Lisboa |
Conclusão da Visita Pastoral à Vigararia de Alcobaça-Nazaré
“Pelos cristãos, chega a todos a caridade de Cristo”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa convidou os cristãos a estarem “na primeira linha” da “reconstrução da sociedade” e a serem “sinais de futuro e de esperança”. Na conclusão da Visita Pastoral à Vigararia de Alcobaça-Nazaré, que decorreu no passado dia 8 de março, em Alcobaça, D. Manuel Clemente encontrou-se ainda com as famílias e os jovens, desafiando-os a “mostrarem Cristo presente”.

 

Mais de 900 pessoas, segundo a organização do Mosteiro de Alcobaça, participaram na celebração, no passado Domingo, 8 de março, com que terminou a Visita Pastoral à Vigararia de Alcobaça-Nazaré, iniciada a 11 de janeiro. “Esta é uma celebração de conclusão – e não de encerramento, porque na vida da Igreja não há encerramentos – de uma Visita Pastoral que decorreu muito bem, por aquilo que fui ouvindo, e testemunhando, por parte dos meus irmãos bispos, dos padres e dos cristãos mais comprometidos nas comunidades. Durante estas semanas sucessivas de Visita Pastoral nesta Vigararia de Alcobaça-Nazaré tantas coisas bonitas aconteceram, tantos sinais de futuro e de esperança para uma sociedade que precisa de se reconstruir e onde certamente os cristãos não faltarão na primeira linha de tudo quanto é preciso fazer, no sentido da justiça, da solidariedade e da paz”, manifestou, no início da celebração, o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

A longa nave do Mosteiro de Alcobaça apresentava-se repleta de cristãos de toda a vigararia. No “belíssimo mosteiro”, como o qualificou, D. Manuel Clemente destacou o papel de cada cristão para a presença de Cristo no mundo. “Em cada comunidade cristã desta vigararia, o que existe é o Corpo de Cristo em cada um dos batizados. A ‘boca’ que Jesus Ressuscitado tem para falar é a nossa. Os gestos sacramentais que Jesus Ressuscitado celebra é connosco e por nós. Os gestos caritativos e solidários que Jesus reparte são os nossos, em cada comunidade cristã. Por vós, chega a todos a caridade de Cristo. Estais a ver o que somos? Estais a rever-vos como somos? Corpo de Cristo Ressuscitado no mundo, no sinal da sua Igreja que somos nós, os batizados! Que beleza, que verdade e que responsabilidade para cada um de nós. Nós somos o sinal visível, enquanto Igreja, do Corpo Ressuscitado de Cristo no mundo. Cristo Ressuscitado tem o vosso rosto!”, garantiu, na homilia, D. Manuel Clemente.

 

Purificar e mostrar Cristo presente

Ao longo de cerca de dois meses, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, em encontros vicariais com os conselhos pastorais, a liturgia, os movimentos eclesiais, os agentes da pastoral social, os catequistas, os escuteiros, os jovens e as famílias, e os três Bispos Auxiliares de Lisboa (D. Joaquim Mendes, D. Nuno Brás e D. José Traquina), no contacto direto com cada uma das 15 paróquias que compõem a vigararia (Alcobaça, Alfeizerão, Bárrio, Benedita, Cela, Coz, Évora de Alcobaça, Famalicão, Maiorga, Pederneira, São Martinho do Porto, Turquel, Valado dos Frades, Vestiaria e Vimeiro), conheceram de perto a realidade social e eclesial da zona pastoral mais a norte da Diocese de Lisboa. “Uma Visita Pastoral, de comunidade em comunidade, em que passam os bispos, se reúnem as pessoas, se refletem as coisas essenciais da nossa fé e do nosso trabalho apostólico, tem algo de purificação. Creio que uma Visita Pastoral, com tantos encontros que teve, com os vários setores da pastoral, a visita dos senhores bispos às diversas localidades e realidades, terra após terra, foi para que as coisas se purifiquem e sejam só o que devem ser. Para que haja na casa de Deus somente Deus”, referiu D. Manuel Clemente.

A Eucaristia de conclusão da Visita Pastoral à Vigararia de Alcobaça-Nazaré foi concelebrada pelos Bispos Auxiliares D. Nuno Brás e D. José Traquina – D. Joaquim Mendes estava na Sé de Lisboa a proferir a 3ª Catequese Quaresmal (ver pág.08 desta edição) –, e por vários padres da vigararia. O vigário da Vigararia de Alcobaça-Nazaré, padre José Dionísio, que é pároco de Valado dos Frades, Coz e Maiorga, salientou, no final da Missa, os frutos que a presença dos bispos nas paróquias podem trazer. “A proximidade que sentimos na Visita Pastoral vai ajudar as comunidades cristãs a viveram mais intensamente, sem deixar ‘escapar’ das nossas vidas, das nossas ocupações, este grande mistério que está no meio de nós”. O padre Dionísio ofereceu depois a cada um dos bispos uma peça feita pelos oleiros locais, “como recordação e símbolo de gratidão pela Visita Pastoral”.

Antes da bênção final, o Cardeal-Patriarca de Lisboa agradeceu “aos sacerdotes e diáconos e a todos e cada um dos cristãos desta vigararia” o empenho na Visita Pastoral. “Vós sois, realmente, o Corpo eclesial de Cristo presente nestas comunidades. Vós sois o rosto de Cristo nestas comunidades, para ir a todo o lado, chegar sempre mais longe, na vida das famílias, na vida das escolas, na vida das empresas, na vida da cultura, em tudo o que é preciso animar com a força do Evangelho de Jesus Cristo. Que todos e cada um sejais uma bênção de Deus a todo o lado onde chegardes, perto ou longe, o necessário, para mostrar Cristo presente”, desejou.

 

Importância e centralidade da família

Neste Domingo III da Quaresma, no refeitório do Mosteiro de Alcobaça, o Cardeal-Patriarca de Lisboa encontrou-se com as famílias cristãs, antes da celebração conclusiva, sublinhando “a importância e a centralidade da família, quer na sociedade quer na própria Igreja”. Neste encontro com diversos movimentos e grupos ligados à pastoral familiar das 15 paróquias da vigararia, D. Manuel Clemente salientou que “a problemática familiar está hoje na primeiríssima ordem da agenda da Igreja”, em particular “o Sínodo dos Bispos, em Roma, sobre a família”, lembrando a consulta feita a nível mundial, entre outubro e dezembro de 2013, em que o Patriarcado de Lisboa contribuiu com “mais de 14 mil respostas”. “Em outubro passado, em Roma, onde estive como representante da Conferência Episcopal Portuguesa, a assembleia do Sínodo dos Bispos abordou temas mais correntes e outros mais complexos – como a situação das famílias católicas que se desfizeram e depois se refizeram de uma maneira já não sacramental, ou os problemas da ideologia de género – mas o que, em meu entender, sobrou mais dessa reunião para a próxima assembleia em outubro foi precisamente a importância e a centralidade da família, quer na sociedade quer na própria Igreja”.

Afirmando que “o conceito família teve vários contornos ao longo dos milénios que a humanidade já leva”, o Cardeal-Patriarca realçou que a família “teve também, até aos nossos dias, duas coisas indiscutíveis: era sempre constituída por um homem e por uma mulher e sempre na previsão de vir a ter descendência”. Lamentando que “em algumas sociedades, incluindo a portuguesa, já não seja assim”, D. Manuel Clemente considerou que a nova ‘faceta’ da família “traz problemas complexos” e até “uma indefinição do que é uma família”. “Como as famílias eram consideradas um bem precioso para a própria estabilidade da sociedade – a sociedade entendia-se quase como um agregado de famílias e portanto promovia a família, defendia a estabilidade familiar –, hoje em dia, muito pelo contrário: a própria consideração dada à família padece desta maneira interrompida, reformável, pouco definida, dos valores familiares”, lamentou.

 

O exemplo e a preparação para a vida matrimonial e familiar

O Cardeal-Patriarca frisou depois que “a Igreja deve oferecer à sociedade, neste grande debate social e cultural que existe no mundo de hoje sobre a família, o exemplo e o testemunho dos casais cristãos”. “Vamos ver como vai continuar a reflexão do Sínodo dos Bispos, vamos ver como é que concretamente, em relação a alguns casos, nós podemos responder, mas ninguém espere, à Igreja Católica, que entre nesta temática e que faça propostas que não sejam católicas. Não nos venham pedir a nós, católicos, que demos respostas que são de outros. Vamos entrar, e entramos, neste debate com lealdade, com abertura, com diálogo, percebendo que nem toda a gente pensa como nós, mas com certeza que a resposta que vamos dar é a nossa resposta”, garantiu D. Manuel Clemente.

Neste encontro com as famílias, o Cardeal-Patriarca de Lisboa partilhou depois que “a própria comunidade cristã deve-se organizar em chave familiar”. “Nas paróquias temos a catequese, a liturgia, a ação social e caritativa, a preparação para o matrimónio, as ações de pastoral familiar, mas parece que são ‘coisas’ ao lado das outras, mas não são. O que o Sínodo quer, e já o Papa João Paulo II dizia muito isto, é que as nossas comunidades se organizem como famílias de famílias”. Isto “traz consequências”, segundo D. Manuel Clemente, e nesse sentido “a preparação para a vida familiar não pode ser apenas para alguns noivos que se apresentam para o sacramento do matrimónio, um curso de meia dúzia de encontros, ou até menos, do CPM”. “É melhor que nada, mas não chega”, alertou, questionando: “Qual foi a iniciação familiar na infância? Qual foi a perspetiva familiar na adolescência? Como é que foi durante a juventude a preparação para um compromisso para uma vida a dois como se fosse um só? A pastoral familiar tem de começar bem antes e estar sempre presente na perspetiva da formação cristã. A exortação apostólica ‘Familiaris consortio’, do Papa João Paulo II, há 30 anos, insistia nisso: a preparação para a vida matrimonial e familiar deve começar logo na catequese, se não nas próprias famílias cristãs, na adolescência e na juventude”.

No diálogo que manteve com as famílias, o Cardeal-Patriarca foi questionado sobre “como ajudar outros casais a manterem-se na Igreja”. D. Manuel Clemente lembrou que “muitos casais ultrapassaram crises muito complicadas porque tiveram o acompanhamento de outros casais, porque se juntavam, conversavam, rezavam, iam ‘contra a corrente’ e se tivessem ficado sozinhos já não seriam o que continuam a ser: um casal”.

 

Proporcionar às pessoas o encontro com Jesus

O último dia de Visita Pastoral à Vigararia de Alcobaça-Nazaré, no passado Domingo, 8 de março, iniciou-se com um encontro matinal do Cardeal-Patriarca com os jovens desta zona pastoral. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” – esta frase do Papa Francisco, retirada da exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’, foi citada por D. Manuel Clemente, que pediu ainda aos jovens para a terem “sempre no coração”. “A alegria do Evangelho não é uma alegria qualquer, porque se trata da alegria de Jesus, que é o Evangelho vivo”, definiu, lembrando, tal como tinha feito no encontro com os jovens da Vigararia da Amadora, a história de um seu amigo dos tempos da catequese, a quem o Cardeal-Patriarca perguntou o porquê de se manter fiel à Igreja: “Esse meu amigo disse-me: ‘Com Jesus, a conversa nunca mais acaba’. Considero que é das coisas mais claras acerca do que é ser cristão. Reparem, esta conversa tem dois mil anos. Nós estamos aqui, nesta manhã de Domingo, em Alcobaça, por causa desta conversa que Deus teve connosco, que não foi abstrata, foi uma Pessoa”.

Neste encontro, que reuniu perto de uma centena de jovens vindos de praticamente todas as paróquias da vigararia, D. Manuel Clemente sublinhou aquela que considera ser a missão da Igreja. “Toda a ‘artilharia’ que a Igreja tem – a Palavra, as atividades, os festivais da canção e todas as outras coisas bonitas –, e tudo isto que é a Igreja, o Papa, os cardeais, os bispos, os padres, os diáconos, os catequistas, etc., etc., têm uma única finalidade: ao repetir as palavras e os gestos de Cristo, sacramentais e outros, proporcionar, hoje, às pessoas, o encontro com Jesus. É a única razão de ser de tudo quanto se chama Igreja”.

 

“Que Jesus continue a ser sinal nas vossas vidas”

Este encontro no auditório da Biblioteca Municipal de Alcobaça integrou-se na I Jornada Vicarial da Juventude da Vigararia de Alcobaça-Nazaré, que decorreu nos dias 7 e 8 de março, com o tema ‘Felizes os que se entregam de coração’ (ver pág.13 deste jornal). Os jovens, aquando da inscrição na jornada vicarial, poderiam deixar uma pergunta que depois seria colocada a D. Manuel Clemente. Entre as questões selecionadas, o Cardeal-Patriarca foi questionado sobre o que é ser cristão e referiu: “O Senhor esteja convosco”, a que os jovens responderam: “Ele está no meio de nós”. “Veem? Isto é ser cristão! Quem sabe isto, é cristão! Porque vocês não disseram ‘Ele esteve’, disseram ‘Ele está’, e quem diz isso é cristão”, assegurou o Cardeal português. “Deus espera que nós sejamos Jesus no mundo e que a vida de Jesus continue em nós, para que o seu Espírito possa, depois, ‘empurrar’ e atrair. Que Jesus continue a ser sinal nas vossas vidas. Depois Jesus fará o resto, a seu tempo”, assegurou, revelando que conheceu Jesus em casa, em especial através da mãe, com quem, em criança, rezava todas as noites.

Outra questão colocada a D. Manuel Clemente prendeu-se com a crise. “Trabalhar, servir, a nível episcopal a Igreja em Portugal, neste momento, significa sobretudo não deixar cair a esperança, e ter uma presença muito constante junto das pessoas, sobretudo daquelas que mais precisam de ser apoiadas”, defendeu, falando depois sobre “a evangelização num mundo cheio de distrações, falta de valores e compromissos”, para pedir aos jovens que nunca deixem de propor: “É certo que o mundo hoje entra-nos pela casa, muitas vezes ao toque de um botão. No mundo em que Jesus começou esta aventura em que nós estamos, com aqueles amigos e amigas, também não faltavam distrações. Mas não é por causa disso que deixamos de propor esta pérola, que é mais bonita e brilha mais que todo o resto da coleção. A melhor maneira de convidarmos os outros é vivermos esta atração ou, como Jesus diz, esta conversão. O nosso grande aliado neste dar testemunho e trazer outros jovens é o coração desses jovens”.

 

O convite para ir a Taizé

O Cardeal-Patriarca terminou o encontro com a juventude desafiando os jovens “a refazerem hoje o caminho que aquele grupo de rapazes e raparigas fez há dois mil anos à volta de Jesus de Nazaré”. Depois, deixou também um convite: a participação na peregrinação juvenil da Diocese de Lisboa a Taizé, de 8 a 17 de agosto, que vai contar com a sua presença. “O atual prior desta comunidade ecuménica, irmão Alois, convidou-me para ir a Taizé por ocasião dos 100 anos do nascimento do fundador, o irmão Roger, e dos 75 anos de criação da comunidade de Taizé. Eu acedi a ir, mas integrado numa peregrinação da nossa diocese, organizada pelo Serviço da Juventude do Patriarcado de Lisboa. Fiquem com esta ideia e estejam atentos”, convidou o Cardeal-Patriarca.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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