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Nuno Cardoso Dias
Onde estiver o teu tesouro aí estará o teu coração
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A APFN avançou com a proposta de um dia dos irmãos. Diz que é preciso celebrá-los porque “quer em família, quer socialmente, essa é a maneira de mantermos sempre presente, fortalecermos e festejarmos o que, de tão importante, acontece entre irmãos: o crescer juntos, as aventuras, as descobertas, a solidariedade, a proximidade, a cumplicidade, a identidade que é diferença, a diversidade, a entreajuda, a cooperação e a divisão de tarefas, a alegria e a tristeza, as emoções, boas e más, a tolerância, a reconciliação, a partilha, as histórias, raízes e memórias. “

E acrescenta: “Quem tem a felicidade de ter irmãos, conhece bem o significado desta pertença.” (e acrescento, sabendo que a Inês Teotónio Pereira o disse muito melhor, numa crónica recente do i: quem teve a infelicidade de os perder, ainda sabe melhor o significado desta pertença).

Por todas estas razões é preciso celebrar os irmãos. Porque eles constroem as relações mais fortes, as pessoas mais inteiras, uma sociedade mais feliz.

Numa altura em que muitos casais optam por não ter mais de um filho para lhe poder dar tudo, é preciso dizer-lhes que nunca se pode dar tudo a quem não tem irmãos. Pode haver outras razões para não ter mais filhos, mas não esta, que parece tão bem, mas não é verdadeira. O Fernando Ribeiro e Castro, como era seu hábito, disse-o lapidarmente: “Se queres ver uma criança feliz, dá-lhe um irmão. Se queres ver uma criança muito feliz, dá-lhe muitos irmãos.”

A APFN propôs e celebrou o dia 31 de Maio para assinalar esta data. Porque encerra o mês de Maio, mês em que se celebram o Dia da Mãe (1º Domingo) e o Dia Internacional da Família (15 de Maio). Porque fica paredes meias com o Dia da Criança, e nessa idade os irmãos assumem uma particular relevância.

A APFN criou um portal referente a esta data – www.diadosirmaos.org – e uma petição pública, acessível a partir desse portal. A petição tem até agora 1066 assinantes.

Ultimamente nos Açores surgiu uma polémica sobre o resplendor da imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que foi pedido e emprestado para uma exposição temporária no Museu Nacional de Arte Antiga. Houve uma petição online, opondo-se à saída do resplendor. A petição tem 2211 assinantes.

Mesmo sem falar das riquezas, do seu valor e corrupção, mesmo falando apenas da arte sacra e do seu valor como oração corporizada, esta polémica é muito sintomática de uma Igreja que se repete nas suas tensões, desde a fuga do Egipto.

Mas mais interessante que a polémica é perceber que estes dois exemplos são sintomáticos de uma forma de estar que, sendo nossa, podemos melhorar. Até no futebol somos melhores a reagir que a construir. Nada como uma polémica para nos polarizar, que é outra forma de dizer dividir, opôr, fracturar. Para o que constrói respondemos muitas vezes com inércia, para o que destrói reagimos sempre com veemência. O problema de tudo isto é que deixa marcas, tensões, divisões. Pertencemos ao que construímos, separamos o que destruímos.

Independentemente do mérito ou demérito da nossa posição, devemos ser edificantes: ser e fazer a Igreja que queremos, mais que apontar o que não concordamos na Igreja, ser e fazer o Mundo que queremos, mais que apontar o mundo que não queremos.

Construir um mundo de irmãos – e lutar para que seja reconhecido um dia que celebre a fraternidade como laço essencial: eis um bom começo.