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Padre José Lapa (1926-2014)
“Um grande crente, um religioso fiel e um sacerdote exemplar”
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Um homem com um grande “desejo de estar com o Senhor”, que aproximou “as pessoas de Deus” e que dedicou “os últimos anos da sua vida à oração”. É desta forma que D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, e o padre Tony Neves, provincial dos Missionários Espiritanos, recordam o padre José Lapa, sacerdote Espiritano que trouxe para Portugal o Renovamento Carismático e que faleceu a 19 de maio, a poucos dias de completar 88 anos.

 

“A «tenda» do Pe. José Lapa foi «desfeita». Gastou-se nos seus quase 88 anos de vida como cristão, religioso e sacerdote, no serviço do Senhor e do seu Reino. Damos graças ao Senhor pelo testemunho. O Pe. José Lapa foi um grande crente, um religioso fiel e um sacerdote exemplar. Introduziu o Renovamento Carismático Católico em Portugal, e promoveu a sua difusão, fundou o grupo de oração Pneumavita, dedicou-se à evangelização, aproximando as pessoas de Deus e ajudando-as a descobrir a vida cristã como uma vida no Espírito e com o Espírito”. Na Missa exequial do padre José Lapa, D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, recordava, na sua homilia, o desejo que este sacerdote Espiritano tinha em ver Deus. “A morte é a última vocação, o último chamamento que Deus nos faz na sequência de muitos outros que nos vai fazendo ao longo da vida. Para ressuscitar é preciso passar através da morte, é preciso passar por esta tensão que acompanha a vida do crente, entre o «já» e o «ainda não», de que nos falava S. Paulo na leitura que escutamos. Esta tensão brota do desejo de Deus, do desejo da sua contemplação «face a face». Estou certo de que esta tensão e este desejo de Deus acompanharam a vida do Pe. José Lapa, este desejo de viver e estar com o Senhor, durante a sua vida e depois da sua morte. Agora este desejo realizou-se. Agora está face a face com Cristo ressuscitado, a quem amou, seguiu, anunciou e testemunhou. Com a morte chegou para ele o momento de consumação de toda a sua vida nele. Com a morte abriu-se para ele a morada eterna, definitiva, que se chama Céu, Paraíso, eternidade, comunhão definitiva e plena com Deus, felicidade eterna. Aquilo que todos nós desejamos como ele o desejou. Toda a sua vida foi uma preparação para este momento totalizante, que confere sentido a toda a nossa existência”.

 

Do Marão ao Altar

A animação missionária e vocacional ocuparam a primeira parte da vida deste padre Espiritano. “Roma apontou-lhe os caminhos do Renovamento Carismático Católico (RCC) e passou o resto da vida a evangelizar com a força do Espírito Santo. Introduziu o RCC em Portugal, fundou a Comunidade ‘Pneumavita’ e a revista ‘Pneuma’. Foi secretário-geral da CNIR. Entregou os últimos anos da sua vida à oração, a partir da Comunidade Espiritana da Estrela, onde conviveu alguns anos com a doença que o viria a vitimar na manhã de 19 de maio, mês de Maria”, recorda o provincial da Congregação do Espírito Santo (Espiritanos), padre Tony Neves, em texto publicado na página da internet dos Espiritanos em Portugal (www.espiritanos.org).

O padre José Lapa nasceu em Sedielos, Vila Real, nas franjas do Marão, em pleno Alto Douro Vinhateiro, e entrou no Seminário já bastante tarde. Ordenado padre no Seminário da Torre d’Aguilha em 1963, então com 37 anos, ficou surpreendido com a primeira nomeação missionária. “Contava, como todos, ir para Angola ou Cabo Verde, mas foi enviado para ‘Portugal’ a fim de dar o seu contributo à animação missionária e vocacional, bem como à imprensa. Todos lhe reconheciam o carisma de um líder com personalidade e grande capacidade de comunicação. Ele aceitou, com sentido religioso, e, quer a partir do Porto, quer a partir de Lisboa, percorreu este país real a anunciar Cristo, a propor o caminho de uma consagração por toda a vida e a convidar as comunidades cristãs a abrir-se a uma Igreja sem fronteiras”, recorda o padre Tony.

 

A descoberta do RCC

Foi em Roma, nos tempos quentes do 25 abril de 74, que o padre Lapa encontrou o Renovamento Carismático Católico, “a paixão da sua vida”. Ficou tão marcado que decidiu, na hora do regresso a Portugal, ‘testar’ o Renovamento Carismático Católico em Portugal. Escreveu em 1998: “Esta experiência que me encheu as medidas, deu novo sentido à minha vida de sacerdote e de religioso... Deus serviu-se de mim para fundar o Renovamento Carismático em Portugal em 1974. O grupo que aqui comecei e que agora se chama Pneumavita tornou-se como que a Comunidade Mãe do Renovamento entre nós”. Fundou, então, a ‘Pneumavita’, a primeira comunidade carismática de Portugal, como lembra o provincial dos Espiritano. “Lançada a semente, vieram os frutos plurais, bastando olhar para a quantidade de grupos carismáticos que reúnem, rezam e fazem Assembleias, sobretudo em Fátima, sempre muito concorridas. Dizia o padre Lapa que o Espírito sopra aonde quer e não se lhe devem pôr entraves, pois só o que é de Deus tem futuro”, sublinha o padre Tony, completando: “Com a lucidez e um grande sentido de Igreja que o caracterizou, aproveitou a sua doença para ir passando o testemunho. A Comunidade Pneumavita manteve-o sempre como a sua grande referência, contando com a palavra sábia e o carisma do seu fundador. Fiel à convicção de que tem de ser o Espírito a empurrar a Igreja para a sua renovação, lutou até ao fim com a certeza de que os cristãos só o serão a sério se o Espírito Santo for o protagonista da Missão”.

 

Acolher Cristo

Neste texto-memória publicado no site dos Espiritanos, o padre Tony Neves testemunhou que a partida do padre Lapa “para a Casa do Pai” foi “um momento de dor e ação de graças”. “A grande Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, foi pequena demais para tanta gente que lhe quis prestar uma homenagem e dizer-lhe obrigado pela sua vida e Missão. D. Joaquim Mendes (ladeado por D. Serafim Silva e D. José Traquina), na Eucaristia, traçou o perfil de um Missionário totalmente entregue ao Espírito Santo”, termina o artigo do provincial do Espiritanos.

Nesta celebração na igreja paroquial de Santa Isabel, em Lisboa, no passado dia 20 de maio, o Bispo Auxiliar de Lisboa D. Joaquim Mendes sublinhou igualmente a humildade e simplicidade do sacerdote falecido. “O Pe. José Lapa pertence ao grupo dos pequeninos, dos simples, dos humildes, daqueles a quem Deus revelou os seus segredos. Pertence ao grupo daqueles que acolheram Cristo, que acolheram Deus Pai que Cristo anunciou, mostrou, fez ver, o Deus majestoso «Senhor do Céu e da terra» que privilegia os simples e os humildes. Jesus não nos diz em concreto quais foram estas «verdades», mas é fácil de compreender: é a Boa Nova do Reino, que tem como centro a morte e a Ressureição de Cristo, o anúncio da salvação, o amor de Deus revelado por Jesus, fundamento de esperança que assegura o triunfo da vida sobre a morte. É a promessa de salvação que os sábios não compreendem, porque têm já a própria salvação, já sabem tudo sobre Deus, e confiam somente em si mesmos. Os simples e humildes, ao contrário, sentem necessidade de ser salvos, sabem que por si mesmos não se podem salvar e abrem o seu coração ao Deus de Jesus Cristo, acolham o «novo», porque têm poucas coisas velhas a defender. Os simples recebem a consolação de Cristo na simplicidade do amor e do seu seguimento”.

 

Olhar a morte com confiança

Na celebração exequial, D. Joaquim Mendes apontou ainda a forma como os cristãos devem olhar a morte. “Olhamo-la, não com tristeza, mas com confiança e alegria, porque sabemos que Ele descansa em Deus, depois de uma vida consumida ao serviço do seu Reino, marcada por fadigas, cansaços, sofrimentos; marcada pelo mistério da cruz, que conduz à ressurreição. Para nós, cristãos, a morte é sempre um «até logo», porque todos havemos de morrer e todos somos peregrinos da Casa comum, onde o Pe. José Lapa já se encontra e aí nos espera. A morte é uma realidade de tal modo clara, que dispensa teorias e abstrações. Ela coloca-nos diante de verdades inquestionáveis, a que não podemos fugir. Ela é o termo da vida e confere-lhe sentido. O mistério da morte projeta luz sobre o mistério da vida. A vida assume valor e significado na medida em que é vivida na doação e no amor, como a de Cristo e como a deste nosso irmão: uma vida longa, fecunda, totalmente dedicada ao Senhor e à Igreja. A vida de um sacerdote é sempre um ato de generosidade e de amor de Deus para com o seu povo”.

O Bispo Auxiliar de Lisboa terminou a homilia agradecendo a Deus o dom da vida do padre Lapa: “Agradecemos ao Senhor o dom da sua vida e guardamos como herança o testemunho de fé, de amor, de fidelidade e serviço ao Senhor e à sua Igreja que ele nos deixa”.

 

Perfil do padre José Lapa

1926 – Nascimento em Sedielos – Vila Real

1949 – Profissão Religiosa na Silva – Barcelos

1963 – Ordenação Presbiteral na Torre d’Aguilha – Lisboa

1973 – Reciclagem em Roma

1974 – Introdução do RCC em Portugal

1983 – Fundação do Centro Espiritano de Benfica

1989 – Secretário-Geral da CNIR

2014 – Morte em Lisboa

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos do Arquivo do Jornal VOZ DA VERDADE
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