Sínodo 2016 |
Simpósio sobre o Guião #2: ‘Na crise do compromisso comunitário’
“Igreja tem de dar primazia ao anúncio: ‘Deus ama-te’”
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Uma Igreja que envolva e responsabilize mais as crianças e jovens na pastoral e que ‘desmonte’ a linguagem para chegar aos mais novos. No Simpósio sobre o Guião #2: ‘Na crise do compromisso comunitário’ que decorreu em Torres Vedras, os participantes apelaram ainda a uma Igreja que acolha todos de forma igual, “sem beneficiar os ‘clientes habituais’”.

 

A Diocese de Lisboa continua a ‘escutar as bases’, rumo ao Sínodo Diocesano 2016. Nas paróquias, congregações, institutos, movimentos ou associações, muitos são os grupos sinodais que, etapa a etapa (ver caixa), vão rezando, refletindo, analisando e discutindo a exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’, do Papa Francisco, que serve de base à caminhada sinodal. ‘Na crise do compromisso comunitário’ é o tema do Guião #2, que está a ser refletido neste trimestre, entre janeiro e março de 2015. Prestes a terminar esta etapa do Sínodo de Lisboa, o Instituto Diocesano da Formação Cristã (IDFC), do Patriarcado de Lisboa, organizou na manhã do passado sábado, dia 14 de março, um Simpósio que decorreu em simultâneo em três locais da diocese: Lisboa, na igreja do Sagrado Coração de Jesus, com coordenação de Armando Toscano Rico, Caldas da Rainha, no auditório paroquial, com orientação do padre Ivo Santos, e Torres Vedras, numa sessão que decorreu salão nobre do novo Centro Pastoral, com a coordenação de Juan Ambrosio, docente da Universidade Católica Portuguesa e membro do IDFC. Neste último local, na terra natal do Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, as sugestões dos agentes de pastoral que participaram no Simpósio incidiram, em especial, na forma como a Igreja deve procurar chegar aos mais novos. “Os jovens são a ‘classe’ mais difícil de chegar, apesar de haver trabalho realizado em todas as comunidades que participaram neste plenário. Temos de criar estratégias para que as nossas crianças e jovens participem na Eucaristia, incutindo o maior número de atividades e responsabilidades possíveis: desde as leituras, ao peditório, passando pelo canto ou o serviço de altar, no grupo de acólitos”, começou por afirmar o porta-voz de um dos grupos de reflexão.

Ao mesmo tempo, analisou este grupo, a Igreja deve procurar adotar uma nova linguagem para falar de Cristo aos mais pequenos. “É preciso ‘desmontar’ aquilo que queremos transmitir às crianças. Para falarmos aos mais pequenos, temos de desmontar mais; à medida que vão crescendo, talvez o nosso discurso tenha que ser mais próximo daquilo que eles consigam escutar”. Segundo este grupo de reflexão, a Igreja deve sempre lembrar aos educadores das crianças a importância da catequese. “É preciso dizer aos pais ou aos avós ou aos familiares mais próximos que a catequese não é uma atividade como é o futebol, o karaté ou a música. A catequese é um dos momentos que terá que ‘beber’ do grande momento que é a Eucaristia. Para isso, foi realçado, na reflexão que fizemos, ser necessário que os párocos e os celebrantes, nas Missas dirigidas aos mais jovens e às crianças, façam a ‘desmontagem’ da Palavra de Deus para que todos percebam. E ‘desmontar’, porventura, é tocar no mais profundo do coração deles, o que exige de nós, agentes pastorais, um conhecimento da vida das nossas crianças e jovens, seja dos problemas, da família, da escola. Há muitas crianças que estão feridas que precisam que nós, cristãos, sejamos o ‘betadine’ que vai curar e cicatrizar aquelas feridas. Se chegarmos aí, é meio caminho alcançado”.

 

Idosos, mulheres, Eucaristia e oração

Os grupos sinodais que participaram no Simpósio de Torres Vedras refletiram também sobre o papel dos idosos na evangelização. “Os idosos, principalmente aqueles que já não trabalham, têm um papel importantíssimo na Igreja: podem abrir as igrejas, rezar nos templos, levar outras pessoas às igrejas, nem que sejam os próprios netos ou vizinhos. É preciso pedir-lhes também oração, para que intercedam pela paróquia e, neste caso, pela nossa diocese que está em caminhada sinodal”, apontaram.

Sobre o papel da mulher na Igreja, este grupo de reflexão lembrou “o peso bastante grande que isso tem nas paróquias do Oeste”. “É preciso pedir às mulheres que atrás delas consigam trazer toda a família. Por que não desafiar os maridos também a acompanhá-las?”, questionaram.

Foi também sublinhada a necessidade de os cristãos “redescobrirem a importância do Domingo como o Dia do Senhor” – “as ocupações são muitas, mas é necessário dirigir a semana das famílias para o Domingo” –, bem como “mostrar a alegria do ser cristão”. “Se saímos da Eucaristia sisudos, tristes, aquelas pessoas que estão à porta da igreja, ou porque estão no café, ou porque passaram por ali, não vão ser atraídas para nada. Temos que passar primeiro por mostrar a alegria de sermos cristãos, a alegria de termos ido à Eucaristia e de termos estado com Jesus. Só assim podemos desafiar outros para esta alegria”, garantem. Por fim, este grupo apontou a necessidade da oração. “Sem oração a Igreja não chega a lado nenhum. Neste sentido, é importante as paróquias criarem grupos de oração, ligados sempre à Eucaristia. É preciso também criar tempo para fazer silêncio, mostrando à criança, ao jovem e ao adulto que é no silêncio que Jesus nos pode tocar”.

 

Como acolher?

O acolhimento é “uma preocupação transversal a todos os grupos sinodais das paróquias” que estiveram reunidos em Torres Vedras. “O essencial é o acolhimento. Aquilo que mais falta à Igreja, neste momento, é o acolhimento e é nisso que temos de fazer um grande investimento, até porque toda a exortação apostólica ‘A alegria do Evangelho’, do Papa Francisco, gira muito à volta do acolhimento. Porque a cultura do descartável ou a ditadura económica vão-se repercutir na exclusão das pessoas e na falta de acolhimento. A Igreja, sem se aperceber, ‘embarca’ também nisso”, apontou a porta-voz do segundo grupo de reflexão deste Simpósio.

Nesta perspetiva, um dos membros deste grupo sublinhou igualmente a necessidade de a Igreja acolher. “Quando se fala em acolhimento, não é somente ter as portas abertas para receber quem vem ter connosco, mas criar espaços em que as pessoas se sintam chamadas e acolhidas. Muito do que se tem falado esta manhã tem em vista os ‘clientes habituais’, mas temos de criar espaços que não sejam para os ‘clientes habituais’ e que se traduza numa mudança da nossa atitude face aos ‘clientes não habituais’”.

Outra das questões apontadas prende-se com “o diferente tratamento dado por alguns pastores às suas ovelhas”. “As pessoas que pertencem a grupos eclesiais têm um tratamento, se forem de outros grupos, têm outro tratamento. A Igreja tem a graça e o dom de ter um Papa que tem um objetivo: que a Igreja seja Cristocêntrica. Temos que ter pastores que cuidem de todas as ovelhas”, apelou este grupo.

 

“Deus ama-te”

Para Juan Ambrosio, docente da Universidade Católica e membro do IDFC que coordenou os trabalhos do Simpósio em Torres Vedras, “é fundamental o testemunho da alegria do Evangelho”. “Que nós, cristãos, testemunhemos com alegria mas não nos deixemos enganar, porque o que a exortação apostólica está a falar não é de testemunhar com alegria, é de algo muito mais profundo. O que nós temos de anunciar a toda a gente – e este ‘toda’, é mesmo toda – é uma coisa que é alegria: Deus ama-te. Este é o anúncio mais importante, aquele que tem que ter a primazia”, salientou. Para este leigo, “o destinatário deste anúncio – ‘Deus ama-te’ – é o outro”. “Em ‘A alegria do Evangelho’, o outro, muitas vezes, não é tipificado, é simplesmente o outro. Porquê? Não se tipifica porque o outro é todo o outro”, garantiu Juan Ambrosio, concluído: “A missão que é pedida à comunidade crente é fazer o anúncio desta alegria a toda a gente. O objetivo não é simplesmente, nem sem mais, que depois esses passem a fazer parte da nossa comunidade. Se quiserem, graças a Deus!; se não quiserem, continuamos a ter a missão de lhes anunciar que Deus os ama, sem pressuposto, sem preconceito. Porque esse é que é o objetivo da missão”.

  

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As etapas da caminhada sinodal

 

Guião #1 / setembro a dezembro de 2014

‘A transformação missionária da Igreja’

 

Guião #2 / janeiro a março de 2015

‘Na crise do compromisso comunitário’

 

Guião #3 / abril a junho de 2015

‘O anúncio do Evangelho’

 

Guião #4 / setembro a dezembro de 2015

‘A dimensão social da evangelização’

 

Guião #5 / janeiro a março de 2016

‘Evangelizadores com Espírito’

  

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Oração oficial do Sínodo Diocesano 2016

 

Maria, Mãe da Igreja

ajudai-nos a dizer o nosso «sim».

Dai-nos a audácia de buscar novos caminhos

para que chegue a todos

o dom da beleza que não se apaga.

 

Virgem da escuta e da contemplação,

intercedei pela nossa Igreja de Lisboa,

em caminho sinodal,

para que nunca se feche nem se detenha

na sua paixão por instaurar o Reino.

 

Estrela da nova evangelização,

ajudai-nos a resplandecer

com o testemunho da comunhão,

do serviço, da fé ardente e generosa,

da justiça e do amor aos pobres,

para que a alegria do Evangelho

chegue até aos confins da terra

e nenhuma periferia fique privada da sua luz.

 

Mãe do Evangelho vivo,

manancial de alegria para os pequeninos,

rogai por nós.

Ámen.

  

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Guião #3: ‘O anúncio do Evangelho’

O Guião #3 da caminhada sinodal, com o tema ‘O anúncio do Evangelho’ e que corresponde ao período entre abril e junho de 2015, vai estar brevemente disponível na Livraria Nova Terra, no Patriarcado de Lisboa. Esta terceira proposta de reflexão visando o Sínodo Diocesano 2016 vai incluir um link para conteúdos específicos, preparados pelo Serviço da Juventude da diocese, dirigidos aos grupos de jovens.

O guião de leitura, bem como outros materiais de apoio, em suporte papel, estão à venda na Livraria Nova Terra, no Patriarcado de Lisboa, e podem também ser descarregados gratuitamente, em suporte digital, no site oficial do Sínodo Diocesano 2016 (http://sinodo2016.patriarcado-lisboa.pt). 

 

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Respostas ao Guião #2

O formulário online para envio das respostas ao Guião de Leitura #2 (janeiro a março de 2015), com o tema ‘Na crise do compromisso comunitário’, encontra-se disponível no site oficial do Sínodo Diocesano 2016, em http://sinodo2016.patriarcado-lisboa.pt. Recorde-se que a Comissão Preparatória para o Sínodo Diocesano vai reunir toda a informação enviada pelos grupos sinodais, após cada uma das cinco etapas, e preparar o documento de trabalho – ‘Instrumentum laboris’ – que vai ser apresentado na Assembleia do Sínodo Diocesano, que se realiza em novembro de 2016, quando se cumprirem três séculos da qualificação patriarcal de Lisboa.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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