É um projeto que quer fazer chegar o Evangelho aos jovens de hoje. O ‘iVangelho’ é promovido pela paróquia de Monte Abraão e inicia no Domingo de Páscoa, com a participação do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

A questão há muito que se colocava na cabeça do padre Abel Ferreira, pároco de Monte Abraão: como anunciar, hoje, Cristo aos jovens? A esta preocupação juntou-se a proposta dos catequistas da sua paróquia e o desejo de que a Igreja aproveitasse as novas tecnologias ao serviço do homem para a sua missão de anúncio da boa nova. Assim nascia o ‘iVangelho’. “O ‘iVangelho’ é um projeto que nasce de uma necessidade da paróquia, de um grupo de três catequistas, sobre como explicar o Evangelho de cada Domingo aos adolescentes da catequese e também aos miúdos!” explica o padre Abel Ferreira, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Lançado o desafio, a ideia “foi crescendo e foi-se desenvolvendo” e compreende a explicação do Evangelho do Domingo através de pequenos vídeos que vão ser colocados na internet. “Semanalmente, iremos publicar vídeos de cinco minutos, com a leitura do Evangelho, uma explicação/comentário dada por um padre e no final um desafio concreto, porque o Evangelho não são teorias, são para colocar em prática”, revela este sacerdote.

Um convidado especial para o primeiro ‘iVangelho’

Para que não fosse “um projeto do pároco”, e visando também “recolher diferentes formas de ver”, o padre Abel salienta que a paróquia de Monte Abraão convidou diversos sacerdotes para participarem no ‘iVangelho’. “Convidámos 12 padres e cada um vai comentar quatro Evangelhos salteados ao longo do ano. Esta será também uma forma de termos diversidade”, garante. Ao longo deste primeiro ano litúrgico – Ano A – vão participar “Padres Diocesanos, Espiritanos, Jesuítas e Missionários da Consolata”.

O primeiro vídeo deste projeto vai ser relativo ao Domingo de Páscoa, que a Igreja celebra no dia 20 de abril. O convidado especial para a estreia do ‘iVangelho’ é o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. “Lancei o desafio ao senhor Patriarca, que aceitou fazer o primeiro ‘iVangelho’, de Domingo de Páscoa!”, refere, satisfeito, o padre Abel Ferreira.

Divulgação e integração

De forma a ter “boa qualidade de som”, a leitura do Evangelho, “feita por homens e mulheres da comunidade”, vai ser gravada “nos estúdios da Rádio Renascença”, com quem a paróquia encetou uma parceria. “Durante a leitura, serão vistas algumas imagens e animações, surgindo depois o comentário do sacerdote convidado e o desafio final, também pelo padre convidado”, descreve o padre Abel.

Os vídeos vão ser gravados ao longo do ano, num espaço da paróquia preparado para o efeito. “Montámos um mini estúdio provisório na paróquia, mas tudo isto é amador, feito por cristãos empenhados”, observa. Segundo o pároco de Monte Abraão, o ‘iVangelho’ é também um projeto de nova evangelização. “O curioso é que através deste projeto chegámos a algumas pessoas que até nem têm muita ligação à Igreja, mas que se entusiasmaram com a ideia, aceitaram colaborar e conseguiu-se congregar um grupo de pessoas não só da paróquia, mas também de paróquias vizinhas, como Queluz ou Massamá”.

Depois de feita a edição vídeo, o ‘iVangelho’ será publicado na internet, em diferentes plataformas: “Os vídeos vão ser colocados no YouTube (www.youtube.com/ivangelho), partilhados no Facebook (www.facebook.com/ivangelho) e dados a conhecer no site www.ivangelho.com”, revela o padre Abel, de 39 anos.

Questionado sobre a forma como o ‘iVangelho’ vai ser integrado na catequese da paróquia de Monte Abraão, o pároco assume o desejo de que a catequese inicie com a visualização do vídeo. “Ainda não temos nada previsto, mas provavelmente muitos catequistas irão começar a sessão de catequese com o vídeo desse Domingo”, manifesta o padre Abel Ferreira, que é natural da paróquia do Milharado e que após o Crisma foi catequista.

Monte Abraão como campo de missão

Presente na paróquia de Nossa Senhora da Fé de Monte Abraão há cerca de um ano e meio, desde setembro de 2012, o padre Abel Ferreira acredita que a comunhão da comunidade cristã tem de ser construída a partir do conhecimento do Evangelho. “Esta paróquia tem como desafio, a nível interno, a continuação da construção da comunhão. No entanto, penso que esta comunhão tem que ser construída a partir de um enraizamento bíblico. Procurar cada vez mais centrar isso no conhecimento do Evangelho”. Para a vivência da Quaresma, o tempo litúrgico de preparação para a Páscoa, este sacerdote apostou na criação de “um grupo de partilha da Palavra, com a partilha do Evangelho de Domingo”. “Penso que isso é fundamental para alicerçar a comunidade, para que o Evangelho não sejam teorias mas algo alicerçado para a prática da vida”, frisa. Esta é uma paróquia com cerca de vinte grupos e movimentos. “A missão do pároco é pôr as pessoas a conversar umas com as outras, construir comunhão e criar laços, para evitar que cada grupo se ‘feche’ sobre si”, salienta o padre Abel.

É também desejo deste pároco “encontrar formas de chegar àqueles que estão longe”. “Ter 600 crianças na catequese é muito bom, e tenho a igreja sempre cheia, mas tendo em conta as que aqui vivem é muito pouco… a mim preocupa-me estes que ainda não estão na catequese e que não conhecem o Evangelho, nem Jesus Cristo. Há tanto campo de missão aqui à volta, que é uma grande preocupação mas também um desafio para os próximos anos”, destaca o pároco de Monte Abraão.

Mistura de gentes e de culturas

Situada entre as freguesias de Queluz, Belas e Massamá, Monte Abraão pertence ao concelho de Sintra e tem 1,89 quilómetros quadrados de área. Com 20809 residentes, a sua densidade populacional é de 11010,1 h/km², o que faz desta terra uma das que tem maior densidade populacional no país. “Essas 21 mil pessoas é o que está nos Censos, porque a junta de freguesia estima que aqui vivam por volta de 30 mil pessoas. Há uma nova realidade, que é muita gente a viver em quartos e isso faz disparar os números. E nós percebemos isso pelas moradas nas inscrições na catequese”, observa o pároco, explicando que a população “tem muitos africanos”, vindos sobretudo “da Guiné, de Angola e Cabo Verde”. Sublinhando que esta freguesia tem “muito poucas estruturas sociais”, o padre Abel, que conta com a colaboração de um diácono permanente, o diácono Amândio Alexandre, salienta que Monte Abraão recebeu também muita gente que veio da província. “Temos cá gente que veio à procura de trabalho, devido ao custo relativamente baixo das casas. Quando chegamos à altura das festas, muita gente desaparece! Há uma comunidade grande que fica, mas há muita gente que vai à sua terra e está fora nesses dias”, refere este sacerdote, cuja aposta, “quase desde o primeiro dia, é conhecer as pessoas”.

Após a ordenação, em 2008, o padre Abel foi, durante quatro anos, pároco de A-dos-Francos, A-dos-Negros e Landal, na zona das Caldas da Rainha. Em Monte Abraão, a realidade é outra. “Na relação comigo, as pessoas transportam para a Igreja aquilo que é a vida do dia-a-dia, o stress que é ir para o IC19 e tentar ultrapassar para não chegar atrasado ao trabalho… É completamente diferente e, para mim, é também uma aprendizagem entre uma realidade do campo, onde as pessoas ou são de lá ou são da aldeia ao lado, e a realidade de Monte Abraão”.

Duas décadas

Quando estava na região de Caldas, o padre Abel tinha 15 igrejas e capelas. Em Monte Abraão, a paróquia tem apenas uma igreja. “O padre Fernando Cima, que agora está em São Brás e que foi o construtor da igreja de Monte Abraão, concentrou tudo aqui, o que me dá um descanso enorme!”, frisa o pároco. Neste ano de 2014, a igreja paroquial de Monte Abraão assinala, no próximo dia 4 de junho, os 20 anos da dedicação. “A construção desta igreja foi muito sofrida! Houve alguns apoios, mas foi muito, e sobretudo, a comunidade cristã que se empenhou, com ‘unhas e dentes’, para construir este espaço. Este é um trabalho que eu tenho que agradecer ao padre Fernando! Hoje estou a colher frutos que ele semeou há mais de 20 anos. Frutos na construção física, evidentemente, mas sobretudo no que isto deu de consciência de pertença às pessoas. As pessoas sentiram este projeto de construção da igreja como seu”.

O ano em que a igreja assinala os vinte anos foi o momento escolhido pela paróquia para dar seguimento a um projeto antigo: a construção de um confessionário. “O confessionário desta igreja é apenas um genufletório e uma cadeira, móveis… há tanta gente a comungar, mas não há um espaço de verdadeiro acolhimento e reconciliação na igreja, por isso este projeto passa por construir um espaço, num canto, colocando duas placas de vidro de modo a se perceber, visualmente, que aquilo é um confessionário”, descreve o padre Abel, referindo que “a imagem e uma frase do filho pródigo vão embelezar as portas” deste lugar. “Queremos que o novo confessionário seja um espaço de acolhimento e que as pessoas sintam que não estão num tribunal, mas num lugar de exercício da misericórdia”, acrescenta.

A ligação a muitos padres

Monte Abraão é uma paróquia que já ‘gerou’ diversos padres para a Igreja. “Nasceram aqui várias vocações: o padre Carlos Silva, Dehoniano, atual pároco da Póvoa de Santa Iria, que é natural de cá e a sua mãe ainda aqui vem à Missa; o padre Vítor Gonçalves, pároco de São Domingos, na Baixa de Lisboa, e que também cresceu aqui, andou nos escuteiros, foi catequista; e o padre Miguel Ribeiro, mais recentemente, uma vez que foi ordenado em 2010, que é Espiritano, andou nos Jovens Sem Fronteiras da paróquia, e está atualmente na Abóboda”, aponta o atual pároco de Monte Abraão, salientando uma outra vocação que também cresceu nesta paróquia: “O senhor D. Ildo Fortes, Bispo da Diocese do Mindelo, em Cabo Verde, e que foi membro do presbitério de Lisboa, não nasceu cá mas veio para Monte Abraão em criança, frequentou a catequese e fez aqui a sua vida cristã”. Nos dias de hoje, a paróquia tem “um pré-seminarista, o Diogo, que está no Pré-Seminário de Lisboa”.

Falar da paróquia de Monte Abraão é falar também do testemunho do padre Francisco José dos Santos, antigo pároco falecido em fevereiro de 2007, aos 45 anos, e que dedicou nove anos da sua vida a esta paróquia. “O padre ‘Chico Zé’, como era carinhosamente tratado, foi um marco fundamental aqui nesta paróquia. Até na doença! Todos os Domingos, e já passaram sete anos desde o seu falecimento, a comunidade continua a rezar sempre pelo padre Chico”, aponta o atual pároco, revelando que “um dos grupos da paróquia, que antigamente se chamava ‘Grupo de festas do salão’, passou a chamar-se ‘Grupo padre Chico’”.

_______________

‘iVangelho’ no canal ‘Patriarcado TV’

O projeto ‘iVangelho’, da paróquia do Monte Abraão, vai ser disponibilizado para toda a Igreja. A garantia foi deixada ao Jornal VOZ DA VERDADE pelo pároco. “O nosso desejo é disponibilizar este projeto para toda a Igreja!”, assegura o padre Abel Ferreira. Para dar a conhecer a boa nova de Cristo a mais pessoas, “em especial aos jovens”, a paróquia tem desenvolvido alguns contactos. “Este projeto está a atingir alguma visibilidade e temos tido alguns pedidos de colaboração, em especial do Secretariado Nacional da Pastoral Juvenil e do canal ‘Patriarcado TV’”, aponta este sacerdote. Gerido pelo Departamento da Comunicação do Patriarcado de Lisboa, o canal ‘Patriarcado TV’, disponível no Meo, no canal 210021 (após carregar na tecla verde do comando Meo), pretende publicar os vídeos do ‘iVangelho’ a cada Domingo, como forma de evangelização. “O ‘iVangelho’ tem uma equipa de divulgação e esperamos que o projeto consiga chegar mais longe!”, assinala o padre Abel Ferreira.