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P. Duarte da Cunha
O maior desafio da Igreja Europeia
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Perguntam-me frequentemente qual é o maior desafio para a Igreja na Europa. É uma questão provocadora e talvez não haja uma resposta única. Mas é bom tentar individuar alguns dos desafios mais prementes e sobretudo definir qual a missão específica da Igreja.

Sem dúvida que um dos temas mais importantes é a unidade da Igreja e da Europa. Quanto mais se viaja pela Europa mais evidente se torna a grande variedade de culturas, circunstâncias, sensibilidades, e mesmo experiências de fé. E no entanto, há algo que nos faz sentir que existe uma unidade entre todos estes povos e que é preciso cuidar dessa unidade muitas vezes quebrada ou em perigo. A tensão entre a diversidade e a unidade é, de facto, um dos grandes desafios para a Igreja europeia, tal como é para a política, mas não é o maior desafio!

Há questões mais urgentes como a crise económica, o desemprego, o inverno demográfico, a crescente insegurança nas cidades, a falta de coesão nas famílias, os emigrantes, etc. São desafios que pela sua urgência exigem muita atenção, e empenham os cristãos e a Igreja no seu todo. Um pouco por todo o lado fala-se destas questões, procuram-se diagnósticos que ajudem a perceber as raízes e as consequências das crises e ensaiam-se soluções inspiradas nos valores cristãos. Contudo, não me parece que o problema de fundo esteja nas crises.

Há, depois, quem veja que estas crises são a consequência de uma certa decadência moral, que tem levado a um crescente egoísmo o qual é incapaz de assegurar relações sociais estáveis. Poderia, por isso, parecer que a missão da Igreja deveria ser a de garantir uma certa moralidade. Mas julgo que devemos ir ainda mais longe na busca das raízes e dos verdadeiros desafios. De certa maneira, todos estes problemas são expressão de um problema mais grave que há vários séculos se implantou na Europa.

Aquilo que me parece ser o maior desafio para a Igreja na Europa é a questão religiosa: a relação com Deus. Aliás, podemos mesmo dizer que o grande problema começa por ser a relação com a realidade em geral. Por diversas razões, a realidade parece incapaz de provocar o homem enrolado nas mil e uma coisas que tem de fazer e, por isso, não consegue remeter para o Criador.

A grande questão dos nossos tempos é que Deus não parece ser real para o cidadão moderno. E como quem tem fé sabe que o encontro com Deus é o acontecimento mais importante da sua vida, podemos dizer que levar os nossos contemporâneos a encontrar Deus é o maior dos desafios. Tudo o resto será consequência.

Como mostrar ao homem moderno que passa a vida ligado ao virtual, agarrado ao telemóvel ou a olhar para ecrãs, e que julga saber quase tudo de tudo através da Wikipédia ou que pretende ser muito social porque tem muitos "amigos" no Facebook, que Deus não é apenas uma energia, um sonho ou um regulador mas é uma realidade pessoal que nos ama?

A pergunta poderia parecer de desespero: parece impossível levar o homem de hoje a estar com Deus? Mas um cristão não consegue perder a esperança, porque sabe que Deus não desiste de nenhuma pessoa.

Ora, um pouco por toda a Europa, temos testemunhos grandiosos de que a fé não é uma coisa do passado ou uma utopia. Há jovens que encontraram Deus de tal maneira que não temem ser diferentes dos coetâneos; há famílias que se juntam para defenderem a verdade da família; há escolas que nascem para ajudar os pais a introduzir os filhos na vida adulta com um olhar cristão sobre a realidade; há instituições de caridade que nunca abandonam os pobres; há artistas que tentam levar o nosso olhar para além do imediato; há grupos vivos que se deixam moldar e conduzir por Jesus Cristo. Toda esta vitalidade eclesial mostra que o homem europeu moderno é evangelizável.

Então este é o drama: por um lado dizemos que a grande questão é descobrir Deus, por outro lado vemos que isso é possível. Este é, de facto, o âmago do cristianismo: Deus fez-Se homem para que O possamos encontrar e enviou os discípulos para que por meio deles outros O encontrassem. Não pode ser impossível!

A missão da Igreja começará por ser acordar no coração humano uma certa sede de Deus, porque se o homem não se apercebe deste desejo não está disponível para encontrar Deus. Mas depois não basta despertar o desejo de Deus, porque o objectivo não é que as pessoas sintam a falta de Deus, mas que O encontrem. Não me parece que haja uma solução única, aliás a multiplicidade de experiências vivas mostram que há muitos caminhos. Mas terão todos de passar por aqui e chegar a Deus.