DOMINGO VI COMUM Ano B
"Jesus, compadecido, estendeu a mão,
tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo».”
Mc 1, 41
Quem não conhece o mito do Rei Midas (o rei da Frígia, uma região da actual Turquia, que existiu verdadeiramente no século VIII a.C.) de transformar em ouro tudo aquilo que tocava? O que parecia um dom maravilhoso rapidamente se transformou numa maldição, pois não podia alimentar-se, nem tão pouco abraçar os seus entes queridos. Conta o mito que a água corrente permitia reverter o processo. Mas a ideia ou o sonho permaneceu em tantos outros “toques”, de quem busca apenas riquezas materiais no seu percurso por este mundo.
Nascemos e crescemos com uma necessidade profunda de tocar e ser tocados. A nossa pele, mais do que uma proteccção, é um território de encontro e diálogo. Os braços e as mãos, não se elevam como asas, mas desejam abraços e carícias. Deus, ao modelar-nos, fez-nos “tocáveis”, a criar também com o nosso toque, a dar vida com os nossos gestos, a precisar da vida que recebemos de quem nos abraça. Quem desconhece a importância fundamental de um bébé crescer rodeado de carinho, que as mãos, o colo e os lábios transmitem? E porque nos tornamos “intocáveis” à custa de preconceitos e violências? Sim, há toques cheios de amor e que nos recriam, e outros que humilham e desumanizam. Mas sabemos distinguir uns dos outros, não é verdade?
Os evangelhos falam de muitos “toques” em relação a Jesus. Do toque que limpa o leproso, ao da pecadora de lhe beija os pés, e a muitos outros, Jesus não só toca nas pessoas como aceita ser tocado. E até responde ao pedido de Tomé, que só acreditava na ressurreição se pudesse ver e tocar as feridas da paixão. Os milagres acontecem com palavras e com gestos. Como o instante criador de Deus, pintado por Miguel Ângelo no tecto da Capela Sistina, que, de mão estendida para o homem inerte, lhe vai oferecer a vida. Assim são os gestos de Jesus: a dar vida, a recriar, a curar, a limpar de impurezas, a libertar de escravaturas, a saciar as fomes. Não são toques de mágico ou de presditigitador, mas daquele que dá a vida em abundância. Aceita correr os riscos de ser considerado impuro, ou acusado de promiscuidade, em nome da missão de salvar e dar a cada um a dignidade de ser amado por Deus, que tantas religiões e preconceitos são especialistas em tirar. Não oferece discursos bonitos nem faz campanha de promessas: diz e faz, fala e toca, compromete e prolonga nos discípulos os seus gestos de salvação. Envia-nos para o meio de todos os sofrimentos. Pede-nos para não fugir deles. E tocá-los com o amor que nos dá. Porque caímos tantas vezes em condomínios fechados de puros ou nos entricheiramos em doutrinas desumanas para nos defendermos do mundo? Creio que só se pode mudar e recriar aquilo que tocamos. E se ninguém nos puder tocar, que comunhão podemos fazer?
As palavras têm uma força admirável. Mas sem o toque que lhes dá vida, pouco valem. Precisamos mais de abraços do que de leis, mais de carinho do que de condenações. Queremos ver como Jesus anda no meio dos leprosos do nosso tempo? Reconheçamos quem deles se aproxima, lhes pega pela mão, e lhes continua a dizer: “Fica limpo!”.
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