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Taizé – Encontro Europeu de Jovens, em Praga
“Os jovens são capazes de feitos notáveis”
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Católicos, ortodoxos e protestantes. O calor do ecumenismo ‘invadiu’ a fria cidade de Praga, durante os últimos dias do ano passado. Mais de 30 mil jovens de toda a Europa rumaram à República Checa para, em oração e diálogo, procurarem “novos caminhos para a paz”. Sérgio Rodrigues foi um dos jovens de Lisboa presentes no encontro organizado pela Comunidade de Taizé e destacou “o protagonismo da juventude” na construção do futuro.

 

“As diferenças entre cristãos que eu achava que existiam não são assim tão grandes. Quando retiramos o ‘rótulo’ de católicos, evangélicos, etc., a relação entre nós fica mais fácil e simples”, refere Sérgio Rodrigues, ao Jornal VOZ DA VERDADE, após a experiência de 7 dias no Encontro Europeu de Jovens, em Praga. Enquanto acolheu dois croatas na sua própria casa, durante o encontro europeu de Lisboa, que decorreu há 10 anos, este jovem, então com 19 anos, ganhou também a vontade de participar noutros encontros europeus. “Lembro-me que foi muito importante o encontro em 2004 porque as experiências que escutei dos jovens estrangeiros, no fim de cada dia, fizeram-me ter vontade de fazer o mesmo. Nestes dias, em Praga, encontrei muitas pessoas cujo primeiro encontro em que participaram foi o de Lisboa. Recordavam-se bem da cidade e do povo acolhedor”, revela.

Para este jovem, animador juvenil na paróquia de Massamá, da Vigararia de Amadora, o encontro europeu em Praga foi o terceiro encontro em que participou, fora de Lisboa. “Nem sempre era possível participar em todos os encontros europeus porque os exames da faculdade decorriam na mesma altura. E a minha prioridade foi sempre os estudos. Só consegui participar nos encontros de Roma, em 2012, e de Estrasburgo, em 2013”, conta. “Nos encontros europeus em que participei, tive sempre a felicidade de ir como voluntário, dois dias antes de o encontro começar”. Na República Checa não foi diferente. “Em Praga, ajudei no acolhimento dos jovens portugueses e foi muito divertido. Para a realidade do país, foi um excelente acolhimento”, aponta Sérgio.

 

Conviver nas diferenças

O facto de se estimar que apenas 10 a 15% da população checa seja católica com uma prática habitual, podia apontar para uma dificuldade em acolher peregrinos, vindos de outro país, região e cultura. Segundo Sérgio Rodrigues, essa previsão ‘negativa’ tornou-se num “sucesso” e revelou até algumas histórias curiosas. “A família onde ficámos convenceu alguns vizinhos, assumidamente ateus, a acolher peregrinos para o encontro”, conta, sorridente.

Apesar de já ser conhecedor da dinâmica habitual deste tipo de encontros, Sérgio Rodrigues revela ao Jornal VOZ DA VERDADE que existe sempre algo que o motiva a participar.Ter partilhas com cristãos dos outros países é muito enriquecedor porque muitas vezes, na nossa realidade paroquial, queixamo-nos de muita coisa, mas a verdade é que temos muita sorte com a paróquia que temos e nas pessoas com quem convivemos quando comparamos com outras realidades. Posso dizer, por exemplo, que os franceses que estavam na paróquia onde fiquei alojado partilhavam que não podiam usar uma cruz ao pescoço no seu próprio país porque seria considerado ofensivo. Em Portugal eu não tenho nada disso... e ainda bem”, frisa.

Portugal, Polónia, Ucrânia, Alemanha, Itália, França, Croácia e Bielorrússia foram alguns dos países representados neste encontro ecuménico de Praga. “No acolhimento explica-se aos peregrinos o programa, dá-se a conhecer a cidade, os transportes, a cultura e toda a dinâmica. Ficando numa casa de família, em escolas ou em salões paroquiais, todos se encontram, diariamente, pelas 8h30, na paróquia indicada, para a oração da manhã. Após esse momento, acontecem os grupos de debate com os desafios propostos pelo Irmão Alois - prior de Taizé. Era uma espécie de grupo de jovens matinal. A partir das 13h00, e já depois do almoço, decorrem os workshops de vários tipos, tais como fé, cultura, oração ou até do conhecimento da cidade e das pessoas”, descreve.

 

Calor que transforma

Quando comparada a cidade de Praga com a de Lisboa, as principais diferenças não se encontram apenas no clima. “A história recente da República Checa não é muito feliz, porque foram pessoas fatigadas pela guerra e isso nota-se. Ao contrário de nós, eles aparentam sempre uma cara fechada, com uma frieza que não vem só do clima. Leva algum tempo até se abrirem. Quando perguntávamos alguma informação sobre transportes ou sobre os melhores caminhos para nos deslocarmos, a primeira resposta, quase imediata, era logo um ‘não’. Isso foi estranho para nós. Deu muito trabalho até eles se abrirem connosco”, lembra.

Para Sérgio, que viajou com a sua namorada Sara, a forma como foram recebidos na sua “nova família” trouxe-lhes alguma admiração. “Quando chegámos a casa da família que nos acolheu, notei que estavam desconfiados, porque estávamos a invadir um lar e obrigá-los mesmo a alterar as rotinas diárias, sobretudo sabendo que é costume eles deitarem-se muito cedo. Por exemplo, enquanto nos encontros europeus anteriores a oração da noite estava marcada para as 20h00, em Praga foi agendada para as 19h00 porque anoitece muito cedo. Mesmo assim reconheço que fomos perturbar essa rotina, porque chegávamos a casa nunca antes das 22h00. Tudo isto exigiu de todas as famílias checas um grande esforço, que agradecemos muito, e eles também nos agradeceram por lhes termos proporcionado essa descoberta. Aos poucos acabámos por ser uma única família! Parecíamos amigos de longa data”, recorda, satisfeito.

 

Tempo para parar

De entre as inúmeras experiências vividas nos últimos dias do ano, em Praga, Sérgio Rodrigues destaca alguns dos momentos que mais o emocionaram.

“A primeira oração da tarde que tive, na Catedral do Palácio Real, que costuma estar fechada ao público, foi muito marcante. A oração de Taizé é muito apaziguadora porque temos tempo para parar, rezar e falar com Deus. A Sara e eu fomos ficando naquela catedral e quando já não havia ninguém, participámos da adoração da Cruz. Emocionei-me, mesmo sem aparentemente ter um motivo especial. De repente, foi incontrolável porque era como se sentisse a presença, a meu lado, de Nosso Senhor. Isso foi muito forte, mesmo tendo vivido isso noutras ocasiões anteriores”.

Outro dos momentos mais conhecidos dos encontros europeus de Taizé é a «Festa das Nações» que acontece na noite da passagem do ano. “Nesse dia, é costume a oração começar às 23h00 de dia 31 de dezembro e prolongar-se até depois da meia-noite. Mas, desta vez, a oração acabou antes das primeiras horas do novo ano e deu-nos tempo para festejarmos, na rua, com muita neve. Depois, como habitualmente, decorreu a festa, onde cada nacionalidade juntou-se para preparar e apresentar algo característico do seu país, perante todos os outros peregrinos da Europa. Fizemos uma grande festa sem nos conhecermos muito bem. Éramos cerca de 10 nacionalidades diferentes”, aponta Sérgio Rodrigues.

 

Protagonistas

Para este encontro foram enviadas várias mensagens de líderes religiosos e responsáveis civis. O Papa Francisco, lembrando aqueles cujos “sofrimentos” permitiram à República Checa encontrar “o caminho da liberdade”, desafiou os jovens presentes a “abrirem caminhos de liberdade”, oferecendo-se “com a disponibilidade de Maria de Nazaré quando acolheu em si a vida do Filho de Deus”. Também o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, escreveu aos peregrinos, reunidos em Praga, manifestando a sua confiança no papel dos jovens na “nova agenda de desenvolvimento sustentável”, prevista para o novo ano de 2015.

Estas e outras mensagens, partilhas e experiências levaram Sérgio Rodrigues a questionar-se acerca do papel dos jovens no mundo. “Uma das discussões matinais tinha estas perguntas: ‘Quando penso na paz e no nosso mundo atual, que pessoas ou situações me vêm à mente? Que laços é que tenho com elas? O que é que eu posso fazer para mudar isso?’”, recorda. “Num dos grupos houve uma conclusão muito engraçada. Um dos franceses apontou a emigração ilegal para o seu país e a existência de movimentos contra essas pessoas, em oposição movimentos a favor da dignidade dessas mesmas pessoas. Levantou-se aqui a questão da justiça e da paz. Chegámos à conclusão que o mais importante seria o diálogo para perceber os seus motivos e os porquês. Só depois tentar agir em conformidade. Porque esses movimentos contrários normalmente não têm em conta os verdadeiros motivos da emigração. Pequenas ações no nosso meio, mesmo pequeno, podem desencadear a paz a nível local e nacional. O nosso papel, como cristãos, é saber fazer isso, embora nos falte muito para aprender nesse caminho”, considera. Da “geração rasca” à “geração à rasca”, este jovem de Massamá acredita em “feitos notáveis”, protagonizados pelos jovens dessas gerações, e aponta um futuro que tem os jovens como protagonistas. “Por vezes, à medida que vamos crescendo, somos injustos com os mais novos, em relação a nós. A verdade é que vemos, em cada uma dessas gerações, pessoas que foram capazes de algo notável. Eu nunca vi, ou pelo menos senti, tanto jovem confiar em Deus como acontece agora. Isto é uma experiência que não vem só deste encontro europeu em Praga. Sinto que os jovens estão a tomar o protagonismo do futuro. Muitos deles e de nós ainda não temos noção disso, mas é certo porque ‘Deus não escolhe os capacitados mas capacita os escolhidos’. E muitos de nós vamos sendo capacitados e só no fim é que percebemos”, concluiu.

 

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Encontro de Taizé, em agosto, vai contar com a presença do Patriarca de Lisboa

A Comunidade de Taizé vai celebrar, em agosto deste ano, os 75 anos da sua fundação e os 100 anos do nascimento do seu fundador, Irmão Roger. Para assinalar estas efemérides, a comunidade ecuménica vai organizar várias iniciativas, com destaque para o ‘Encontro por uma nova solidariedade’, marcado para a semana entre 9 a 16 de agosto, que prevê juntar milhares de jovens, em Taizé, França. A Diocese de Lisboa, através do Serviço da Juventude, vai organizar uma peregrinação para este encontro que contará com a presença do Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Segundo este departamento do Patriarcado, em breve serão divulgadas mais informações.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Sérgio Rodrigues e www.taize.fr
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