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Índia: a história improvável da carmelita Christine Kapadia
Conhecer Deus numa pastelaria
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“Conheci Jesus numa pastelaria.” Christine Kapadia tem 35 anos, olhar doce e um sorriso franco. É uma rapariga absolutamente normal. Tal como praticamente 90 % dos cerca de 60 milhões de habitantes deste estado indiano, Christine nasceu em Gujarat, na Índia, numa família de forte tradição hindu. Mas, com ela, tudo isso mudou…

 

Voltemos à pastelaria e viajemos no tempo. Christine Kapadia tem apenas 15 anos. Ir àquela pastelaria faz parte da rotina de todos os dias desta simpática adolescente que, desde muito nova, ganhou o hábito de fazer muitas perguntas. Tudo a sobressalta como se fosse ainda apenas uma criança cheia de porquês. Ainda hoje, aos 35 anos, se lembra de quando ia com o pai, de motoreta, para a escola, e falava tu cá, tu lá, com Deus. Era uma lengalenga que mais ninguém entendia. “Falava com um Deus que não conhecia, nem sequer sabia o Seu nome, mas a quem contava tudo o que era importante para mim.” Hoje, Christine sorri quando se recorda desse tempo em que serpenteava pelo trânsito, entre buzinadelas estridentes, e se segurava ao pai, com a mão direita, e via o mundo correr ao contrário, cheio de vento, a caminho da escola. Desabafava com Deus e, sem o saber, já rezava. Tudo a interrogava.

 

O começo

A ânsia de Deus era tão grande que pretendia saber o máximo possível sobre todas as religiões. Procurava uma chave quando teve um estremecimento. Foi numa pastelaria e aconteceu por acaso. Tinha 15 anos, estava, como quase todos os dias, na pastelaria de sempre no bairro onde vivia, quando meteu conversa com uma mulher um pouco mais velha. Ela era cristã. Católica. Houve ali um fascínio que não consegue ainda traduzir. Recorda-se apenas que lhe pediu para a levar a uma igreja. Foi o começo. Aconteceu aí um namoro que a levou a abraçar Deus de tal forma que, apenas dois anos mais tarde, sobressaltou a família com um desejo: ser baptizada!

 

O baptismo

Quando falou nisso, lá em casa, sentiu-se sozinha no mundo, mas nunca abandonada. Chorou, é verdade, quando os pais lhe disseram que compreendiam a sua ânsia pela descoberta do mundo e de Deus, e até toleravam que continuasse a frequentar a Igreja Católica, mas apenas isso. A conversão ao Cristianismo estava fora de questão. Na Igreja, Christine foi ganhando novos amigos. Os Cristãos são, em Gujarat, uma ínfima minoria, não mais do que apenas 1 % da população. Todos eles sabem que a paciência tem de ser infinita. E foi isso que explicaram a Christine, que o melhor era aguardar mais algum tempo, até, pelo menos, chegar à maioridade. Quando fez 18 anos, voltou a dizer que desejava ser baptizada. E, ao contrário do que temia, os pais concordaram, por fim. Afinal, diziam, mesmo mudando de fé, a filha iria continuar a viver com eles, a tratar deles, a dar-lhes a luz do seu sorriso. E assim foi.

 

O Carmelo

Christine Kapadia baptizou-se em 2002 e continuou a viver em casa a tratar dos seus pais, cada vez mais idosos e mais doentes. Especialmente a mãe, que viria a morrer, nove anos mais tarde, depois de uma longa luta contra o cancro. Surpreendentemente, uma semana antes de falecer, a mãe de Christine pediu também para ser baptizada.
Desde então, mais nenhum obstáculo se colocou a esta jovem que abraçou a fé numa pastelaria, no contacto fortuito com uma mulher cristã que lhe falou de Deus de tal maneira que a contagiou irremediavelmente. Até hoje.
Christine Kapadia contraria as estatísticas. Numa região da Índia onde a esmagadora maioria das pessoas pertence à religião hindu, ela descobriu o amor de Deus da forma mais radical. Hoje, pertence a uma comunidade carmelita, apoiada pela Fundação AIS, e a sua vida é já testemunho de vários milagres. O primeiro terá sido a forma como desde sempre se predispôs a procurar Deus, para além do que sempre ouvira falar, dos hábitos e tradições da família e do país. Depois, como aceitou ser paciente e oferecer a sua ternura ao longo de vários anos à sua mãe, cada dia mais conquistada pelo seu sorriso. Por fim, quando ingressou no Carmelo, conseguiu algo que nunca imaginaria. Todos a quiseram acompanhar. Todos. O pai, e mais de duas dezenas de familiares, é e vai continuar a ser hindu, mas a simplicidade de Christine fez-lhe compreender que Deus, ou o Amor, se pode escrever de muitas maneiras, em muitas línguas.

 

www.fundacao-ais.pt | 217 544 000

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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