separação” mas, sublinhou, “o que nos separa não é a morte corporal, o que nos separa são os nossos pecados. Porém, o Senhor é mais forte que o pecado”, garantiu.
Recordando palavras do bispo e doutor da Igreja Santo Agostinho, o cónego Manuel Lourenço, de 84 anos e que foi Chanceler da Cúria Patriarcal de Lisboa durante 43 anos, salientou que D. José “foi cristão connosco e Bispo para nós”. “Hoje rezamos por ele na expectativa que reze por nós. É a comunhão dos santos”, observou. “O nosso crescimento na fé, esperança e caridade não é fácil mas tem a garantia de viver com o Senhor e de viver já a vida eterna”, concluiu.
Olhar de esperança
Ao final da tarde deste dia 13 de março, o Patriarca de Lisboa testemunhava o último olhar que viu de D. José Policarpo, sem saber que esse seria o derradeiro. “Quando me despedia de D. José Policarpo, sem saber que me estava a despedir, D. José Policarpo queixava-se já das costas mas nenhum de nós julgava que a situação fosse tão grave. As suas palavras e o seu olhar não eram de derrota mas eram de esperança. Era um olhar de esperança que nem a própria morte tão repentina e inesperada conseguiu apagar”, frisou D. Manuel Clemente, na breve homilia na oração de Vésperas a que presidiu.
Salientando a surpresa da partida de D. José Policarpo, o Patriarca de Lisboa apontou, neste acontecimento, “a vitória de Jesus Cristo sobre a morte”. “Aí se joga a nossa fé. Aquela fé que nos advém do que vamos experimentando. A vitória não é da morte mas de Jesus Cristo”, acentuou.
Caracterizando D. José Policarpo como um homem “muito bem-disposto”, D. Manuel Clemente relevou que o Patriarca Emérito também “sofreu muito porque quem assume o fardo eclesial nas circunstâncias em que ele assumiu sofre muito”. Mas “aí se une a Nosso Senhor Jesus Cristo e por isso começa a viver da vitória de Jesus Cristo”, garantiu. “Não tenhamos medo da vida, não tenhamos medo da morte e em Jesus Cristo saibamos que a vitória se alcança”, apelou.
Procura da Verdade
Na noite de quinta-feira, D. Manuel Clemente presidiu, ainda, à oração do Ofício de Defuntos, momento em que destacou “o anseio” de D. José Policarpo pela verdade. “Verdade da sua vida, verdade dos outros, verdade de Deus”, salientou o Patriarca observando, ainda, que, nisso, D. José Policarpo uniu a sua reflexão, o seu estudo, a sua grande curiosidade por tudo aquilo que podia aumentar os seus conhecimentos e a experiência sempre aberta a novas convivências e a novos horizontes de ser”. A este propósito, D. Manuel Clemente observou, ainda, que este “anseio pela verdade” foi também sublinhado pelo Papa Francisco na mensagem que dirigiu. “O Papa Francisco ‘acerta’ totalmente naquilo que melhor nos ilustra a vida do Senhor D. José Policarpo. A sua procura incansável pela verdade”. “Era muito estimulante conversar com ele. Era duma curiosidade constante... o querer ir mais longe, perceber melhor, aprofundar aquilo que já tinha na alma e no pensamento, descortinar novos caminhos, para que tanto eles como nós melhor respondêssemos aos sinais dos tempos”, destacou.
A terminar este momento de celebração litúrgica, uma representação da comunidade ucraniana presente na Diocese de Lisboa uniu-se à oração, também através de um breve ofício de defuntos da liturgia bizantina. Segundo o padre Natanael Harasym, a comunidade ucraniana foi acolhida por D. José Policarpo, em 2001, pela Igreja de Lisboa, um lugar onde, frisa, “nos sentimos Igreja de Lisboa sem perder a nossa identidade”.
Tudo é esperança
Na manhã de sexta-feira, no decorrer da oração de Laudes, o Patriarca de Lisboa apontou que o Círio Pascal, aceso, presente na Sé junto da urna do Cardeal Policarpo, foi o “último Círio com que D. José Policarpo entrou na Sé, na última Páscoa de 2013”. “Tudo se resume assim, numa luz que irradia. E na vida e na morte tudo é vida, tudo é luz, tudo é esperança!” garantiu.
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D. Manuel Clemente realça “grande legado” do Patriarca Emérito
O Patriarca de Lisboa considera que a capacidade que D. José Policarpo tinha de "observar os acontecimentos e tirar lições para o futuro", bem como a sua visão "otimista e esperançosa", constituem "um grande legado". “Foi marcante a sua perspetiva das coisas, a sua visão otimista e esperançosa, a sua capacidade de afirmar valores evangélicos e estar atento ao que sucede numa sociedade pluralista, em que nem toda a gente concorda com aquilo que a Igreja propõe”, afirmou D. Manuel Clemente, em declarações aos jornalistas prestadas na quinta-feira, dia 13 de março, no adro da Sé de Lisboa, onde o corpo do Cardeal Policarpo, falecido na véspera, aos 78 anos, se encontrava em câmara ardente. À comunicação social, o Patriarca garantiu que D. José Policarpo “não era difícil de conhecer, porque imediatamente se abria a qualquer interpelação fosse de quem fosse, quer em Lisboa, quer na sua aldeia natal, nas terras por onde andava e até no estrangeiro". O Patriarca Manuel sublinhou que tinha "uma amizade de meio século" com D. José Policarpo e que guardava dele uma imagem de "referência", revelando ainda que esteve com o Cardeal na sua última noite, "depois do jantar". "Ele parecia tão bem. Sempre com a conversa mantida há tantas décadas, falando com boa vontade das coisas, de pessoas conhecidas, dos acontecimentos, com muita expectativa deste processo lançado pelo Papa Francisco", afirmou. Precisamente sobre o Papa, o Patriarca acentuou "a grande semelhança de temperamento" e "proximidade" entre D. José Policarpo e Francisco, "feitos cardeais" na mesma altura, em 2001.O Patriarca de Lisboa salientou ainda que, "nestes últimos meses, foi tudo muito pacífico" para o Cardeal Policarpo, que "estava a retomar a atividade na paróquia de Sintra". "Deus quis doutra maneira…", terminou D. Manuel Clemente, que sucedeu a D. José Policarpo como Patriarca de Lisboa em julho de 2013.
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