Nos últimos sete anos, perto de 3.500 famílias foram apoiadas diretamente pelo gabinete de ação social da Cáritas Diocesana de Lisboa. Considerada o ‘braço direito’ do Bispo na caridade, esta instituição ajuda ainda muitos outros milhares de pessoas através das suas várias valências, que o Jornal VOZ DA VERDADE dá a conhecer neste Dia Nacional da Cáritas (8 de março).
Maria (nome fictício) tinha o que se poderia chamar de uma boa vida. Católica, estava “bem casada, com um marido que tinha os mesmos valores” e de quem tem dois filhos. Tinha também um emprego e uma boa casa. “Era uma vida normal, da classe média”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE. Certo dia, há pouco mais de sete anos, a ‘bomba’ rebenta e o mundo de Maria desfez-se: o marido sai de casa e deixa inúmeras dívidas em seu nome. “Estava casada há 13 anos e de repente, sem nada que o fizesse prever, o meu marido quis sair de casa e mudar completamente de vida. Foi um choque, fiquei numa situação financeira péssima”, relata esta professora do ensino público que dá aulas em escolas da cidade de Lisboa, recordando: “Todo um projeto de vida que tínhamos construído, ruiu”. Os anos passaram e as dificuldades não diminuíram. Pelo contrário. Como filha única, Maria teve também, nestes últimos anos, de prestar maior auxílio aos pais devido à idade e às doenças destes. “Nesse tempo, o que me valeu foi ter fé e confiar que alguma coisa havia de conseguir”, refere. No passado mês de dezembro, uma amiga de Maria aconselhou-a a ir falar com a Cáritas Diocesana de Lisboa. Este aparente simples conselho trouxe uma nova esperança à vida de Maria. “Como perdi a morada de família, tinha de alugar uma casa para viver com os meus filhos e o apoio da Cáritas de Lisboa foi feito através do pagamento de três mensalidades. Foi uma ajuda fabulosa, porque deu início ao processo de mudança de vida”. A futura nova casa de Maria pertence a um programa estatal de auxílio, em que a renda mensal depende do valor que o inquilino gastar nas obras. Junto da Cáritas de Lisboa, Maria conseguiu também “contactos de empreiteiros de confiança” que estão agora a realizar as remodelações necessárias.
Hoje, esta professora destaca “a rapidez na resposta” por parte da Cáritas Diocesana de Lisboa e sente-se “grata” pela ajuda prestada pela Igreja. Através das páginas do semanário diocesano, Maria procura dar “uma palavra de esperança” a quem passa atualmente por dificuldades, incentivando as pessoas a “não terem vergonha” da sua situação.
A mudança de Maria e dos filhos para a nova residência de família vai acontecer no final deste mês de março, início de abril. “Esta vai ser, com certeza, uma Páscoa muito feliz! Com a ajuda da Cáritas de Lisboa, vai ser realmente a passagem para uma vida nova”, aponta, esperançada.
Maria é apenas um dos rostos das perto de 3.500 famílias que foram ajudadas pelo gabinete de ação social da Cáritas Diocesana de Lisboa nos últimos sete anos. Os números do relatório de atividades desta instituição, a que o Jornal VOZ DA VERDADE teve acesso, dizem que, entre 2009 e 2014, o apoio a estas famílias carenciadas rondou valores perto dos 60 mil euros.
Divulgar o projeto ‘Igreja Solidária’
Maria dirigiu-se à sede da Cáritas Diocesana de Lisboa e foi atendida por uma assistente social, que a reencaminhou para um dos parceiros da rede de solidariedade social, na sua paróquia de residência. Esta é uma forma de atuar que procura agilizar todo o processo de ajuda aos necessitados. “Sem o projeto ‘Igreja Solidária’, da Cáritas Diocesana de Lisboa, não conseguíamos ajudar metade das famílias que apoiamos”, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE a coordenadora da equipa do Rendimento Social de Inserção no Centro Comunitário Paroquial de Famões, Lucrécia Dionísio. Esta responsável por uma equipa de 15 pessoas destaca a “rapidez na resposta” e o “trabalho de proximidade” realizado com a Cáritas Diocesana. “A rapidez facilita bastante o trabalho e há sempre uma resposta ou uma abordagem no sentido de conseguir uma solução. Por vezes não conseguimos o dinheiro, mas conseguimos o equipamento que precisamos. Existe uma ligação muito próxima que é muito benéfica e sabemos que funciona!”, expõe. De entre os casos mais comuns que necessitam de apoio, destacam-se as rendas em atraso e as mensalidades dos infantários e creches, além dos custos com medicamentos que atualmente “denota menos pedidos”, quando comparado com igual período do ano anterior.
Para Sónia Constantino, uma das técnicas da mesma instituição e que também é responsável pelo acompanhamento dos pedidos de apoio feitos através do fundo ‘Igreja Solidária’, a existência de um projeto com estas características é “um suporte bastante significativo e com algumas respostas que, de há um tempo para cá, têm sido mais limitadas por parte da Segurança Social”. “Também por isso, temos recorrido ainda mais à Cáritas Diocesana”, justifica.
O Centro Comunitário Paroquial de Famões, através do ‘Igreja Solidária’, apoia, desde 2009, cerca de 40 a 50 famílias por ano, com ajudas que vão desde o pagamento de rendas em atraso, passando pela aquisição de eletrodomésticos, até à compra de livros escolares. Para a coordenadora Lucrécia Dionísio, a existência deste projeto do Patriarcado de Lisboa deve ser ainda mais divulgado, de forma a chegar a “mais famílias que não sabem onde se devem dirigir para pedir um apoio”, sublinha.
A profissionalização de um grupo voluntário
“Éramos um conjunto de pessoas, mas não um grupo”. A frase pertence a Teresa Palha, voluntária da Cáritas Paroquial de Castanheira do Ribatejo. “Foi preciso o nosso grupo fazer a formação com a Cáritas Diocesana de Lisboa para se começar a sentir como tal: um grupo de ação social. Também neste aspeto, foi muito importante a formação”, revela ao Jornal VOZ DA VERDADE esta leiga, casada e mãe de quatro filhos. A formação é outra das valências da Cáritas de Lisboa. O programa ‘+Próximo’, da Cáritas Portuguesa, foi concretizado pela Cáritas Diocesana que no ano passado formou mais de 600 leigos das instituições e paróquias de Lisboa.
Há cerca de três anos, após conversa com o coadjutor da sua paróquia, Teresa começou a visitar dois lares, onde rezava o terço com os idosos, cantava e tocava viola. Foi nesta experiência que conheceu Maria Elisa, responsável pela Cáritas Paroquial de Castanheira do Ribatejo, que a desafiou a integrar este grupo caritativo. De imediato Teresa começou “a distribuir alimentos e a fazer recados”, mas dentro de si nascia o sentimento de que este grupo paroquial não funcionava como tal. “Em setembro/outubro, no início deste ano pastoral, começámos a pensar que na nossa Cáritas Paroquial de Castanheira do Ribatejo os papéis das pessoas não estavam definidos. Somos 10 elementos, fazíamos todos a mesma coisa o que trouxe alguns conflitos entre os voluntários. Não havia regras e tínhamos a necessidade de nos organizarmos melhor”, reconhece, justificando, desta forma, a necessidade que o grupo tinha de formação. Ao mesmo tempo, revela Teresa Palha, o Banco Alimentar Contra a Fome fez “uma reunião muito profissional” com esta Cáritas Paroquial, alertando para “a falta de profissionalismo do grupo”.
A formação de todo o grupo da Cáritas Paroquial de Castanheira do Ribatejo com a Cáritas Diocesana de Lisboa iniciou-se então em janeiro deste ano, nos espaços da paróquia. “Já realizámos dois módulos e vamos continuar a fazer formação”, garante esta voluntária.
Atualmente, o grupo de ação social desta paróquia da Vigararia de Vila Franca de Xira - Azambuja faz acolhimento a cerca de 100 famílias para distribuir, duas vezes por mês, alimentos da autarquia local e do Banco Alimentar. “Há casos de famílias que não estão sinalizadas mas que nos veem pedir ajuda, a quem nós prestamos também auxílio”, aponta Teresa Palha. A Cáritas Paroquial de Castanheira do Ribatejo faz ainda distribuição de roupa, que chega a esta paróquia através da comunidade e do ‘Projeto Amigo’, da Cáritas Diocesana de Lisboa.
Os ‘amarelinhos’
Nos últimos anos, um pouco por toda a cidade de Lisboa e arredores, muitos são os contentores amarelos que estão nas ruas e que recebem roupa doada. O ‘Projeto Amigo’ dá emprego atualmente a 15 pessoas e recolhe, através dos 510 contentores amarelos espalhados pela diocese, toda a espécie de roupa. O vestuário que não está em condições de ser (re)utilizado é enviado para uma empresa em Itália que faz a reciclagem dessa mesma roupa em mau estado e em troca dá à Cáritas Diocesana de Lisboa um valor em dinheiro, que é canalizado para o fundo diocesano ‘Igreja Solidária’. A roupa que está em bom estado, é selecionada, lavada, tratada e distribuída. “Mais de 1600 famílias, oriundas do concelho de Lisboa e até da margem sul, foram apoiadas pela Loja Solidária ‘É Dado’, da Cáritas Diocesana de Lisboa”, conta, ao Jornal VOZ DA VERDADE, Ana Amaral, uma das voluntárias da loja do Alto dos Moinhos, que abre portas, normalmente, três dias por semana (terça-feira, quinta-feira e sábado) para oferecer roupa a quem mais precisa.
Presente desde o dia de abertura da loja, em 2009, esta voluntária destaca a “gente muito variada” que a Cáritas de Lisboa já atendeu nestes anos. “Desempregados, gente com o Rendimento Social de Inserção, muitos africanos que vieram trabalhar na construção civil e que atualmente não têm meios de subsistência”, são apenas algumas das pessoas que procuram ajuda na Loja Solidária ‘É Dado’. Outros, “não sendo desempregados, têm um rendimento que também já não é suficiente para o pagamento da água e da luz e, pelo menos, na roupa podem poupar alguma coisa”, refere Ana Amaral. Pontualmente, existem outros casos onde a resposta carece de maior “urgência e prontidão”, lembrando o exemplo recente de uma família com sete crianças a quem ardeu a casa. “Viram-se, de repente, sem nada. A estas situações, procuramos dar uma ajuda imediata, procuramos dar aquilo que temos”, garante Ana.
Esta voluntária, que também pertence à direção da Cáritas Diocesana, destaca um aumento significativo da procura por esta valência, em 2012, quando se registou o pico da crise económica. Tal facto, juntamente com o aparecimento, em Lisboa, de novas lojas solidárias de outras instituições, obrigou também a adotar novas regras de funcionamento. “As pessoas sinalizadas podiam vir buscar roupa de dois em dois meses, o que era uma sobrecarga para nós até porque as doações de roupa começaram a ser mais escassas, em especial na roupa de homem e criança. Por isso, desde o ano passado, alargámos o prazo para três meses e atendemos pessoas que sejam encaminhadas por uma instituição ou assistente social ou até pela própria Cáritas de Lisboa, através do gabinete de ação social”, descreve.
Aprender a ‘Dar e Receber’ com a Cáritas de Lisboa
Na edição de 5 de outubro último, o Jornal VOZ DA VERDADE dava a conhecer o projeto ‘Dar e Receber’, que nasceu de uma parceria entre a Cáritas Portuguesa e a Entrajuda e que, então, estava presente em cinco dioceses portuguesas: Vila Real, Setúbal, Braga, Évora e Viseu. Nas páginas do semanário diocesano, a presidente da direção da Entrajuda, Isabel Jonet, garantia que “a Diocese de Lisboa é uma diocese riquíssima em respostas sociais”, mas “onde há também a necessidade de incentivar o trabalho em rede e a partilha de recursos”. Por isso, na referida reportagem, Isabel Jonet expressava o desejo de que o Patriarcado de Lisboa assumisse também este projeto, algo que aconteceu em janeiro desde ano, através da Cáritas Diocesana. “O projeto, para a Diocese de Lisboa, terá uma duração de três meses, com eventual prorrogação para mais três”, salienta ao Jornal VOZ DA VERDADE a coordenadora diocesana do projeto ‘Dar e Receber’ para a Diocese de Lisboa, Inês Pereira, que é assistente social da Cáritas Diocesana de Lisboa há 2 anos. “Da parte da Cáritas de Lisboa, a responsabilidade é sobretudo a divulgação da plataforma online do ‘Dar e Receber’, através do portal www.darereceber.pt, que tem três áreas de ação: a ajuda social, o banco de voluntariado e o banco de bens doados online. No fundo, este projeto permite que, enquanto Cáritas Diocesana, possamos estar a fazer um investimento maior em termos de tempo, de recursos e de disponibilidade de recursos humanos para este apoio às paróquias, que é uma missão prioritária nossa”.
Inês Pereira explica que “a divulgação tem sido feita através da distribuição de materiais, como cartazes, flyers e folhetos, às instituições e aos grupos paroquiais de ação social, e através de apresentações públicas com uma explicação sumária do projeto e da plataforma online”. Esta responsável diocesana mostra-se ainda “satisfeita” com o acolhimento que o ‘Dar e Receber’ está a ter na caridade da diocese, com a intervenção da Cáritas Diocesana de Lisboa.
Acolher as crianças e… os pais
Em Carnide está presente, desde 2010, a creche da Cáritas, que aposta na “valorização da relação com as famílias”. A coordenadora pedagógica, Helena Veiga, refere ao Jornal VOZ DA VERDADE que a missão da creche da Cáritas Diocesana de Lisboa vai para além do espaço da instituição. “Se pudermos contribuir para que a estrutura familiar esteja equilibrada, a criança estará muito mais tranquila e terá um desenvolvimento são. Na entrevista com os pais, que fazemos quando a criança é admitida na creche, digo-lhes para que nos contactem sempre que sentirem dificuldades. Já tivemos muitas mães que vêm à creche, a chorar, pedindo uma orientação. Acabamos por ser um pouco psicólogas dos pais”, refere a coordenadora pedagógica, salientando que, por vezes, também é necessário dar o primeiro passo. “Apercebemo-nos de casos de famílias que não nos pedem nada mas em que notamos existirem dificuldades. Nesses casos, temos tido a iniciativa de abordar os pais, tentando conhecer o problema, ganhar confiança, até que eles sintam segurança da nossa parte para responder a alguma dificuldade. Queremos que seja uma educação circular e não numa pirâmide em que ‘o educador é que sabe’. Como instituição de solidariedade, somos os primeiros a estar disponíveis para acolher as situações e dar uma alternativa. Por isso, a creche é apenas uma das valências que está incluída na ação social”, aponta Helena Veiga.
Presente na instituição desde a sua abertura, há quase cinco anos, esta responsável, que é natural da freguesia de Carnide, destaca o repentino crescimento de pedidos para revisão da mensalidade que se registou a partir de 2012. “De repente, famílias com vidas estáveis, de classe média e baixa, viram-se em situações muito complicadas”, descreve Helena. A creche da Cáritas Diocesana de Lisboa apoia, atualmente, 38 crianças, com muitas a passarem por várias dificuldades familiares e que encontram na instituição “um importante auxílio”, revela Helena Veiga, apontando um dos desejos da equipa que coordena: “Para o futuro, desejamos ter a valência de jardim-de-infância para dar continuidade, neste espaço, ao processo educativo, após os três anos de idade”.
A atenção à pessoa idosa e o dar de comer a quem tem fome
Ana Catarina Calado é diretora técnica do Lar da Bafureira desde que esta valência da Cáritas Diocesana de Lisboa reabriu, em 2001, após obras de melhoramento dos espaços. Atualmente com uma capacidade para 50 utentes, ao cuidado de cerca de 30 funcionários, este lar situado na freguesia da Parede, em Cascais, acolhe pessoas a partir dos 65 anos, de ambos os sexos, em regime residencial. “O Lar da Bafureira sempre teve ligação à Cáritas de Lisboa e começou por ser um centro de acolhimento temporário de pessoas retornadas de África, na altura da descolonização. Algumas conseguiram reconstruir a sua vida, mas nos dias de hoje ainda acolhemos pessoas dessa época, que têm atualmente 90 anos e que na altura tinham 50”, expõe a diretora, frisando o trabalho de acolhimento aos idosos: “O Lar da Bafureira é uma importante área de intervenção da Cáritas Diocesana de Lisboa. Cada vez mais sentimos isso. Temos uma lista de espera de 200 pessoas e aquilo que sentimos é que realmente há muito poucas respostas que tenham em conta os parcos recursos económicos das famílias. Contamos com o apoio da Segurança Social, mas temos conseguido ter um preço bastante acessível para as famílias”.
Esta resposta da Cáritas de Lisboa à terceira idade procura “proporcionar um ambiente acolhedor, promotor do bem-estar físico e psicológico de cada residente”. “Além do apoio nas atividades da vida diária, os residentes podem contar com ginástica, apoio psicológico, religioso, assistência médica e de enfermagem e diversas atividades de animação cultural”, observa Ana Catarina, destacando “o apoio prestado pelos voluntários”.
Desde há uns anos, o Lar da Bafureira tem também uma outra resposta de emergência: a Cantina Social, que serve todos os dias 30 refeições. “Ajudamos cerca de 15 pessoas, porque optámos por dar duas refeições diárias aos necessitados. Temos pessoas que só vão buscar as refeições e a tomam no domicílio e outras almoçam no lar e levam o jantar para tomar em sua casa”, conta a diretora técnica da instituição, sublinhando que esta valência da Cáritas de Lisboa “vai trabalhando igualmente com estas pessoas carenciadas, tendo em vista a sua autonomia e a resolução da situação de cada um”.
Ajuda à legalização
Depois de mais de 20 anos à procura de se tornar uma cidadã legal em Portugal, Luísa Gomes foi ter com a Cáritas Diocesana de Lisboa já sem qualquer esperança de ver este seu desejo concretizado. Hoje com 55 anos, Luísa chegou ao nosso país há 33, com uma filha de um ano. “Saí de Cabo Verde com a ‘carta de chamada’, termo de responsabilidade, contrato de trabalho e sempre tive emprego”, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE. Luísa tinha autorização de residência e recorda que quando a filha teve idade para ir para a escola, foi ela própria quem deu a sua residência, que então estava caducada. “Quando fui ao SEF - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, eles não tinham nada, não encontravam a minha residência. Nem para renovar, nem para nada. Nunca conseguiram encontrar a minha residência através de mim mesma, mas através da minha filha”, descreve. “Andei a ser explorada, a trabalhar, a fazer descontos, sempre com passaporte e fiquei sem nada. Estava complemente ilegal!”, recorda, lembrando-se das dificuldades por que passou: “Eu cheguei a ter de ‘transformar’ um litro de leite em três, para poder dar aos meus filhos”.
Após quase duas décadas a ‘lutar’ pela sua legalização, Luísa Gomes dirigiu-se ao gabinete da Parede do CLAII (Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes) de Cascais, situado junto ao Lar da Bafureira, cujo objetivo é acolher os imigrantes, apoiando-os no processo de integração e que surgiu de uma parceria entre a Cáritas Diocesana de Lisboa, o ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural) e a Câmara Municipal de Cascais. “Cheguei ao CLAII, em 2012, sem esperança. Nessa altura estava com uma depressão, um esgotamento, e não acreditava que a minha situação, com mais de 20 anos, se pudesse resolver. A verdade é que em menos de um ano eu já tinha o documento, através do CLAII. Eu nem acreditava! Fiquei uma semana sem dormir”, narra, visivelmente satisfeita, Luísa Gomes, sublinhando que desta valência da Cáritas Diocesana de Lisboa recebeu ainda “ajuda alimentar, como carne e peixe”.
Hoje, Luísa Gomes destaca a “relação familiar” que mantém com as técnicas do CLAII, que nunca “desconfiaram” da sua palavra, e mostra-se “muito agradecida” a esta rede. “Através do CLAII consegui dar uma volta muito grande à minha vida, consegui ajuda no médico, consegui uma escola para o meu filho mais novo, que hoje em dia também já tem abono. Eu hoje sou gente”, termina.
“Pegar na vida com as próprias mãos”
A atual direção da Cáritas Diocesana de Lisboa encontra-se em função há sete anos, cumprindo atualmente o terceiro mandato. “A Cáritas Diocesana de Lisboa teve uma alavancagem muito grande – e aqui o orgulho é pelos colaboradores, funcionários e voluntários da instituição, que lá trabalham todos os dias”, manifesta ao Jornal VOZ DA VERDADE o presidente da instituição, José Frias Gomes. Com a crise económica e financeira, este responsável destaca que a Cáritas de Lisboa teve de ser “inovadora em alguns aspetos”, como “o conceito das lojas solidárias, que não existia, e o fundo diocesano ‘Igreja Solidária’, que nasceu por intuição do senhor D. José Policarpo, antes da criação de qualquer fundo e muito antes até do pico da crise, e que atualmente está com uma média de atribuição de apoios na ordem dos 4.500 a 6.000 euros mensais”.
Frias Gomes sublinha igualmente que a Cáritas de Lisboa “não pode ser alheia à dimensão da promoção humana”. “Além da chamada primeira ajuda, imediata, num primeiro momento, a Cáritas Diocesana de Lisboa tem de promover a autonomização das pessoas. Ou seja, as pessoas conseguirem pegar na sua própria vida com as suas próprias mãos e avançar”.
Entre os novos projetos, o presidente da Cáritas de Lisboa salienta “o sonho nascido de criar uma residência universitária para jovens carenciados que venham estudar para a cidade”. “Pela informação que nos chega, muitos jovens abandonaram o ensino superior porque são de fora de Lisboa. A Cáritas Diocesana tem um valor que ultrapassa o milhão e meio de euros alocado a este projeto, mas há que encontrar um edifício que seja aproveitável para realizar este sonho. Para tal, temos mantido diálogo com a Câmara Municipal de Lisboa”, expõe José Frias Gomes, destacando ainda “o desejo de poder pagar as propinas aos melhores alunos da residência”.
Este responsável revela também um novo projeto da Cáritas de Lisboa, em parceria com a ACEGE - Associação Cristã de Empresários e Gestores e a BTEN, uma empresa de consultoria. “A ideia é proporcionar aos desempregados de longa duração, com mais de 35 anos, baixas qualificações e já com algum grau de desmotivação, um espaço onde possam montar a sua empresa e dar-lhes condições”, explica. Frias Gomes destaca igualmente um novo projeto, em cooperação com o ‘Sem Fim’ – “provavelmente o maior e melhor centro de formação profissional do país para a indústria metalúrgica e metalomecânica” – e a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Italiana em Portugal, para apresentar “uma candidatura a Bruxelas para financiar estágios de jovens, tipo Erasmus, que terminem cursos profissionais a nível de 12º ano e enviá-los para empresas italianas”. Outro possível novo projeto da Cáritas Diocesana, “que está atualmente em análise na direção”, é “a criação de um centro de dia para doentes com Alzheimer”.
Nestes sete anos, os rostos ajudados pela Cáritas Diocesana de Lisboa têm sido muitos. Muitas são também as famílias atingidas pelo trabalho deste organismo da Igreja. Através do semanário diocesano, José Frias Gomes deixa a garantia de que a Cáritas Diocesana a que preside “vai continuar a estar atenta e atuante”, procurando “ajuda para cada pessoa” que se dirija à instituição, “seja com os meios da Cáritas, seja encaminhando para outras instituições, mesmo que não sejam ligadas à Igreja”. “O que interessa, de facto, é a pessoa”, assegura o presidente da Cáritas Diocesana de Lisboa.
__________________
Áreas de intervenção da Cáritas Diocesana de Lisboa
Gabinete de Ação Social e Formação
Av. Sidónio Pais, nº 20 - 5º Dto., 1050-215 Lisboa
E-mail: geral@caritaslisboa.pt
Telefone: 213573386
Projeto ‘Igreja Solidária’
Email: igrejasolidaria@caritaslisboa.pt
‘Projeto Amigo’
Doação de vestuário usado, em qualquer um dos 510 contentores amarelos espalhados pela Diocese de Lisboa
Loja Solidária ‘É Dado’
Rua João de Freitas Branco, nº 30, 1500-359 Lisboa
Horário: 3ªs e 5ªsfeiras, das 10h30 às 12h30
Projeto ‘Dar e Receber’
www.darereceber.pt
Creche Cáritas
Rua Manuela Porto, nº 13 e 13A, 1500-421 Lisboa
E-mail: crechecaritas@caritaslisboa.pt
Telefone: 217163682
Lar da Bafureira e Cantina Social
Rua Camilo Dionísio Alvares, nº 565, 2775-373 Parede
E-mail: lardabafureira@caritaslisboa.pt
Telefone: 214570075
CLAII - Centro Local de Apoio à Integração de Imigrantes (4 gabinetes)
Bairro da Cruz Vermelha - Gabinete Mais Perto
Praceta do Autódromo, Loja 1, 2645-276 Alcabideche
E-mail: claii.cascais@caritaslisboa.pt
Horário: 5ªfeira, das 10h00 às 13h00
Parede - Lar da Bafureira
Rua Camilo Dionísio Alvares, nº 565, 2775-373 Parede
E-mail: claii.cascais@caritaslisboa.pt
Telefone: 214570075
Horário: 3ªfeira, das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 16h00; 4ªfeira, das 9h00 às 13h00
Cascais - Edifício Multi-Serviços da Torre
Rua das Caravelas à Praça Atlântico, 2750-615 Cascais
E-mail: claii.cascais@caritaslisboa.pt
Telefone: 214861908
Horário: 2ªfeira, das 14h00 às 17h00; 4ªfeira, das 9h30 às 13h00 e das 14h00 às 17h00
Matos Cheirinhos - Gabinete Mais Perto
Rua Rodrigues Sampaio, Loja do Lote 5, 2785-320 São Domingos de Rana
E-mail: claii.cascais@caritaslisboa.pt
Horário: 5ªfeira, das 9h45 às 12h45
__________________
‘Num só coração, uma só família humana’
A Semana Nacional Cáritas, com o tema ‘Num só coração, uma só família humana’, teve início no passado Domingo, 1 de março, e pretende chamar a atenção para todas as questões relacionadas com a família. “A semana deste ano (1 a 8 de março) surge-nos como chamada de atenção para que a nossa solidariedade – os tempos de crise têm-na estimulado em termos de criatividade e inovação – se torne mais operativa e generosa”, escreve o vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana D. José Traquina, que é também Bispo Auxiliar de Lisboa, na Mensagem para a Semana Nacional Cáritas.
Esta iniciativa leva à rua o habitual peditório público, que se realiza em diversas cidades e estabelecimentos comerciais entre os dias de 5 a 8 de março. O valor angariado neste gesto público reverte a favor dos diferentes projetos sociais concretizados em cada uma das Cáritas Diocesanas do país.
Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Há anos, Umberto Eco perguntava: o que faria Tomás de Aquino se vivesse nos dias de hoje? Aperceber-se-ia...
ver [+]
|
Pedro Vaz Patto
Já lá vai o tempo em que por muitos cantos das nossas cidades e vilas se viam bandeiras azuis e amarelas...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Vivemos um tempo de grande angústia e incerteza. As guerras multiplicam-se e os sinais de intolerância são cada vez mais evidentes.
ver [+]
|