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António Bagão Félix
O humor
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Hoje há défices de tudo e para quase tudo.

A começar no Orçamento. E no Parlamento.

Parece que já não vivemos para além dos défices.

Tudo medimos por medidas.

Tudo fazemos por não fazer.

De tudo nos queixamos por não renunciar.

Tudo criticamos por défice de qualquer coisa.

E com esses défices até o humor parece estiolar.

Quando sempre há humor para além dos défices!

 

O humor é uma competência, um saber, uma aptidão.

O humor é um acto de inteligência. De ser com os outros.

Deus – omnipresente e omnisciente – deu-nos esse dom. Por isso, é um acto da Sua Criação.

Só se dá quando se tem. Deus é abundante em humor. E o Criador deu o humor à criatura. Por isso, é um acto de partilha.

 

O humor é sério.

Até pode não rir, como a tristeza pode não chorar.

O humor é sadiamente tolerante.

Por isso, aconchega, une, aproxima.

O humor até pode ter a expressão da oração. Uma forma de encontro.

E de trabalho. Que por isso foi feito para o Homem.

 

O humor é graça e espírito.

Essa graça que só pode ter nascido da Graça, esse espírito que não existiria sem o Espírito Santo. 

Logo, a Graça da fé e o humor da graça fazem parte do todo ainda que possam não ser tudo.

Há certamente humor no Céu. Porque eu acredito que lá há Vida e Tempo. Vida e Tempo para desfrutar do Amor d’Ele.

 

Voltando à Terra, há muitas formas de amar o humor ou de estar mal-humorado com o desamor.

 

E há o humor britânico que é a forma inteligente de se ser suave no humor e a via suave de se ser inteligente no humor.

 

E há o humor negro que segrega a graça através da desgraça. Por isso se anula na álgebra do espírito.

 

E há o humor vítreo que vive nos olhos paredes-meias com o cristalino que nos dá a riqueza de poder olhar o humor de espírito e de desfrutar do espírito de humor.

 

O humor não se planta. Semeia-se.

Não pega de estaca. Precisa sempre de uma estufa dedicada.

Anemófilo precisa também do vento da vida para polinizar.

O humor é hermafrodita. Não dispensa o androceu e o gineceu. Não há humor macho e fêmea. Há tão só humor.

 

O humor tem idade na idade de cada um.

Por isso, há humores para todas as idades.

E em cada idade, não pára no tempo.

Porque a esperança de vida altera o humor:

Veja-se que do sexagenário atropelado para o octogenário activo vai a distância do humor medido em décadas.

 

O humor não se conta, mas é contado.

Pode não se lembrar, mas não é esquecido.

O humor não se compra, mas pode-se aprender.

Também não se vende apesar dos humoristas, mas pode-se dar.

 

Há quem julgue o humor um produto de pacotilha.

Ou liofilizado com direito a desconto na amargura.

Ou programado com horas certas e locais convenientes.

 

O humor não é um anestesiante. Nem sequer um dopante.

Mas pode ser um vitamínico sem taxa moderadora.

 

Volto ao princípio.

Dar. Partilhar. Renunciar.

Com liberdade. A essência subjacente ao humor.

 

O humor está no amor.

O amor também está no humor.

No princípio.

No humor umbilical.

Nos olhos do bebé.

No leite materno.

E no sorriso. E na Graça.

E na Vida!

 

Receber para aprender.

Aprender para distribuir.

Distribuir para conviver.

 

Viva o humor!