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Pe. Alexandre Palma
Até à Páscoa
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Não nos faltam subsídios para viver, em plenitude, o tempo quaresmal em que agora nos encontramos. Ainda bem! Muitos são herança recebida da longa tradição eclesial. São o fruto decantado da experiência daqueles que nos precederam na fé. Outros auxílios são expressão do investimento pastoral que as comunidades cristãs fazem neste tempo da Quaresma. Com efeito, em nenhum outro tempo litúrgico a Igreja se empenha tanto em procurar traduzir o anúncio do Evangelho em propostas concretas de vida pessoal e de caminho eclesial. Como grande referência para estes quarenta dias temos a enraizada proposta de uma oração mais intensa, de uma esmola mais generosa, de jejuns e abstinências que nos libertem de todos os nossos apetites menores e nos eduquem na arte da partilha. Tudo isto é suportado por formas concretas de o fazer. Formas de oração que aproximem o nosso caminho do caminho do Senhor. Penso, por exemplo, nos retiros, tão generosamente propostos por esta altura, ou na frequente prática da Via-sacra. Formas de penitência que nos lancem na sempre inacabada conversão do coração. Penso, a nível pessoal, no reforçado convite à confissão. Penso, a nível comunitário, nas celebrações penitenciais. Tudo isto alimentado pela palavra dos pastores dirigida à vivência da Quaresma. Penso, sobretudo, nas mensagens do Papa e dos bispos para este tempo. Não são, pois, escassos os auxílios para fazer deste tempo um tempo espiritualmente intenso. Muito se investe em Igreja para que cada Quaresma seja mesmo um «tempo favorável».

Espero, contudo, não escandalizar ninguém se disser que, apesar de tudo isto, a Quaresma é um tempo secundário. Não porque a conversão (aquilo que nela mais se sublinha) seja de alguma forma secundária no caminho cristão. Não o é. Digo secundário, porque a Quaresma ganha sentido em função do que se lhe segue: a Páscoa. Isto sim é primário, não só no calendário litúrgico, mas sobretudo na fé e vida cristãs. A Quaresma é para nós aquilo que o deserto foi para o Povo de Israel e aquilo que a Cruz foi para Jesus: a estrada que conduz até à Páscoa. Meio, portanto, e nunca fim.

Pergunto-me se, como Igreja, já tiramos todas as consequências deste facto. Não para aligeirar a proposta pastoral e espiritual da Quaresma. Isso não! Mas para sermos igualmente exigentes e generosos, igualmente criativos e concretos na forma como procuramos viver, pessoal e comunitariamente, outros tempos litúrgicos e, sobretudo, a grande e prolongada celebração da Páscoa. Para que o tanto que investimos agora encontre a plenitude do seu sentido pascal. Para que o tanto que investimos agora nos leve, de facto, até à Páscoa.