Lisboa |
Paróquia de Outurela perto de concluir a construção da nova igreja
Uma igreja para todos
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“É uma igreja onde todos têm de se sentir um tijolo da sua construção”. É desta forma que o pároco, padre José Manuel Vicente, projeta para a comunidade da Outurela, composta na sua maioria por cabo-verdianos, a obra que está a ser construída.

 

A paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Outurela, em Carnaxide, na Vigararia de Oeiras, é uma paróquia pobre, que tinha o sonho, desde há muitas décadas, de construir uma igreja. Há cerca de dois anos, uma sucessão de acontecimentos – como a doação de uma moradia e o reativar do projeto no município – permitiu à paróquia começar a pensar que o sonho poderia ser concretizado. “Eu tinha medo de falar numa igreja na Outurela, no sentido em que as pessoas não acreditavam que isso fosse possível. Os mais velhos diziam: ‘Já oiço essa história há 30 anos, mas nunca vi nada de nada… isto é só palavreado e intenções, porque nós nunca vimos nada’. Uma das nossas preocupações foi, por isso, com o dinheiro feito com a venda da moradia doada à paróquia, iniciar desde logo a construção para motivar a comunidade, que não acreditava mais em palavras e queria ver ações. Foi uma decisão para ‘acordar’ a comunidade, para a pôr a ‘mexer’. Nós queríamos que eles vissem, com os seus próprios olhos, que a construção de uma igreja na Outurela era verdade e pode agora ser concretizado!”, explica ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de Outurela, padre José Manuel Vicente, que há pouco mais de um ano deu a boa notícia à sua comunidade. “A obra depende de todos. Com o início das obras, em 5 de maio deste ano, a comissão de obras e eu queríamos dizer à comunidade que se nós quisermos, vamos conseguir! Mas a nova igreja depende de todos, não é só do padre ‘Zé Manel’, não é só do conselho fiscal, não é só do conselho pastoral, não é só da boa vontade de meia dúzia de pessoas que estão a dar o máximo. Isto tem de ser um projeto de todos. A igreja é para todos e todos têm de sentir-se um tijolo desta construção. A mensagem que se vai transmitindo é precisamente essa: quando se entrar na nova igreja de Outurela, que se sinta um orgulho muito grande, no bom sentido, em que ‘esta igreja é minha’, também a ajudei a construir, com dedicação, com esforço, com amor”, acrescenta este sacerdote dehoniano, assumindo que foi “tremendamente difícil motivar a comunidade para a angariação de fundos”. “Aos poucos e poucos, como viram que a obra era efetiva, e que estava ‘ali’, começaram a aparecer alguns dando aquilo que podem e sabem”. Entre as várias iniciativas para a obtenção de dinheiro para as obras, o pároco destaca os almoços comunitários, os passeios e as festas. Em janeiro, no dia 31, haverá “uma grande noite de fados”, anuncia.

 

Esforço final

Fermin Atalaya é o leigo da paróquia de Outurela que tem feito a gestão do dinheiro para as obras da igreja. “Houve uma sucessão de coisas para que este sonho se tornasse possível. O sector imobiliário estava em crise, em que poucos compravam e muitos queriam vender, mas em 2012 alienámos em 15 dias a moradia que tinha sido doada! O dinheiro – mais de 300 mil euros – foi, inicialmente, capitalizado até que todos os papéis na Câmara estivessem prontos, porque a verdade é que o projeto estava parado por falta de verbas”, destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE, lembrando que “a partir desse momento da venda, foi possível começar ‘a mexer’ todo o projeto”. “Durante todo o ano 2013 tivemos de desbloquear o projeto e começar a pedir propostas a construtores para a nova igreja”, frisa Fermin, que mora em Carnaxide mas é paroquiano de Outurela há cerca de 4 anos, altura em que participou na Missa do Dia de Natal nesta comunidade.

O custo total da obra deve “rondar os 750 mil euros”. Fermin Atalaya explica que, “neste momento, e após a capitalização, os donativos, os vários acordos e festas organizadas pela paróquia, deverá faltar um valor a rondar os 30 a 50 mil euros”. Este leigo e o pároco enaltecem, através do jornal diocesano, a decisão de todos os párocos da Vigararia de Oeiras, que têm feito peditórios especiais nas suas paróquias com vista à construção da igreja de Outurela. “Os colegas da vigararia têm sido, todos eles, excecionais. Mostra que é possível a solidariedade entre comunidades”, afirma o padre José Manuel.

A nova igreja, com capacidade para 204 pessoas sentadas, contempla ainda um salão – situado na zona inferior do templo –, a sacristia, o gabinete do pároco e duas capelas mortuárias. “Vai ser uma igreja muito harmoniosa, porque tem características muito interessantes”, expõe Fermin. Neste momento, toda a estrutura da nova igreja está edificada, faltando os acabamentos. O desejo da comunidade é benzer e dedicar a igreja de Outurela no mês de Maria. “Se todas as coisas correrem bem, e ainda hoje de manhã falámos sobre isso, é possível inaugurar a igreja em maio de 2015. Seria interessante ser no mês de Maria, até porque a padroeira da paróquia de Outurela é Nossa Senhora da Conceição”, observa Fermin Atalaya.

 

Susto inicial

A Outurela pertence à União das Freguesias de Carnaxide e Queijas, no concelho de Oeiras. “A população, mais de 80%, é cabo-verdiana, o que quer dizer que é uma comunidade muito viva no sentido da manifestação da sua fé. Tem a sua cultura e gosta de ter os seus hábitos e os seus costumes, e lutam por eles. A liturgia é sempre muito participada e para eles não há tempo, não há aquela ‘pressa’ de acabar. Interessa celebrar a sua fé com alegria, através do canto, da dança”, refere o pároco, destacando que “a grande preocupação, na liturgia, é não deixar levar tudo para o crioulo e haver bom senso para também evitar os possíveis ‘choques’ com os portugueses da comunidade”.

A paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Outurela, constituída pelas comunidades de Outurela, Nova Carnaxide e Alto dos Barronhos, está confiada desde sempre aos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos). O padre José Manuel Vicente chegou à Outurela aquando da criação da paróquia, em 2003, naquela que é a sua primeira experiência como pároco. “Tinha estado sempre na pastoral vocacional da minha congregação, e também na área da formação num colégio de ação social, e estava em Roma quando surgiu este propósito de vir para a Outurela, que era, para mim, uma terra completamente desconhecida. Foi um desafio, eu nunca tinha sido pároco na minha vida, embora sentisse dentro de mim esta vontade de estar junto do povo e da comunidade, no seu pulsar, no seu dia-a-dia”.

Confessando que ficou “assustado” quando chegou à Outurela, desde logo porque “não tinha igreja”, este sacerdote dehoniano recorda o dia da sua chegada: “Lembro-me de entrar na cave que serve atualmente de igreja e de ela estar tremendamente desorganizada. As cadeiras e os bancos faziam-me lembrar aqueles cinemas antigos, em que os bancos eram de madeira e quando faltava uma ‘pata’ dum banco tinha dois ou três tijolos para fazer altura… fiquei assustado, tremendamente assustado”.

 

Capela

Por volta dos anos 70-80, antes de ser constituída como paróquia, a Outurela era uma comunidade da paróquia de Carnaxide, também confiada aos Padres Dehonianos. “O pároco era o de Carnaxide, mas quem fazia assistência religiosa na Outurela eram sacerdotes dehonianos do Seminário de Alfragide. Pelo que me contam, esta zona era completamente diferente, era um bairro, com muitas barracas, classificado como bairro de lata. Inclusivamente, esses sacerdotes, juntamente com os seminaristas, fizeram cursos de alfabetização e ajudaram também na área social”, conta o atual pároco da Outurela, destacando igualmente o apoio prestado, nessa época, pelas religiosas da CONFHIC – Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, que têm uma casa próxima, em Linda-a-Pastora. Ao tempo, era num pré-fabricado de madeira que os cristãos da Outurela celebravam a sua fé. Com a expropriação do terreno onde estava este pré-fabricado, uma senhora doou um terreno para construção da futura igreja da Outurela. No entanto, “nunca foram dados os passos para que esse terreno fosse escriturado, inclusivamente porque ainda não estava constituída a paróquia”. As pessoas, segundo refere o padre José Manuel, “iam sonhando com a igreja”, mas a verdade é que o pároco de Carnaxide, de que dependia a comunidade da Outurela, “tinha também entre mãos a construção da nova igreja de Carnaxide”, pelo que “o projeto da igreja para a Outurela foi ficando na gaveta”.

Aquando da construção do atual centro social paroquial de Outurela – uma obra fundada pelo padre Martins, pároco de Linda-a-Velha –, foi aproveitado o espaço inferior do edifício, na cave, para se tornar no novo lugar de culto da comunidade. Na época em que foi expropriado o terreno onde estava o pré-fabricado, a comunidade cristã da Outurela deslocou-se para a sua nova capela e o município de Oeiras cedeu um terreno onde hoje está a ser construída a futura igreja de Outurela.

 

Crescer pastoralmente

Além do sonho da construção da igreja, o padre José Manuel conseguiu também concretizar um sonho antigo, relativo à juventude: a criação do agrupamento de escuteiros. “Costumo dizer que muitos andam aqui na ‘universidade da rua’, que não é boa. São miúdos entregues a si próprios, porque os pais saem cedo para o trabalho. Procurei por isso trazer para a Outurela os escuteiros. Era um sonho, porque era necessário ter chefes e dirigentes. De Barcarena houve um grupo de dirigentes que foi colocado pelo Núcleo da Barra na nossa paróquia e em 2012 foi então formado o agrupamento de escuteiros que tem atualmente 60 a 70 elementos. A área da juventude ficou assim garantida e temos visto uma melhoria significativa no comportamento dos jovens e adolescentes”, refere, satisfeito, o pároco. Entre os vários grupos da paróquia, o padre José Manuel salienta igualmente o grupo de jovens, “muito ligado à Juventude Dehoniana”, a catequese, “com um número alto de crianças”, e os grupos de oração, “com os Carismáticos e Taizé”. O centro social paroquial é destinado à infância – com berçário, creche e pré-escolar – e tem atualmente 120 crianças.

A Festa de Santa Catarina é, porventura, a maior festa anual na paróquia de Outurela e decorreu no passado Domingo, 30 de novembro. Trazida para o espaço da paróquia pela comunidade cabo-verdiana, que foi deslocada do Alto de Santa Catarina para a Outurela, a festa “começou com meia dúzia de pessoas e hoje em dia reúne muitas centenas, também vindas de fora”, destaca o padre José Manuel. “Neste momento, é talvez a festa que congrega mais cabo-verdianos no país, no mesmo dia. Eu saí da festa às 23 horas e estava cá uma multidão!”. O dia de festa começa sempre de manhã, com a celebração da Eucaristia, que nunca demora menos de 2 horas, a que se segue a procissão, com o mesmo período de tempo. O resto da tarde é passado a comer, a jogar, a conviver. “É uma festa que nasceu com simplicidade”, aponta o pároco.

Os espaços que a paróquia dispõe, hoje em dia, são apenas a capela onde é celebrada a Eucaristia, e que por vezes serve também de salão paroquial ou ‘salas’ de catequese, além, do centro social, no andar de cima dessa cave. “A construção da nova igreja vai permitir também crescer pastoralmente”, aponta o pároco. “Eu costumo dizer que aqui, na Outurela, cabemos todos! Todos os momentos da Igreja que existam, todas as espiritualidades, todos os carismas, no sentido de estarmos em comunhão uns com os outros, são bem-vindos. Pastoralmente, com a nova igreja, vamos dar respostas e vamos atrair, no sentido bom, muita gente que mora no espaço geográfico da paróquia mas que não vem cá pelo espaço de culto atual, porque não se identifica com estes espaços”, acredita o padre dehoniano José Manuel Vicente.

  

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‘Com a tua ajuda vamos conseguir que este sonho se realize’

O lema da construção da igreja de Outurela desafia todos os cristãos. Através do Jornal VOZ DA VERDADE, o pároco de Outurela, padre José Manuel Vicente, apela “à solidariedade de todos” para concluir esta obra. “Os cristãos quando se unem na solidariedade e na vontade conseguem os ‘milagres’ de tornar reais os sonhos que parecem impossíveis à partida… Muitos são poucos, todos são muitos”, refere um panfleto da paróquia que tem sido distribuído.

Donativos por transferência bancária (NIB): 003300004540814993005 ou 003603579910000149874

Por cheque ou dinheiro: diretamente com o padre José Manuel ou na paróquia de Outurela

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