Lisboa |
Casal das Paradas, em A-dos-Cunhados, tem nova igreja
Uma obra que é fruto de uma comunidade “empenhada”
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Era a única das 11 comunidades da paróquia de A-dos-Cunhados que ainda não tinha uma igreja. Casal das Paradas viu ser benzido e dedicado o novo templo, com D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa, a enaltecer toda a movimentação que se gerou nos cristãos desta terra para a construção da obra.

 

“A nova igreja era uma necessidade na comunidade de Paradas, que fica um pouco distante de todos os outros centros celebrativos de A-dos-Cunhados. Paradas não tem muita gente, mas esta construção serve também a catequese”, justifica ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de A-dos-Cunhados, cónego Eduardo Coelho, enaltecendo o trabalho realizado por toda a comunidade de Paradas: “Esta é uma comunidade, em termos humanos, muito empenhada, muito inventiva, porque de facto a igreja custou muito dinheiro – cerca de 200 mil euros, já pagos! – para a pequena realidade de Paradas. As pessoas são muito festeiras e ao longo dos anos foram construindo a igreja com o dinheiro que íamos angariando”.

Paradas é uma das mais pequenas das onze comunidades da paróquia de A-dos-Cunhados. Esta terra tinha, desde há muitos anos, um edifício utilizado para salas de catequese e que, com o passar dos anos, acabou por ser transformado em capela dedicada a Santo Isidro. “Quando cheguei à paróquia, em 2006, este espaço estava um pouco ao abandono, em ruínas e em mau estado, e pensámos que nem valia a pena renovar, mas tentar, naquele pequeno espaço, construir algo de raiz”, explica o pároco. Após várias reuniões com um jovem arquiteto, filho da terra, Nuno Crespim, nos finais de 2010 a capela foi demolida e foi então iniciada a construção da nova igreja, com capacidade para cerca de 100 pessoas, que tem também, no andar superior, as salas de catequese e, no andar inferior, a casa mortuária.

 

“Cristo acompanha-nos sempre”

Na Missa de dedicação da nova igreja das Paradas, no passado sábado, 1 de novembro, Dia de Todos os Santos, o Bispo Auxiliar de Lisboa D. Nuno Brás deu os parabéns à comunidade local pela obra realizada, recordando ainda, na sua homilia, os anteriores espaços de culto que existiram naquele mesmo lugar. “Quem conheceu a casa da catequese, há muitos anos, e que depois a viu transformada em capela, e agora vê este edifício, assim, está de parabéns! Ninguém é cristão por sua conta e risco. Somos cristãos em comunidade e a partir da primeira comunidade, que é a marca de todas as comunidades, que é o próprio Deus. Jesus Cristo acompanha-nos sempre. Está sempre connosco e isso faz toda a diferença”, realçou o Bispo Auxiliar do Patriarcado, que é natural de uma terra vizinha, Vimeiro (Lourinhã).

Numa celebração concelebrada pelo pároco, cónego Eduardo Coelho, e por um sacerdote filho da terra, o cónego Nuno Isidro, atual vigário-geral do Patriarcado de Lisboa, D. Nuno Brás referiu a importância do novo templo para a caminhada comunitária e individual. “Esta casa é sinal da presença de Deus, do Deus connosco. É aqui que podemos escutar a sua Palavra e alimentar-nos do Corpo e Sangue do Senhor e é aqui que podemos vir, em silêncio, em momentos de solidão para encontrar a companhia do Senhor que nos fala na oração. É aqui que experimentamos esta presença tão importante do Senhor que vive connosco. É aqui que nos reunimos como comunidade, como Corpo de Cristo”, salientou o Bispo Auxiliar, perante uma igreja repleta, onde muitos tiveram inclusive de participar na celebração a partir do adro.

D. Nuno Brás concluiu a homilia manifestando o desejo de que a nova igreja das Paradas possa “albergar uma comunidade de pedras vivas, daqueles que caminham em direção ao reino de Deus” e que, à semelhança de todos os santos, possam ser “presença da eternidade, testemunhas da presença de Deus de que o mundo espera e necessita”.

 

11 comunidades, 11 igrejas

A-dos-Cunhados é uma terra do concelho de Torres Vedras, com cerca de 45 quilómetros quadrados e 8.459 habitantes, segundo os Censos de 2011. “A população é maioritariamente natural da terra. É gente que vive essencialmente da agricultura, em especial das estufas, uma vez que não há propriamente indústria aqui nesta zona. Há contudo algum turismo, com serviços de restauração e de hotelaria”, conta o pároco. No centro de A-dos-Cunhados, “a população é bastante envelhecida”, mas nas várias comunidades da paróquia “há gente nova, em especial casais com filhos”, observa o cónego Eduardo Coelho, que conta com a colaboração do padre Carlos Silva e do diácono permanente Horácio Félix.

A paróquia de Nossa Senhora da Luz de A-dos-Cunhados é constituída por 11 comunidades: Póvoa de Penafirme, Maceira, Sobreiro Curvo, Boavista, Palhagueiras, Bombardeira, Casal d’Além, Vale da Borra, Valongo, Paradas, além da sede da paróquia, no centro da freguesia. Desde o passado sábado, com a dedicação da igreja das Paradas, todas as comunidades de A-dos-Cunhados passaram a ter um lugar de culto.

 

Acolhimento e família

Chegado a A-dos-Cunhados em setembro de 2006, o cónego Eduardo Coelho tem apostado, ao longo destes oito anos, no acolhimento e na família. “Temos procurado aquilo que é proposta do nosso Bispo para este Sínodo Diocesano e para a caminhada sinodal: a preocupação muito grande pelo acolhimento. Sou sempre eu que faço o acolhimento às pessoas que vêm à paróquia – noivos, pais, padrinhos, etc. – e procuro que as pessoas tenham acesso ao pároco diretamente, sem passar por intermediários”.  Este sacerdote, de 65 anos, enaltece que “o acolhimento mais importante de todos é o do coração”. “Só na medida em que recebermos as pessoas com o coração e as amarmos é que verdadeiramente o acolhimento vai acontecendo”, salienta.

Utilizando uma expressão muito comum no Papa Francisco, o cónego Eduardo Coelho sublinha a preocupação pessoal de chegar a todas as periferias. “E aqui, periferias, refiro-me às 11 comunidades que a paróquia tem! Tenho procurado que elas tenham vida própria, a partir de si próprias, sabendo que a igreja paroquial é o centro da paróquia”.

Uma “outra periferia”, sublinhada por este sacerdote, são as famílias, consideradas “essenciais e decisivas na vida da Igreja e da própria sociedade”. “Temos procurado criar dinamismos em que a família não seja só objeto da nossa reflexão e preocupação, mas seja o sujeito, ela própria, da nossa ação”. Esta intervenção na célula familiar concretiza-se através da catequese, desafiando, desde há 4-5 anos, as famílias a assumirem uma parte do 1º ano, em colaboração com os catequistas, sendo as famílias as responsáveis pela catequese das crianças. Nos anos seguintes, segundo o cónego Eduardo Coelho, a paróquia tem desafiado os casais a darem testemunho durante as sessões de catequese. “Queremos ir inserindo as famílias na própria catequese e na vida da Igreja”, observa, frisando: “Estou convencido que o que a Igreja fizer sem a família não vai longe. E não é fácil, hoje em dia, motivar e desafiar as famílias, e criar espaço para que também intervenham”.

O movimento das Equipas de Nossa Senhora está representado por três equipas de casais nesta paróquia do Oeste que, a partir deste sábado, dia 8 de novembro, vai passar a contar com uma quarta equipa. “Temos de criar espaço para que os casais se possam encontrar e fazer caminho”, refere este sacerdote, que vai ser o assistente desta nova equipa de casais que se formou.

 

Atenção à pessoa

Por norma, nas zonas rurais, como é o caso de A-dos-Cunhados, as dificuldades são atenuadas pelo auxílio dos amigos e vizinhos e também pela produção própria de alimentos. Este sacerdote aponta que “as dificuldades em A-dos-Cunhados são as mesmas de outras zonas, mas a forma de resolver o problema é que é mais solidário”. E explica: “É evidente que há muita pobreza em A-dos-Cunhados e muitos idosos sem saber para onde ir, com os filhos longe, a trabalhar. É gente que tem a sua ‘casita’ e que não quer sair de lá… e acabam por ficar isolados. Há situações dramáticas e essas o Centro Social Paroquial – através das valências de lar, centro de dia e apoio domiciliário – procura responder, mesmo sabendo que não podemos chegar a todas as situações”.

Referindo que a paróquia não tem nenhum grupo sócio caritativo organizado, o pároco explica o porquê desta opção. “Temos pessoas que, em cada uma das 11 comunidades da paróquia, assinalam as situações de carência e vêm ter comigo para procurarmos resolver o problema. Muitas vezes são também os Ministros Extraordinários da Comunhão que visitam as pessoas e as sinalizam. Penso, por isso, que não valeria a pena organizar um grupo sócio caritativo porque as comunidades estão sensibilizadas e sempre que há um caso novo as pessoas dirigem-se a esses paroquianos que estão referenciados para prestar auxílio”.

A caridade nesta paróquia da Vigararia de Torres Vedras é feita também através do Serviço de Roupas, com recolha, tratamento e distribuição de todo o tipo de vestuário. Os grandes contentores amarelos do Projeto Amigo, da Cáritas Diocesana de Lisboa, que se veem junto a muitas igrejas da diocese, estão também presentes em A-dos-Cunhados e permitem, segundo o pároco, “recolher muitos quilos de roupas”.

Na época natalícia, que se está a aproximar, a paróquia costuma organizar “um bom cabaz de Natal” que distribui pelas famílias mais carenciadas.

 

A presença do seminário

Em A-dos-Cunhados, o grande movimento que acompanha os jovens é o CNE – Corpo Nacional de Escutas. “O nosso agrupamento de escuteiros move muito a juventude, tem peso e história na freguesia e permite que os nossos jovens façam vida paroquial através do escutismo”, aponta o pároco, explicando que esta realidade faz com que “praticamente não haja mais nenhum grupo de jovens na paróquia”.

Este sacerdote, que é também pároco do Vimeiro da Lourinhã, refere que as suas duas paróquias têm dois seminaristas nos seminários da diocese. “Um dos rapazes, o Tiago, do Vimeiro, está no Seminário de Caparide; o outro, o Ricardo, da Póvoa, está em Penafirme. Mas eu costumo dizer que tenho dois seminaristas e meio, porque em Caparide tenho também um rapaz, o David, que nasceu no Vimeiro mas que entretanto foi viver com os avós para a Boavista da Silveira e está como que ‘dividido’”, frisa, satisfeito, este padre.

Estando a paróquia de A-dos-Cunhados na área geográfica do Seminário Menor de Nossa Senhora da Graça, em Penafirme, do qual o cónego Eduardo Coelho é o diretor espiritual, a pastoral vocacional da paróquia “tem feito algum trabalho” nesta área. “Como o seminário está na paróquia, as pessoas estão muito habituadas a ele e já quase nem se preocupam com as vocações… mas é evidente que a equipa formadora do seminário tem feito um trabalho excecional e vão surgindo vocações. Claro que três seminaristas é um bom número, mas prefira ter 15! Mas também sabemos que é Ele que chama”.

texto por Diogo Paiva Brandão; fotos por Filipe Teixeira
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