Domingo |
À procura da Palavra
Conservar ou arriscar?
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DOMINGO XXXIII COMUM Ano A
"Tive medo e escondi o teu talento na terra.”
Mt 25, 25

 

Ouvi certa vez, numa conferência sobre liturgia, o orador dizer que “em algumas comunidades o sacrário era como uma espécie de frigorífico, onde se acumulavam píxides com hóstias para que não houvesse o incómodo de consagrar em cada missa as necessárias!” Da gargalhada geral surgiu depois o tema de conversa sobre essa imagem de algum cristianismo que vivemos: mais especializado na conservação e na manutenção do que confiante na ousadia e no risco, mais gelado e “fora de prazo” do que fresco e saboroso. E se é verdade que as “conservas” estão de novo a ressurgir na gastronomia pelas qualidades alimentares, a mensagem de Jesus não se compadece com a obsessão pela segurança, a esterilidade do conformismo, a manutenção “frigorífica”(passe o pleonasmo!) de dons e talentos e, acima de tudo, da graça de Deus!

Na parábola deste domingo, o terceiro servo é condenado precisamente por “não fazer nada”. Não arriscar, não tentar valorizar o bem que lhe foi confiado, esconder e guardá-lo com medo do juízo do seu senhor significou demitir-se da responsabilidade, renunciar às suas capacidades e rejeitar o futuro. Jesus é “o Senhor dos riscos”, do convite à criatividade, a abrir possibilidades e futuros onde a religião vigente proclamava condenações, a transformar o mundo onde alguns privilegiados queriam manter o seu senhorio. Decididamente, Deus não parece grande promotor da conservação mas mais da inovação, dos caminhos novos onde o Reino gera vida, de levar luz e esperança às realidades únicas de cada tempo. A responsabilidade é a principal resposta à fé em Jesus Cristo e, por isso, não somos “guardiões de uma tradição” mas sim, semeadores de felicidade, comunicadores de uma boa nova que se multiplica quando é vivida e partilhada. Não adianta justificarmo-nos com o medo, com a prudência que atrofia a criatividade, com a resignação que aprisiona a esperança. Mesmo num frigorífico, nada se pode guardar por todo o tempo; apodrece e perde qualidades, quando não é utilizado!

Assim, fazer render o que somos e temos implica trabalho, risco, perigos, criatividade, abertura aos outros, aprendizagem com os erros, tristezas e alegrias. São sinais de vida. Sem coragem para explorar o desconhecido, para tentar o que nunca foi tentado, para ensaiar mais e melhor a força do Evangelho, nunca saberemos o que Deus gostaria de ter feito connosco! Costumamos enterrar o que declaramos morto, ou as sementes que esperamos que ressuscitem! Sucesso antes de trabalho, só no dicionário! Vitória sem cruz, só com falcatruas ou tramóias! Quantos dons desperdiçados por medos, quanta graça de Deus enterrada por conformismos, quanta alegria atrofiada pela surdez ao Espírito Santo! Tradição significa entrega, comunicação de um tesouro, oferta de um sentido de vida que faz crescer tudo e todos. Não se pode guardar em nenhum frigorífico o fogo criador do Espírito de Jesus!

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