Lisboa |
Paróquia de Nossa Senhora da Pena, em Lisboa
“A grande aposta é o Domingo”
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No centro de Lisboa, paredes meias com o Hospital de São José, misturada pelas fachadas de edifícios contíguos, encontramos a igreja paroquial da Pena. Na movimentada mas estreita Calçada de Santana, está uma paróquia que vive hoje o problema do envelhecimento da população mas que, segundo o pároco, “não quer ficar na sacristia” e procura “embelezar a celebração dominical” de forma a atrair mais fiéis.

 

Já teve, em tempos, uma das festas mais concorridas de Lisboa – a ‘Festa dos prazeres’. Hoje, a paróquia da Pena pertence à recém-criada freguesia de Arroios que conta com cerca de 30 mil habitantes e lida com o problema crescente do envelhecimento e com uma participação reduzida nas celebrações dominicais. “A Pena, como freguesia anterior, está num processo de reurbanização. Quer dizer que progressivamente a população foi envelhecendo, casas foram ficando devolutas e estamos num processo de reocupação por gente mais nova em idade e também com outro tipo de características em termos sociais”, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE o diácono Leopoldo Vaz, assistente da paróquia, nascido e criado na extinta freguesia da Pena e urbanista de profissão. Este ‘repovoamento’ trouxe o surgimento de várias classes sociais: “Classe média, média alta, quadros técnicos que gostam de um ambiente de cidade antiga e de condomínios fechados”, salienta este diácono permanente. A paróquia assistiu portanto a uma mudança de paradigma das tipologias habitacionais, que foram sendo “readaptadas a um outro tipo de ocupação”, sendo que essa mudança trouxe também um empobrecimento progressivo da participação ativa na vida pastoral.

 

“Sair da sacristia”

Na sua chegada à paróquia em 2004, o pároco, padre Nicolau Poelman, de origem holandesa, apercebeu-se que era necessário dar uma nova vida à comunidade. No contexto do Congresso Internacional para a Nova Evangelização (ICNE), que decorreu em Viena e Paris, antes de Lisboa também acolher um dos encontros, em 2005, viu que “a necessidade da Igreja sair da sacristia e ir para as ruas” era uma interpelação também para a paróquia que acabara de o acolher. Esta continua também a ser uma “ideia que permanece atual e tantas vezes repetida pelo Papa Francisco”, salienta o sacerdote. Recordada da ‘Festa dos prazeres’, como preciosa tradição histórica daquela comunidade, a paróquia achou por bem fazer uma procissão com a padroeira. “Utilizámos um esquema muito orante em honra das alegrias de Nossa Senhora, relembrando os sete mistérios que compõe a coroa Seráfica”, também chamado de Rosário Franciscano, explica o diácono Leopoldo. Este responsável refere ainda que, apesar de “não ter apoiado de início esta ideia de fazer uma procissão, até porque não estava muito habituado e tinha como referência a procissão da Nossa Senhora da Saúde, aqui bem próxima”, hoje cumpre todo o sentido porque serviu também para aproximar os diferentes espaços de culto que compõem a paróquia.

 

Espaços de culto unem a comunidade

Para a dinamização da missa dominical foi importante a reabertura ao culto da capela de Nossa Senhora da Conceição da Carreira, situada na Rua Gomes Freire, que, juntamente com a Capela do Sagrado Coração de Jesus e Maria Imaculada, na Rua Capitão Renato Baptista, e a igreja paroquial, completam os três locais por onde passa a procissão de Nossa Senhora da Pena durante as festividades que este ano decorreram entre os dias 1 e 3 de junho. O padre Nicolau destaca até a importância dessa reabertura, revelando que a missa na capela situada na Rua Gomes Freire “é hoje a mais concorrida” das três. A passagem da procissão pelos três locais de culto foi uma forma de dar, segundo o diácono Leopoldo, “um certo ligante à própria comunidade. Uma comunidade que está dispersa por tantos locais de culto, se não tiver algo capaz de fazer um ligante, acaba por ser sempre uma soma de comunidades. Nós pretendíamos ter uma comunidade em várias células, que é uma coisa distinta”.

 

O Domingo como aposta paroquial

Questionado sobre qual seria a grande aposta da comunidade paroquial para os próximos anos, o sacerdote holandês, padre Nicolau Poelman, não tem dúvidas: “A grande aposta é o Domingo! Mas é igualmente a nossa grande dificuldade”, assume. Trata-se sobretudo de “dar qualidade às celebrações eucarísticas”. Fruto de ser uma freguesia envelhecida, “temos paroquianos com uma idade avançada, daí que o canto não seja ‘grande coisa’”, salienta. “Sem canto de boa qualidade não se atrai as pessoas porque as pessoas querem beleza”, observa. Esse é o grande desafio, pelo menos, a curto prazo, que a paróquia atravessa. “Estamos a lutar para melhorar essa qualidade. Ultimamente tem havido uma tendência para a entrada de novos elementos que são também mais jovens”, acrescenta o pároco.

Outro desafio que o padre Nicolau aponta é-o não só localmente mas também para toda a Igreja. Este sacerdote holandês refere que “as pessoas distanciaram-se da Igreja por causa do clericalismo. Por isso, o grande desafio para toda a Igreja é acabar com isso. Penso que os nossos bispos estão empenhados em apagar as feridas que o clericalismo deixou”.

Para o diácono Leopoldo, há também a necessidade da comunidade paroquial apostar no acolhimento. “No geral, a média de participação em cada uma das missas dominicais ronda as 30-40 pessoas. São números muito inferiores a outras paróquias de maior dimensão, por isso são condições ideais para apostarmos nesta ‘pastoral de proximidade’, enriquecendo assim o acolhimento”.

 

Respostas sociais

Atualmente, sobretudo pela proximidade com a Praça do Martim Moniz, uma das zonas da cidade onde confluem emigrantes de várias procedências, tais como China, Paquistão, Brasil, países do leste europeu, e também com uma população empobrecida, muitos “batem à porta” da paróquia pedindo ajuda para os mais diversos fins. O diácono Leopoldo lembra as “muitas dificuldades de sobrevivência financeira” pelas quais a paróquia também passa. No entanto, apesar de isso ser limitador, garante que “não é o fundamental”. “Ajudamos pontualmente quem nos procura aqui na igreja”, refere o pároco. “O apoio que a paróquia pode prestar é sempre pontual”. Apesar de presidir ao Centro Social da Pena, o padre Nicolau defende que aquele “não é um centro de solidariedade. As duas valências, creche e pré-escolar, são geridas como uma empresa normal”, frisa. Existem porém “algumas respostas mais urgentes que também são dadas pela Santa Casa da Misericórdia” que presta um particular apoio aos mais idosos que vivem na freguesia e que tem uma boa relação com a paróquia, tendo-se servido até há bem pouco tempo de instalações paroquiais para o seu funcionamento.

 

Realidade pastoral

A fraca participação de crianças na catequese espelha a realidade desta paróquia do centro da cidade. Atualmente, “não há tendência para aumentar o número de crianças que vão à catequese”. “Temos um grupo com 12 crianças ao todo e não conseguimos separá-las por grupos porque, precisamente, são muito poucas. Contudo, temos também introduzido o [processo formativo] ‘Despertar da Fé’, proposto pelo Departamento da Catequese do Patriarcado, na valência pré-escolar do centro social”, refere o padre Nicolau Poelman. No entanto, o mesmo sacerdote destaca a forte presença do movimento Apostolado da Oração e do grupo da Lectio Divina na vida da paróquia.

No sentido de dar reposta à grande aposta que passa pela revitalização do Domingo, “a paróquia terá para breve a criação de um grupo coral”, garante o pároco. Este grupo já existiu há alguns tempos atrás, mas “após um dos ensaios, durante o regresso a casa, os elementos do coro foram assaltados e desde então já não tiveram coragem para voltar a reunir”, refere o padre Nicolau. “Agora vamos começar a fazer um ensaio para o coro, às quartas-feiras, às 18h00, porque temos um jovem com formação musical que irá começar a colaborar connosco. Com isso, desejo que comece a melhorar a qualidade da Eucaristia, de modo a atrair mais pessoas”, confessa o pároco holandês.

 

Missa campal

Para o encerramento das festividades em honra de Nossa Senhora da Pena, a paróquia conta com o apoio da Junta de Freguesia de Arroios, que fornece o palco, e de outras associações, para a organização de uma missa campal. A celebração será no próximo dia 27 de julho e, este ano, será dedicado em especial os avós. É também o dia da comunidade paroquial e, por isso mesmo, não vão ser celebradas as habituais missas dominicais na paróquia, convergindo a comunidade para o jardim do Campo dos Mártires da Pátria, local central, situado nas proximidades da igreja de Nossa Senhora da Pena. O padre Nicolau destaca a importância desta celebração, porque, lembrado da beleza de outros anos, “é um momento que atrai as pessoas”, assegura.

 

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Um ‘tesouro’ na Calçada de Santana

A igreja paroquial de Nossa Senhora da Pena está situada no cimo da Calçada de Santana, em Lisboa, e apresenta uma fachada simples com tons cinzentos, misturando-se com as construções vizinhas. É um templo inaugurado em 1705, marcado por um estilo barroco e de particular beleza no seu interior, destacando-se a talha dourada que reveste a capela-mor, o tecto da nave central e o imponente órgão. No seu interior guarda ainda as imagens de Nossa Senhora da Pena e também da co-padroeira, Santa Ana.

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