Doutrina social |
Quaresma
Não à miséria, sim à pobreza que enriquece
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Dizendo um sim à pobreza abre-se a porta a um debate aparentemente inconclusivo. No entanto há que não ter medo de utilizar os termos com os quais estruturamos o nosso pensamento, nem fugir ao esfoço de entender o seu significado.

 

O “deserto e o silêncio” da Quaresma convidam-nos a esse esforço. Temos o apoio do Papa Francisco que nos convida a essa reflexão através da sua mensagem e nos aponta o caminho da conversão pessoal e comunitária à visão evangélica.

 

Miséria e pobreza
Miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança que nos encerra nos nossos limites e nos vai sufocando. É a situação em que “o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos”, acabando por se antepor à exigência duma distribuição equitativa da riqueza e criando a subalternização ou o abandono da justiça, da igualdade e da sobriedade.
Ninguém pode preconizar a miséria como jeito de viver; é claro que também ninguém o deseja. Nas Escrituras a miséria é rejeitada pelo imperativo do trabalho, do esforço na luta contra o egoísmo, do dever de guardar e fazer render os talentos de que fomos constituídos administradores.
É diferente a pobreza como atitude e como o “estilo de Deus”, com o qual Jesus nos liberta e torna ricos, Ele que “fez-se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). O relacionamento com o Deus que nos enriquece (entregando-se a nós), propõe-nos enriquecer os outros (no despojamento e na entrega) e constitui-nos administradores deste mundo (que é nossa casa comum e não propriedade exclusiva de alguém). Então o poder, o luxo e o dinheiro irão cedendo o espaço à justiça, à igualdade e à sobriedade e conduzindo à aproximação dos irmãos, à disponibilidade  para ver as “suas misérias, tocá-las, ocupar-se delas e procurar aliviá-las”.
Este é um tipo de análise, bem diferente daquele com que somos bombardeados e que pautam a governação e cujos efeitos estão à vista, como o escândalo da incapacidade em proporcionar um bocado de pão a uma grande parte da humanidade ao mesmo tempo em que se consegue conquistar o espaço. Estamos perante uma visão, que nos conduz ao âmago da pessoa humana, dos seus sonhos, do sentido da vida. Paulo nos dá essa pista, o Papa a retoma, para nos ajudar no esfoço da conversão – ver e pensar de “modo novo e renovado” como Deus nos vai propondo. Esta visão faz parte da essência do crente.

 

Convite para hoje
Retomando a mensagem do Papa, a Comissão Nacional Justiça e Paz e outras Comissões Diocesanas JP, realçam que ele não fala na perspetiva de um ativista social ou político, mas como alguém que encontra no tema uma dimensão essencial da mensagem cristã: ver o mundo com o olhar do Deus que salva, que dá vida. Um convite a viver aquele “estilo de Deus” que se revela não no poder e na riqueza, mas antes na fragilidade e na confiança do outro, como nos é sugerido pelo episódio do bom Samaritano. Esse “estilo” impõe-se a nós que atravessamos uma crise séria, no meio da qual deveríamos ser como o fermento que provoca a transformação da massa, a nível do indivíduo, das instituições e dos governantes. Todos deveríamos insistir nas mudanças necessárias, mudanças de fundo e não apenas de cosmética pontual.

 

O que vai seguir-se?
Como seria bom e que progressos se verificariam se assim acontecesse! Estamos perante um retrato sombrio da nossa sociedade, “com indicadores de melhorias, expressos em unidades monetárias, mas silenciando as condições de vida de tantos portugueses, ou dando a entender que o país está melhor, embora os portugueses estejam pior”. E não podemos cair nem na abdicação do “panem et circenses” (pão e circo) para nos distrair, nem na espera de um D. Sebastião que apareça a trazer-nos o que gostaríamos de ter. As máquinas partidárias já estão em aquecimento; será só para lançarem fumo para o meio do circo, criando a ilusão de que estamos fora da crise ou que “a solução está (só) connosco”, ou haverá a disponibilidade para mudanças estruturais, colocando o bem-estar das pessoas (sobretudo das mais desprotegidas) na primeira linha?

texto por P. Valentim Gonçalves, CJP-CIRP
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