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“Professor Xico”
Uma vida dedicada ao ensino de EMRC
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Francisco Gonçalves Domingos, de 61 anos, nasceu a 31 de janeiro de 1953 em Moreiras Pequenas, Torres Novas. Tem 4 filhos, acabou de ser avô pela terceira vez e considera-se um “avô e reformado jovem”. Gosta de ser chamado por “Professor Xico”.

 

Sair do quartel e começar a lecionar

Quanto à sua formação académica, “foi o mais pobre possível”, relata-nos. Tem equivalência ao bacharelato em Ciências Religiosas. “Saí da tropa a 12 de outubro de 1976 e comecei a dar aulas na Escola Secundária de Peniche a 13 de outubro do mesmo ano”, a convite do prior que lhe disse “Xico, não queres ser professor de Moral na Escola Secundária de Peniche?”, convite ao qual acedeu com alegria. “Foi sair da porta do quartel e entrar na Secundária, não houve qualquer preparação. Nunca me tinha passado pela cabeça que o nosso prior me iria fazer este convite para ser professor de Moral… Eu era acólito, estava muito integrado na paróquia, na pastoral juvenil e ele foi das poucas pessoas que naquela altura acreditou em mim. Deixei a tropa e comecei a lecionar no dia de Nossa Senhora, dia muito importante na minha vida. Em relação às primeiras aulas, não foi fácil. Estávamos no verão quente de 1976, o 25 de abril tinha acontecido há pouco tempo e o ambiente nas escolas era o mais difícil possível. Alunos de Moral eram uma espécie em vias de extinção, praticamente. Não estava à espera de encontrar as salas cheias de cadeiras vazias e percebi que realmente estava ali um desafio enorme à minha frente”.

 

A “rainha” das atividades

Durante 38 anos foi professor na Escola Secundária de Peniche. Entrou a 13 de outubro na Escola e saiu a 13 de Outubro. “Nossa Senhora marcou todo o meu percurso. Não é por acaso que a Escola Secundária de Peniche tem as peregrinações a Fátima a pé. Tem a ver com uma relação que quisemos estabelecer com Nossa Senhora.” A primeira peregrinação aconteceu a 1 de abril de 1985, com 24 alunos, 2 cozinheiras e 2 professores e atualmente as peregrinações arrastam centenas de peregrinos, jovens. É considerada a “rainha das atividades da Escola. Saio da Escola Secundária de Peniche sem conseguir perceber uma coisa: como é que os nossos alunos trocam as célebres viagens de finalistas para participar numa peregrinação a Fátima a pé, 100 km que envolvem muita dor e sacrifício.” Em 2015 realizarão a 30ª peregrinação a Fátima a pé. Será a “peregrinação da família” com alunos que estão atualmente na escola e que irão associar-se a alunos que já deixaram a escola. “Temos o chamado Livro de Ouro que é a nossa história, a nossa vida, que começámos a criar em 1976”. Partilha com emoção que logo no prefácio desse livro uma das primeiras palavras que surge é a palavra “família”.

 

Experiência de missão

Tem muita dificuldade em falar na Guiné-Bissau e emociona-se ao fazê-lo. Apesar do brilho nos seus olhos quando recorda a Guiné-Bissau, considera que foi uma “promessa não cumprida”. Estiveram no país, desde o dia 2 até ao dia 9 de maio de 2001, 4 professores e uma aluna. Foi “uma experiência missionária fantástica e fiquei profundamente marcado. Os missionários são uma coisa fantástica e nós aqui não fazemos ideia do trabalho que é realizado lá, eles são gigantes, fazem tudo, são médicos, parteiros, professores, agricultores, missionários, fazem tudo!” A Guiné-Bissau nasceu no seu coração de forma muito simples: os alunos quiseram começar a recolher lápis e materiais para enviar para a Guiné-Bissau, ainda sem saber muito bem para que instituição. Apesar de todas as reticências, por não saber se de facto as coisas iriam conseguir chegar ao destino, “travar o entusiasmo dos alunos, não é fácil e às vezes temos de ir a reboque deles!”. Escolheram a SolSef para fazer chegar os materiais ao destino e convidaram o presidente da mesma para ir à sua festa de Natal. “Encontrou o presépio logo à entrada e à volta do presépio parecia um supermercado com tudo o que os alunos compraram e angariaram, por turmas. Era até difícil conseguir passar ali”. O presidente da SolSef ficou muito impressionado com o ambiente de Natal fantástico que sentiu na escola, incluindo um presépio vivo feito pelos alunos. Surgiu um convite “Olhe professor, não quereria construir uma escola na Guiné Bissau?”, ao qual o professor Xico respondeu apenas “olhe, o senhor logo à tarde quando subir ao palco para receber os materiais, aproveite que tem o microfone na mão e pergunte e logo veremos a reação dos alunos.” Recorda que mal o convite foi lançado, foi uma loucura total. Um ano depois estavam na Guiné-Bissau, num projeto fabuloso e para o qual convidaram outra escola para concretizar o sonho de construir uma escola na Guiné-Bissau. Foram acolhidos na Missão de Nossa Senhora da Ajuda. “Quando chegámos a Bajó ao final do dia, todos tocavam nas paredes, para ver se era real. E era real, a nossa escola. Uma escola que não estava apenas no nosso coração estava ali plantada”, partilha emocionado. Considera que é um sonho, uma promessa não cumprida pois visitaram outros lugares que precisavam de escolas e não puderam ajudar até hoje. “Nunca me saiu do coração a Mata do Cole, que ficava ali ao lado, a alguns km dali e que era apenas uma sala. Aquilo era uma escola, com um professor um pouco mais velho do que os alunos.” Ficou o desejo de voltar sem ser de mãos vazias, com algo mais para oferecer.

 

“Havemos de voltar!”

Quando saíram da Guiné-Bissau, no dia 9 de maio, o professor Xico foi o último a subir a escadaria do avião e olhou para trás dizendo “havemos de voltar à Guiné-Bissau…. Saí da escola e não voltámos lá.” Tentaram de várias maneiras, fizeram campanha e “não foi por falta de carinho, de empenhamento dos alunos. Falámos várias vezes sobre essa possibilidade com a SolSef, mas a Guiné-Bissau não é um país tão fácil a nível de segurança e não conseguimos voltar.” No entanto, considera que “o sonho não tem fim, o sonho nunca acaba.” No final da nossa entrevista para todos os que foram seus alunos ao longo dos anos fica a mensagem: “Tenho muitas saudades deles e se a escola fosse só alunos eu era professor uma vida inteira. Para o povo da Guiné-Bissau, fica a promessa: “Havemos de voltar à Guiné-Bissau!”

texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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