Jornal Voz da Verdade

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01.06.2014

Papa |

A uma janela de Roma

Papa pede perd�o por divis�es entre crist�os

O Papa Francisco esteve tr�s dias na Terra Santa e fez o resumo da sua peregrina��o. No avi�o de regresso a Roma, falou de v�rios temas, como o celibato, os abusos sexuais contra crian�as, a fam�lia e a resigna��o dos Papas.

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1. A viagem do Papa � Terra Santa, entre 24 e 26 de maio, foi o tema da audi�ncia-geral de quarta-feira, na Pra�a S�o Pedro. O Papa Francisco fez uma pausa na suas catequeses sobre os sete dons do Esp�rito Santo, para falar da recente peregrina��o que ele definiu como “um grande dom para a Igreja” e recordou o motivo que o levou � terra de Jesus: celebrar os 50 anos do encontro entre Paulo VI e o Patriarca Aten�goras, rezando desta vez no Santo Sepulcro com Bartolomeu I. “Naquele local onde ressoou o an�ncio da Ressurrei��o, sentimos toda a amargura e o sofrimento das divis�es que ainda existem entre os disc�pulos de Cristo. A divis�o faz mal ao cora��o. Ainda estamos divididos? Naquele local onde Jesus nos d� a vida, n�s ainda estamos um pouco divididos”, disse Francisco. “Mas sobretudo, naquela celebra��o repleta de rec�proca fraternidade, estima e afeto, ouvimos forte a voz do Bom Pastor ressuscitado que quer reunir todas as suas ovelhas em um s� rebanho; sentimos o desejo de curar as feridas ainda abertas e prosseguir com afinco o caminho para a plena comunh�o. Mais uma vez, como fizeram os Papas precedentes, eu pe�o perd�o por aquilo que fizemos para favorecer esta divis�o. E pe�o ao Esp�rito Santo que nos ajude a curar as feridas que n�s fizemos aos outros irm�os. Todos somos irm�os em Cristo e com o Patriarca Bartolomeu somos amigos, irm�os compartilhamos a vontade de caminhar juntos”, acrescentou, na audi�ncia do passado dia 28 de maio.

O Papa lembrou que outra finalidade desta peregrina��o foi encorajar na regi�o o caminho rumo � paz – encorajamento feito nas tr�s etapas da visita: Jord�nia, Palestina e Israel. “Eu o fiz sempre como peregrino, levando no cora��o uma grande compaix�o pelos filhos daquela Terra, que h� muito tempo convivem com a guerra e t�m direito de conhecer finalmente dias de paz! (...) A paz faz-se artesanalmente. N�o existem ind�strias de paz. Ela � feita todos os dias, artesanalmente e tamb�m com o cora��o aberto para venha o dom de Deus”. Ba Jord�nia, Francisco declarou-se “impressionado” com a generosidade da popula��o, que acolhe milhares de refugiados em seu territ�rio, que fogem das guerras na regi�o. “Que Deus aben�oe este povo acolhedor”, disse o Papa, pedindo que a comunidade internacional ajude o pa�s neste trabalho de acolhimento.

Ainda sobre o tema da paz, Francisco recordou o convite feito aos Presidentes de Israel e da Palestina, “homens de paz e art�fices da paz”, para irem ao Vaticano para rezarem pela paz. “Por favor, pe�o a voc�s que n�o nos deixem s�s. Rezem muito para que o Senhor nos d� a paz naquela terra aben�oada. Conto com a ora��o de voc�s, forte, rezem muito para que reine a paz”, pediu.

No final, o Papa Francisco afirmou que a sua viagem foi tamb�m a ocasi�o para confirmar na f� as comunidades crist�s que tanto sofrem, e expressar a gratid�o de toda a Igreja pela presen�a deles naquela regi�o e em todo o M�dio Oriente. “Com esta visita, quis levar uma palavra de esperan�a; mas tamb�m eu a recebi; recebi-a de irm�os e irm�s que continuam a esperar contra toda a esperan�a, por meio de tantos sofrimentos, como os que fugiram do pr�prio pa�s por causa de conflitos ou que foram discriminados e desprezados por causa da sua f� em Cristo. Rezemos por eles e pela paz na Terra Santa e em todo o M�dio Oriente. A ora��o de toda a Igreja ampare tamb�m o caminho rumo � plena unidade entre os crist�os, para que o mundo creia no amor de Deus que em Jesus Cristo veio habitar entre n�s”.

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2. O celibato dos padres “n�o � um dogma de f�”, mas sim “uma regra de vida”, afirmou o Papa Francisco, esta segunda-feira, dia 26, durante a viagem de regresso a Roma ap�s a visita � Terra Santa. “O celibato n�o � um dogma de f�. � uma regra de vida que eu aprecio tanto e creio que � um dom para a Igreja”, disse o Papa numa conversa com os jornalistas. A bordo do avi�o que transportou a comitiva, Francisco sublinhou que “n�o sendo um dogma de f�, est� sempre em aberto", mas n�o � uma prioridade imediata. "Neste momento n�o falamos disto, como programa, pelo menos por agora. H� coisas mais importantes para realizar”, frisou.

A quest�o dos abusos sexuais contra crian�as cometidos por membros da Igreja tamb�m foi abordada, com o Papa a fazer um an�ncio. “Nos primeiros dias de junho haver� uma Missa em Santa Marta, com seis a oito pessoas abusadas, e depois terei uma reuni�o com eles e eles com o cardeal Sean O’Malley, presidente da Comiss�o [Pontif�cia para a Prote��o de Menores]. Sobre isto, deve-se avan�ar”, declarou Francisco. “O abuso de menores � um crime t�o horr�vel. Sabemos que o problema � grave e est� por todo o lado, mas a mim, s� me interessa a Igreja: um sacerdote que faz isto, trai o corpo do Senhor, porque este sacerdote deve levar este menino, ou menina, este rapaz ou rapariga � santidade; e este, em vez de levar � santidade, abusa deles. Isto � grav�ssimo. � como fazer uma missa negra, por exemplo. Em vez de levar a pessoa � santidade, leva-a a um problema que durar� toda a vida”, sublinhou.

Nesta longa conversa com os jornalistas, o Papa falou tamb�m sobre o S�nodo da Fam�lia, que decorre de 5 a 19 de outubro. Francisco diz ficar entristecido quando se reduz o encontro � quest�o dos divorciados recasados. O S�nodo n�o vai servir para debater apenas uma "casu�stica", mas sim para aprofundar uma quest�o muito mais complexa do que um mero aspeto relacionado com o casamento, salientou. “O S�nodo ser� sobre a fam�lia, sobre o problema da fam�lia, sobre a riqueza da fam�lia. E eu n�o gostei nada que tantas pessoas – at� da Igreja… padres – tenham dito: ‘o S�nodo � para dar a comunh�o aos divorciados’, como se tudo se reduzisse a uma casu�stica”, referiu.

Questionado se admite um dia resignar ao cargo de chefe da Igreja Cat�lica como fez Bento XVI, Francisco, de 77 anos, respondeu que ainda n�o sabe o que vai fazer e que tomar� uma decis�o em fun��o do que Deus lhe pedir. “Eu creio que Bento XVI n�o � um caso espor�dico, mas aconteceu que, j� sem for�as e, honestamente, como homem de f� e t�o humilde, tomou esta decis�o. Creio que ele � uma institui��o. H� 70 anos, quase n�o existiam bispos em�ritos e agora h� tantos. O que acontecer� com os Papas em�ritos? Creio que devemos olhar para ele como uma institui��o. Ele abriu uma porta, a porta dos Papas em�ritos, se haver� outros mais, ou n�o, s� Deus sabe, mas esta porta est� aberta. E eu creio que um Bispo de Roma, um Papa que sinta as suas for�as a diminu�rem, deve-se confrontar com as mesmas perguntas do Papa Bento”, declarou.

Aura Miguel, � conversa com Diogo Paiva Brand�o