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Manuel Barbosa, scj
Defender a vida e a fé
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«Defender a vida e a fé»: com este título não pretendo colocar-me numa situação de luta religiosa em tons proselitistas, mas apenas ser mais uma voz de denúncia quanto ao que se passa, desde há alguns meses, em particular no norte do Iraque. Aí a situação dos cristãos e de minorias religiosas continua dramática, com repetidos atos atrozes de violência, morte e destruição de pessoas e igrejas, povoações e populações, incluindo ferozes perseguições e desenfreadas fugas das terras de origem. As breves mas incisivas cartas que o Papa Francisco e os bispos da Europa, para citar apenas dois exemplos maiores, dirigiram às Nações Unidas são apelo urgente para que se dê resposta a tão horrendas situações.

Assim se exprimia o Papa na referida missiva ao Secretário Geral das Nações Unidas: «Os ataques violentos que estão a propagar-se no norte do Iraque não podem deixar de despertar as consciências de todos os homens e mulheres de boa vontade para ações concretas de solidariedade, a fim de proteger quantos são atingidos ou ameaçados pela violência e para garantir a assistência necessária e urgente às numerosas pessoas deslocadas, mas também o regresso seguro para as suas cidades e casas. As trágicas experiências do século XX, e a mais elementar compreensão da dignidade humana, obriga a comunidade internacional, em particular através das normas e dos mecanismos do direito internacional, a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir e prevenir ulteriores violências sistemáticas contra as minorias étnicas e religiosas».

No mesmo tom se exprimiram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas os presidentes das conferências episcopais da Europa perante este ciclo infernal de violência: «A Igreja católica na Europa está próxima de todos aqueles que foram constrangidos a fugir das próprias casas ou estão a viver momentos de medo e terror. Compromete-se concretamente a fazer gestos de solidariedade através de iniciativas já em andamento. Todavia, na ausência de um empenho decisivo da parte da comunidade internacional e das autoridades do Iraque, estes esforços não poderão resolver o problema».

Também a Conferência Episcopal e os nossos bispos se têm pronunciado no mesmo sentido, assim como várias comunidades e instituições da Igreja, nomeadamente a Cáritas Portuguesa e a Ajuda à Igreja que Sofre, que com iniciativas concretas continuam empenhadas nesta ação solidária para com os nossos irmãos do Iraque.

Todos somos interpelados à oração fecunda e à solidariedade efetiva, atitudes nunca dispensáveis na atenção permanente a esta causa. Trata-se da vida, da fé e da religião a que qualquer ser humano tem direito, e que importa defender com todos os meios.

Mas fica a impressão que, após algum tempo de «antena mediática», a causa tem merecido algum esmorecimento a nível dos governantes das nações. Não pode ser. Nestas situações de defesa da vida e da paz, da fé e da religião, não faz sentido qualquer tipo de pausa; só pode haver intensificação, tenacidade e persistência.

Ainda nestes últimos dias, numa conferência em Genebra, Louis Raphael Sako, Patriarca Caldeu da Babilónia e Presidente da Conferência Episcopal do Iraque, veio recordar-nos algumas insistências: «é preciso que se reconheça o genocídio dos cristãos»; «os cristãos no Iraque só têm futuro se a comunidade internacional os ajudar imediatamente, não se esqueçam disso»; «atualmente há cerca de 120 mil cristãos deslocados no Iraque e eles precisam de tudo, porque os terroristas do Estado Islâmico têm-lhes tirado tudo»; «chega o inverno rigoroso, onde é quase impossível resistir sem o mínimo de condições para tantos deslocados». E a terminar, em forte apelo, pleno de esperança, à ação urgente e constante: «ainda há esperança para os cristãos do Iraque, mas apenas se agirmos imediatamente».

Como homens e mulheres de fé, sejamos persistentes para que a situação dos nossos irmãos no Iraque não se apague, quer na agenda mediática e nos órgãos de decisão dos governos, quer na oração e no apoio solidário de todos nós.