Missão |
Ana Leal, do Grupo Missão Mundo (grupo de leigos da Congregação das Irmãs Concepcionistas)
“Quando um de nós parte, não parte só”
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Ana Margarida Alves Leal Santos nasceu a 12 de agosto de 1970 numa família que lhe incutiu o cuidado do outro, o trabalho e a luta pela igualdade de direitos como fundamentos do seu ser, através dos pequenos gestos quotidianos.

 

A caminhada da Missão

A sua infância foi vivida entre a escola, a família e os amigos. Andou na Catequese, na Paróquia de S. Paulo, em Setúbal, onde fez a primeira comunhão e participou algum tempo no grupo de Jovens. Aos 15 anos Ana sonhava com a ideia que um dia faria missões para ajudar os outros.

Só mais tarde, por volta dos 30 anos, começou a sentir que era preciso fazer mais. “É através da busca de sentido para a minha existência, de um sentir a necessidade de dar algo de mim, de fazer mais qualquer coisa na comunidade onde estava inserida, de uma consciência orientada para a cidadania, que chego ao voluntariado, já em idade adulta, em 2003”.

 

Os primeiros anos de Voluntariado

A experiência dos primeiros anos no voluntariado na Comunidade Vida e Paz junto das pessoas sem-abrigo veio revelar-lhe que a saída da rua está longe de ser um processo simples. Tantas vezes deu por ela a tentar perceber o sentido do que via, ouvia e sentia durante a noite. Foi neste diálogo transformador que se encontrou com Jesus Cristo. Foram também tempos agitados, interiormente! O trabalho de rua é uma gota de água no oceano, mas tudo seria mais difícil se isso não fosse feito: “O trabalho do voluntariado começou a ir muito para além das voltas da noite e instalou-se na minha vida pela caminhada com o outro, pela capacidade de integrar o outro, na partilha e na participação do sofrimento e da alegria do outro, no ‘dar-se’ na entrega e no afeto, na escuta e no diálogo com sentido sem um tempo pré-definido, caminhando com o outro, fui-me conhecendo melhor a mim...”

Ana teve, pois, a oportunidade de conhecer os diferentes espaços da Comunidade Vida e Paz e os rostos das pessoas que a tornam uma realidade há já 25 anos. Integrou a Equipa da Espiritualidade da CVP onde participa em diferentes atividades – na motivação dos
sem-abrigo para sair da rua, na preparação das missas pelos sem-abrigo falecidos, nas idas ao teatro e nos passeios com os sem-abrigo, voluntários e residentes, são importantes espaços de partilha e de transformação humana.

 

Os horizontes da Missão

Foi na caminhada com os sem-abrigo que também se abriram outros horizontes de missão. “A busca de sentido não parou e começou a surgir em mim a vontade de fazer voluntariado mais longe da minha comunidade e assim comecei a procurar outros grupos que realizavam missões ad gentes”, conta-nos Ana.

“Numa noite de volta de rua juntaram-se a nós, Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, com quem partilhei o sonho da missão mais longe e o qual elas acolheram no seu coração. Em 2007, quatro jovens e as Irmãs reunimos para idealizar um grupo de voluntariado missionário. Nascia, assim, o Grupo Missão Mundo, grupo de leigos da Congregação das Irmãs Concepcionistas. Desde então, caminhamos juntos numa missão partilhada por amor aos mais pobres, procurando servir, formar, educar e desenvolver. O projeto fundador foi a Mesa de S. Nicolau, a cantina escolar, que fornece o almoço diário a 300 crianças órfãs que frequentam as escolas de Manjacaze e Macasselane, em Moçambique. Neste espaço temos vindo a desenvolver o Projeto Juntos na Hi Funda - Juntos Aprendemos, enquanto espaço de brincadeira, de entreajuda, de realização dos trabalhos da escola, local afetivo que cresce em comunhão entre as crianças, as monitoras, as irmãs e os voluntários”.

 

A partida em Missão para Moçambique

Foi em 2009 que Ana partiu em Missão para Moçambique, pois o tempo de “vontade” de partir nem sempre coincide com o tempo de “ser enviado”. Nesta missão teve a oportunidade de viajar por aquele país imenso, de Maputo até Nacala, e de contactar com várias obras missionárias, que muito a interpelaram, o que a ajudou ainda mais na compreensão do sofrimento humano, dos que dormem na rua, dos que perderam familiares, dos que se deslocam entre regiões em busca de vida, dos que lutam diariamente pela saúde, principalmente contra o VIH/Sida, pela água que escasseia e pela comida que não existe e, mesmo assim, a vida tem sentido e existe a esperança de que outro mundo é possível.

Após a vivência da missão em Moçambique, tudo voltou a ter um sentido diferente. “Passei como que a ver com outros olhos, os olhos do coração e os horizontes foram ainda mais alargados. A missão voltava a começar, nas missões onde as Irmãs Concepcionistas estão – Moçambique, México e Timor Leste, através da coordenação do Grupo Missão Mundo e pelo desenvolvimento de novos projetos na área da educação e na saúde e no apoio à formação, à partida e ao regresso de outros missionários, na certeza de que quando um de nós parte, não parte só”.

 

A caminhada da Missão continua em Portugal

Desde 2009, tem sido, em Portugal, chamada a estar e a dar o seu testemunho e a apoiar outros a partir em missão e a serem testemunho de amor e esperança. Hoje a caminhada de missão continua e é feita em família, a ser missionária onde quer que esteja, é ter presente que as razões que a levam a ir, são as mesmas que a levam a permanecer, pois a missão de nos darmos aos outros não tem geografia, é no coração dos Homens. “É este testemunho silencioso de esperança, esta seiva que a nossa presença deixa por onde vamos passando, que Madre Isabel, fundadora da Congregação das Irmãs Concepcionistas referia que esse “amor deveria espalhar-se como se fosse um perfume” junto dos que mais precisam”.

texto por Vanessa Furtado, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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