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Sínodo dos Bispos sobre a Família, em Roma
“Sínodos servem para cooperar no sonho de Deus”
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O Papa Francisco considera que “as assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais”, mas “para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor”. Na Missa de abertura do Sínodo Extraordinário sobre a Família, o Papa pediu ainda aos Bispos de todo o mundo para cuidarem da família.

 

“As assembleias sinodais não servem para discutir ideias bonitas e originais, nem para ver quem é mais inteligente… Servem para cultivar e guardar melhor a vinha do Senhor, para cooperar no seu sonho, no seu projeto de amor a respeito do seu povo. Neste caso, o Senhor pede-nos para cuidarmos da família, que, desde os primórdios, é parte integrante do desígnio de amor que Ele tem para a humanidade”. Palavras fortes do Papa Francisco na Missa de abertura do Sínodo dos Bispos sobre a Família. Na Basílica de São Pedro, no Vaticano, no passado Domingo, 5 de outubro, Francisco pediu ainda ponderação aos Bispos que se reúnem em assembleia sinodal até dia 19 de outubro. “Nós somos todos pecadores e também nos pode vir a tentação de «nos apoderarmos» da vinha, por causa da ganância que nunca falta em nós, seres humanos. O sonho de Deus sempre se embate com a hipocrisia de alguns dos seus servidores. Podemos «frustrar» o sonho de Deus, se não nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo. O Espírito dá-nos a sabedoria, que supera a ciência, para trabalharmos generosamente com verdadeira liberdade e humilde criatividade”, sublinhou.

Nesta homilia da Missa inicial do Sínodo dos Bispos sobre a Família, que conta com a presença do presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente, o Papa Francisco confiou os trabalhos a Cristo. “Irmãos sinodais, para cultivar e guardar bem a vinha, é preciso que os nossos corações e as nossas mentes sejam guardados em Cristo Jesus pela «paz de Deus que ultrapassa toda a inteligência» (Flp 4, 7). Assim, os nossos pensamentos e os nossos projetos estarão de acordo com o sonho de Deus: formar para Si um povo santo que Lhe pertença e produza os frutos do Reino de Deus (cf. Mt 21, 43)”, assim desejou Francisco.

Ainda neste primeiro dia do Sínodo, o Papa deixou uma mensagem na sua conta do Twitter (www.twitter.com/Pontifex_pt). “No momento em que começamos o Sínodo sobre a Família, peçamos ao Senhor que nos indique o caminho”, escreveu Francisco.

 

Escutar com humildade

Na primeira congregação geral do Sínodo dos Bispos, o Papa exortou os bispos que participam no Sínodo da Família a dizer com clareza “tudo o que, no Senhor, sentem que têm que dizer” e a “escutar com humildade e acolher com o coração aberto o que dizem os irmãos”. “Com estas duas atitudes se exerce a sinodalidade”, afirmou o Santo Padre, na segunda-feira, 6 de outubro. Francisco agradeceu a todos os colaboradores do Sínodo, assim como aos “cardeais, patriarcas, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas pela sua presença e participação que enriquece os trabalhos e o espírito de colegialidade e sinodalidade pelo bem da Igreja e das famílias”.

Na sua intervenção, o Papa lembrou que os padres sinodais são “portadores da voz das Igrejas particulares, reunidas em nível de Igrejas locais mediante as Conferências Episcopais. A Igreja universal e as Igrejas particulares são de instituição divina, as Igrejas locais, entendidas como tais, são de instituição humana. Vocês trarão esta voz em sinodalidade. É uma grande responsabilidade: trazer as realidades e as problemáticas das Igrejas para ajudá-las a caminhar naquele caminho que é o Evangelho da família”, assinalou Francisco. Nesse sentido, indicou que “falar claro é a condição básica”. “Que ninguém diga ‘isso não se pode dizer, fulano pensará isso ou aquilo de mim’. É preciso dizer com liberdade tudo o que se sente, a verdade sem temores. No último consistório, em fevereiro passado, quando se falou sobre a família, um cardeal escreveu-me a dizer: ‘Pena que alguns cardeais não tenham tido a coragem de dizer algumas coisas por respeito ao Papa, pensando que ele talvez pensasse diferente’. Isto não é certo, não é sinodalidade, porque os padres sinodais devem dizer tudo o que, no Senhor, sentem que têm que dizer, sem pavor. Ao mesmo tempo deve-se escutar com humildade e acolher, de coração aberto, o que dizem os irmãos. Com estas duas atitudes se exerce a sinodalidade”, garantiu.

Também neste primeiro dia oficial de assembleia sinodal, o relator geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Péter Erdö, considerou que “a família não é um modelo antiquado e que os católicos deveriam defendê-la das estruturas de pecado hostis a ela que colocam em dúvida a tradicional cultura familiar e muitas vezes a destrói”.

  

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O documento de trabalho para o Sínodo sobre a Família

O documento de trabalho (‘Instrumentum Laboris’) do Sínodo dos Bispos sobre a Família é um texto de 44 páginas, estruturado em três partes – ‘Comunicar o Evangelho da família hoje’, ‘A pastoral da família face aos novos desafios’ e ‘A abertura à vida e a responsabilidade educativa’ –, que vão ser amplamente desenvolvidas nos trabalhos desta assembleia sinodal que se iniciou Domingo passado, no Vaticano. Este texto do ‘Instrumentum Laboris’, acessível em http://goo.gl/w9Ad9p (link direto), recolhe os dados, testemunhos e sugestões enviados pelas dioceses, paróquias, movimentos e comunidades de todo o mundo católico, em resposta ao questionário enviado pela Santa Sé, no mês de novembro de 2013, com perguntas relativas ao matrimónio, família e educação cristã.


‘Comunicar o Evangelho da família hoje’

A I Parte do documento preparatório sublinha que a maioria dos cristãos “ignora os ensinamentos da Igreja sobre a família”, “os documentos não são minimamente conhecidos” e “sente-se uma certa dificuldade em pegar nestes textos e estudá-los”. Sublinhando que muitos cristãos manifestam dificuldade em aceitar o ensinamento da Igreja sobre matrimónio e família e que “sobre alguns elementos da doutrina cristã observa-se uma resistência, como por exemplo em relação ao controle dos nascimentos, divórcio e novas núpcias, homossexualidade, convivência, fidelidade, relações pré-matrimoniais, fertilização in vitro, etc.”, o texto aponta que na raiz desta resistência aos ensinamentos da Igreja sobre a moral familiar está “a falta de uma autêntica experiência cristã, um encontro pessoal e comunitário com Cristo”. Muitas respostas consideram desejável “linguagens acessíveis” e “melhores homilias” sobre a Palavra de Deus. Também a oração em família é importante, para alimentar uma verdadeira “cultura familiar de oração”.

 

‘A pastoral da família face aos novos desafios’

A II Parte do documento faz o elenco dos problemas pastorais que enfrenta a família. Sobre o acesso aos sacramentos, “o problema não consiste tanto em não poder receber a comunhão, mas no facto de que a Igreja não os admite publicamente à comunhão, de forma que parece que estes fiéis simplesmente rejeitam ser considerados em situação irregular”. Em várias respostas põe-se em evidência a necessidade de prestar mais atenção aos separados e aos divorciados que não voltaram a casar, fiéis ao vínculo nupcial. Alguns observam que a aceitação corajosa da condição de separados que permaneceram fiéis ao vínculo, marcada por sofrimento e solidão, constitui um grande testemunho cristão. O documento inclui também “um amplo pedido de simplificação da prática canónica das causas matrimoniais”, bem como “um delineamento mais pastoral nos tribunais eclesiásticos, com maior atenção espiritual em relação às pessoas”. As uniões entre pessoas do mesmo sexo e a questão das crianças nessas situações são também abordadas nesta parte.


‘A abertura à vida e a responsabilidade educativa’

A III Parte lembra a Encíclica ‘Humanae Vitae’, do Papa Paulo VI, considerando-a “indubitavelmente profética ao confirmar a união inseparável entre o amor conjugal e a transmissão da vida” e reconhecendo que “ela, na grande maioria dos casos, não é conhecida na sua dimensão positiva”. A última parte do ‘Instrumentum Laboris’ incide e aprofunda o desafio educativo. Muitas respostas fazem notar que, “frequentemente, se verificam reticências e desinteresse por parte dos pais em relação ao percurso de preparação cristã proposto pelas comunidades”. Além disso, quando há divórcio ou separação, “observa-se que não existem atividades especiais que possam apoiar estas crianças, para cicatrizar ou elaborar as suas feridas”. Também “parece cada vez mais necessária uma pastoral sensível, norteada pelo respeito destas situações irregulares, capaz de oferecer uma ajuda concreta para a educação dos filhos. Sente-se a necessidade de um acompanhamento melhor, permanente e mais incisivo em relação aos pais que vivem tais situações”.

  

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“Complexidade da realidade humana tem de ser atendida”

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) vai-se pronunciar, no Sínodo dos Bispos sobre a Família, sobre a “consciência da complexidade da realidade humana”. Questionado pela Rádio Renascença sobre a questão da nulidade do matrimónio, D. Manuel Clemente garantiu: “O mais importante é ter a consciência, e é nesse sentido que me pronunciarei no Sínodo, da complexidade da realidade humana. Que hoje efetivamente nos aparece mais complexa do que porventura em épocas em que as coisas estavam mais estabilizadas, até culturalmente estabilizadas para cada um. Nascia-se homem, nascia-se mulher, crescia-se, casava-se, a vida era assim, tinha-se filhos e a vida passava. Hoje não é assim. E efetivamente cada pessoa é sujeita a tantas informações e contrainformações, a tanta contradição ambiental, que formar uma mentalidade acerca da família, do matrimónio, acerca de si próprio, é hoje muito mais complexo. É essa complexidade que tem de ser atendida”. D. Manuel Clemente, que é também Patriarca de Lisboa, entende ainda que “necessariamente” este Sínodo vai ter mais peso do que outros anteriores, “porque envolveu muito mais gente do que é normal, embora não seja exclusivo deste Sínodo fazer-se uma consulta prévia acerca do tema”.

Questionado se em Portugal se devia reforçar a exigência do curso de preparação para o matrimónio antes de casar pela Igreja, o presidente da CEP referiu que “quando não se verificam os requisitos que a Igreja pensa e propõe acerca do matrimónio, depois vai-se verificar que o matrimónio não existiu, portanto é bom que se apresentem de antemão”. Lembrando as “características fundamentais do matrimónio cristão, de ser uno, indissolúvel e fecundo”, D. Manuel Clemente considerou que “estas três notas do casamento e da proposta sacramental devem ser esclarecidas, porque não são aquelas que a sociedade e a cultura envolventes geralmente transmitem”. “Pelo contrário: ou não se casam sequer ou admitem que à primeira dificuldade, ou à segunda ou à terceira, cada um vai para o seu lado. As pessoas têm de saber o que vão dizer. Quando a Igreja diz que deve haver uma preparação para o matrimónio é sobretudo nesse sentido, que as pessoas esclareçam acerca daquilo a que livremente se oferecem para depois não haver enganos”, explicou.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Siciliani-Gennari/SIR
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