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Manuel Barbosa, scj
A alegria continua
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Está a findar mais um ano pastoral, marcado desde os seus inícios pela exortação «A Alegria do Evangelho» do Papa Francisco; um texto longe de estar esgotado na sua primigénia leitura e em posteriores releituras. Como nos pediu o Papa de modo tão explícito, trata-se de um programa a ser assumido em todas as instâncias eclesiais durante os próximos anos.

Nesse sentido, apelei no título destas notas ao dinamismo constante da alegria que deve continuar em todas as situações da nossa vida humana e cristã: uma alegria a brotar do Espírito de Cristo derramado no nosso coração, qual húmus do nosso existir; uma alegria a beber do Evangelho sempre novidade para nós.

De tantos eventos em que se retomam estes dinamismos da alegria transformadora do Evangelho, recordo dois: as recentes Jornadas Pastorais dos nossos Bispos, que aconteceram em Fátima de 16 a 18 de junho, e o iminente encontro das presidências das conferências episcopais dos países lusófonos, que vai decorrer em Angola de 21 a 27 de julho.

Nas Jornadas Pastorais procurou-se discernir e encontrar respostas aos principais desafios pastorais que a exortação do Papa pode provocar nas realidades eclesiais em Portugal. Sabendo-se da influência do Documento de Aparecida na exortação, foi convidado um teólogo pastoralista da América Latina para ajudar a perceber alguns elementos para uma correta compreensão da mesma. Mas o debate incidiu sobretudo sobre economia e finanças ao serviço da pessoa e do bem comum, iniciação cristã e catequese, mundo do emprego e falta dele, transmissão da fé na família, caridade eclesial. Foi um tempo precioso para continuar a busca de soluções para as problemáticas das nossas Igrejas locais, movimentos e institutos religiosos, fazendo com que a alegria, imbuída de esperança, continue a transformar mentes e corações em vista de uma Igreja «em saída» mais renovada e renovadora.

No encontro dos Bispos da Lusofonia também se abordará «o papel transformador do Evangelho na sociedade à luz da Evangelii gaudium», incidindo-se no papel da Igreja junto dos mais pobres e do mundo económico, junto do mundo político e da advocacia social. Será certamente um importante fórum de partilha das situações que se vivem nos mundos eclesiais da lusofonia em vários continentes. As dificuldades e problemáticas em debate só podem ser levadas pelo espírito de alegria que brota do Evangelho recebido e anunciado.

E a alegria cristã em tempo de férias? Continua ou esmorece? Há cristãos que aproveitam o tempo de férias para delas fazer um tempo de repouso, ou intervalo, da prática da vida cristã. Nem se preocupam, tantas vezes, por ver se nos espaços de veraneio há programas da grande celebração da alegria em Cristo? Como é possível continuar e fomentar a alegria do Espírito se facilmente descuramos durante semanas a participação na Eucaristia, onde renovamos a alegria de nos alimentarmos da Palavra e do Pão? Como é possível crescer na alegria da fé, se não cuidamos em procurar uma leitura mais sistemática que nos faça sintonizar com a alegria de Deus? Quantas vidas de santos e santas, assim como pertinentes textos e documentos eclesiais, poderiam ser retomados em tempo de férias para reavivar o testemunho de autênticas testemunhas da alegria!

Sempre me causou boa impressão a alegria estampada nos rostos, que só pode subir do coração, de tantos jovens e adultos que ocupam o seu tempo de férias em dedicação voluntária a causas sociais, seja em Portugal seja noutros países; uma alegria vista na hora da partida, estampada na hora da chegada e bem patente nos tempos que continuam.

O Papa Francisco continua a recordar-nos que a alegria, que é do Evangelho de Jesus Cristo, deve continuar sempre e em toda a parte. Nada a pode apagar, com o risco de deturparmos a nossa identidade cristã.

Boas férias, para quem as puder usufruir, na alegria do Evangelho a marcar as nossas vidas! Repousantes férias, levadas também na oração transformadora e em fecunda leitura para a vida espiritual!