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Manuel Barbosa, scj
Santos na alegria
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Canta o ditado popular que «um santo triste é um triste santo». A mesma dica poderia ser trauteada em tom maior: «um santo alegre é um alegre santo». Tal pode constituir um mote para lembrar que a vocação universal à santidade e a alegria transformadora do Evangelho estão intrinsecamente ligadas, também em oportunos e insistentes anúncios ao longo destes últimos cinquenta anos, do Concílio Vaticano II ao Papa Francisco.

O Concílio mais não fez do que repor o fundamental princípio bíblico segundo o qual a santidade não é apenas proposta para alguns, mas pode e deve ser procurada por todos sem exceção. O Papa Francisco, bebendo igualmente das raízes bíblicas, reafirma constantemente que este caminho de santidade passa pela alegria transformadora do Evangelho. Em suma, a alegria dá-se com a alegria, nunca com a tristeza.

Três andamentos recentes convidam-nos a reler as nossas vidas nesta tonalidade: a canonização de dois Papas, duas notas pastorais dos nossos Bispos e uma carta da Santa Sé destinada em particular aos consagrados e consagradas.

Não é por acaso que os Papas João XXIII e João Paulo II foram propostos como exemplos de santidade. Irradiaram alegria, mesmo nas tribulações dos seus pontificados. O primeiro teve a grande inspiração de convocar o Concílio Vaticano II com tudo o que isso trouxe de profunda renovação à vida da Igreja, o segundo tratou da ingente tarefa da sua receção durante 27 anos. Já agora, importa recordar que Paulo VI, que orientou os últimos três anos do Concílio e cuidou da sua receção nos difíceis 13 anos seguintes, é também um exemplo de santidade, à espera de ser beatificado provavelmente ainda este ano.

Duas notas pastorais oferecidas recentemente pelos nossos Bispos cuidam igualmente deste dinamismo de santidade, ao referirem dois bem-aventurados, na espera da celebração final da canonização: Frei Bartolomeu dos Mártires e Tiago Alberione. O exemplo feliz destes homens para a santidade na Igreja e no mundo desafiam-nos a levar a vida com alegria nas várias formas de existência cristã, assumida como ministros ordenados, consagrados ou leigos.

«Alegrai-vos!» É uma belíssima carta que a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica nos oferece através dos seus responsáveis, o Cardeal João Braz de Aviz (brasileiro) e o Arcebispo José Carballo Rodríguez (galego). É dirigida a todos, mas com particular incidência aos consagrados na vida religiosa e na vida secular. Plena de significado, esta longa carta abre o caminho de preparação do Ano da Vida Consagrada em 2015. Bebendo da inspiração bíblica de Isaías e iluminado pelo novo espírito evangélico (aí está novamente a fundamental referência bíblica, nem poderia ser de outro modo), o texto incita-nos a renovar a alegria da santidade assumida nos quotidianos concretos da existência. Percebe-se igualmente a constante alusão às palavras e mensagens do Papa Francisco.

Esperando voltar novamente a este texto, no sentido de que todos comunguem do seu profundo e pertinente conteúdo, não resisto a transcrever aqui a primeira das dez questões finais com as quais o Papa nos interpela e provoca:

«Queria dizer-vos uma palavra, e a palavra é alegria. Onde estão os consagrados, os seminaristas, as religiosas e os religiosos, os jovens, há sempre alegria, há sempre júbilo! É a alegria do vigor, é a alegria de seguir Jesus; a alegria que nos dá o Espírito Santo, não a alegria do mundo. Há alegria! Mas onde nasce a alegria?»

Mesmo sabendo muito bem qual é a fonte da alegria, a questão deveria inquietar-nos sem cessar em todas as situações de vida pessoal e comunitária, eclesial e social. Passemos do «santo triste como triste santo» ao «santo alegre como alegre santo», com a ajuda preciosa destes novos santos João XXIII e João Paulo II, que viveram na alegria de Deus e nela permanecem eternamente.