Missão |
Karina Oliveira
Viver o extraordinário da normalidade
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Karina Ferreira Oliveira nasceu em Caracas, na Venezuela, há 31 anos. Aos 9, a família mudou-se para Ílhavo (Aveiro) e foi nesta cidade que cresceu. Depois de uma infância normal, vivida entre a escola, a catequese, a família e os amigos, Karina ruma até Coimbra para estudar enfermagem. É durante os tempos de faculdade que conhece a Juventude Hospitaleira, com quem, mais tarde, parte para Timor-Leste.

 

O voluntariado enquanto descoberta de si

No ano de 2001 Karina deixa Ílhavo para estudar enfermagem em Coimbra. Durante o curso tem o seu primeiro contacto com o voluntariado e com realidades contrastantes: doença/saúde, vida/morte. As pessoas que conhece e com quem trabalha de perto, fazem-na envolver-se de forma empenhada nas atividades da sua paróquia e em ações cívicas. O seu desejo mais íntimo era o de tornar o mundo um lugar melhor. Ao mesmo tempo, o seu trabalho voluntário vai ajudando-a a definir que pessoa-cidadã-cristã-enfermeira se preparava para ser e, sobretudo, que pessoa-cidadã-cristã-enfermeira queria realmente ser.

 

Missão: um sentido de vida

Um ano após ter chegado a Coimbra, Karina conhece a Juventude Hospitaleira e é nessa altura que a sua consciência sobre a missão ad gentes começa a ganhar vida. Começa a colaborar com um grupo que envia jovens em missão e que faz angariação de fundos para dar resposta às necessidades sentidas em Moçambique, país onde a Juventude Hospitaleira tinha missões. A sua vontade de partir em missão começa a ser cada vez maior e dá início à formação para a missão. Aqui, nas diferentes sessões de formação que frequentou, Karina conhece várias organizações, grupos e pessoas que, tal como ela, tinham o mesmo sonho de partir em missão ad gentes.

 

Em Timor…

Em 2005 termina o curso e começa a trabalhar num hospital na região de Lisboa, seguindo o percurso normal e expectável depois de terminar a licenciatura. No entanto, “uma vida de casa-trabalho-amigos e ‘idas à terra’ não me preenchiam e um convite concreto para colaborar como voluntária missionária com os Irmãos de São João de Deus em Timor-Leste fez-me mudar o percurso de vida dito até então normal”. Despediu-se do trabalho, da família e dos amigos e seguiu para Timor-Leste, numa missão de um ano, “com as mãos vazias mas o coração cheio.” Com ela parte também uma outra leiga de Lisboa, a Alexandra Abreu. As duas, em conjunto com os irmãos de São João de Deus, Vítor Lameiras e Zé António, vivem a missão em Laclubar.

 

… é enviada para Laclubar

“Laclubar situa-se num vale não encantado mas montanhoso, com uma distância de 4 horas de viagem da capital Díli, com acessos deficitários e escassos recursos (sem luz elétrica; sem água canalizada e sem comunicações).” Inserida na comunidade local, Karina trabalha como enfermeira no centro de saúde, em conjunto com a equipa de saúde local. “E saúde/doença que até aí era a minha profissão, passa a ser a minha missão de vida… A visão romântica da missão vai dando lugar à realidade dura dos países em desenvolvimento: as mortes infantis por desnutrição; os escassos acessos a educação, a saúde, a habitação; os conflitos culturais, que são como que direitos humanos negligenciados pela visão dos europeus; a desvalorização das mulheres; os doentes mentais que são ignorados e excluídos… foram moldando a minha forma de estar, de ser e de fazer. Não há o eles e o eu, há o nós. Não há cooperação se não houver envolvimento e aprendi a importância da linguagem comum.” E foi assim, na missão concreta, que percebeu que a boa vontade não é suficiente não se fazer missão. “São necessárias competências pessoais, profissionais, emocionais e outros tantos ais…”

 

Missão no regresso

Quando regressou a Portugal, veio empenhada em apostar na sua formação, profissional, pessoal, mas também espiritual. Fez mestrado em acção humanitária e cooperação para o desenvolvimento (2010), especialidade em enfermagem de saúde mental (2011), formação em desenvolvimento pessoal na Novahumanitas (desde 2007) e, desde 2008, faz frequentemente Exercícios Espirituais.

Já teve oportunidade de regressar a Timor-Leste (2009) e também de participar em duas pequenas missões em Cabo Verde (2011 e 2012). Colaborou com a Juventude Hospitaleira na formação e envio de leigos em missão (2007-2010) e atualmente colabora com a Associação Pista Mágica – Escola de Voluntariado. Ao mesmo tempo, Karina faz voluntariado com pessoas sem-abrigo e imigrantes em situação ilegal no grande Porto.

“Já passados estes anos, percebo que não foi apenas uma experiência de vida, mas um refazer conceitos de vida. Os conceitos como normalidade, bens-materiais, felicidade, amor transformam-se e aprende-se a viver com pouco e com intensidade, onde a vida só faz sentido se for partilhada… Hoje sinto que vivo a missão no dia-a-dia. Sendo ‘reparadora de brechas’ na família e com os amigos, no meu local de trabalho (centro de saúde) e vivendo o “extraordinário da normalidade”. Fazendo o mesmo que todas as outras pessoas, mas sentida de forma diferente. Não me deixando arrastar pela sociedade: na crise, nos cortes, na moda, nas marcas, nas férias, nas festas, nas dificuldades, mas renascendo todos os dias, vivendo a alegria típica do cristão, continuando a colocar esperança na humanidade, a crescer e solidificar na fé pelo discernimento diário e desenvolvimento pessoal e dedicada à caridade dos pequenos gestos…”

texto por Ana Patrícia Fonseca, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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